Brasília - Vítima de uma campanha da imprensa, que "personalizou a crise" institucional do Senado, e comandante de um processo de reformas administrativas que já somam 40 medidas. Essa foi a síntese da "prestação de contas" divulgada ontem pelo presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP), em um discurso de encerramento do semestre legislativo. No plenário, exatos seis senadores Geraldo Mesquita (PMDB-AC), Alvaro Dias (PSDB-PR), Mão Santa (PMDB-PI), Roberto Cavalcanti (PRB-PB), Cristovam Buarque (PDT-DF) e João Pedro (PT-AM). Citando o filósofo e estoico Lúcio Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), Sarney encerrou o discurso dizendo que "as grandes injustiças só podem ser combatidas com o silêncio, a paciência e o tempo".
Em um semestre de "intenso trabalho legislativo", de "correções administrativas e de avanços nos objetivos de racionalização e modernização", Sarney destacou que "o jornal O Estado de S.Paulo iniciou uma campanha pessoal contra mim, obrigando os outros jornais e televisão a repercuti-la". Enfatizando que a constatação não carregava "nenhum sentimento menor", o senador disse que viu "as disputas políticas" transformarem "a reforma administrativa numa pretensa crise de desmoralização do Senado, inviabilizando a discussão dos grandes temas de nosso momento político".
Apesar da crise institucional, o presidente citou uma longa lista de 40 medidas que contribuem para "o saneamento dos graves problemas de natureza ética e legal". Na avaliação do senador, tudo foi revelado "quando começamos a examinar as condições prevalecentes de funcionamento (do Senado)". Dos 40 tópicos citados, 32 deles são decorrentes de denúncias da imprensa e dos servidores, da Operação Mão de Obra, da Polícia Federal, deflagrada em 26 de junho de 2006, e até da repercussão geral provocada pelos escândalos da Câmara, das farras das passagens e das verbas indenizatórias.
Exemplos das providências a reboque da PF, da mídia, das denúncias dos próprios funcionários, das disputas políticas e do ricochete da Câmara no Senado são as medidas para controlar o pagamento de horas extras, o controle dos gastos com telefones celulares, a revisão dos contratos de serviços com empresas terceirizadas, as novas normas de uso de verbas indenizatórias, o corte na criação de comissões fictícias só para embolsar adicionais de salário, a extinção de algumas das 181 diretorias, o enterro dos 663 atos secretos, o controle do nepotismo, as sindicâncias do Tribunal de Contas da União (TCU) e os inquéritos abertos no Ministério Público e na Polícia Federal.
Convocação
Sarney lamentou ter perdido o apoio do DEM, que havia apoiado sua candidatura à presidência do Senado, e também do PSDB. Disse que assumiu o terceiro mandato à frente da Casa por convocação de "quase todos os partidos". Em nenhum momento o senador falou do nepotismo envolvendo a sua família e todo o clã político aliado, de Epitácio Cafeteira (PTB-MA) a Édison Lobão (PMDB-MA), hoje no Ministério das Minas e Energia, passando pelo gabinete da filha, Roseana Sarney (PMDB-MA). Omitiu igualmente a farra dos atos secretos, que proliferaram nas duas gestões anteriores (1995-1997 e 2003-2005) essas duas gestões são também responsáveis por 70% dos 2.800 comissionados da Casa.