O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já recebeu diversos recados de que José Sarney, um de seus principais aliados, pode renunciar ao comando do Senado por pressão das denúncias e da família.
A saída de Sarney (PMDB-AP), no entanto, passa por uma negociação difícil sobre quem será seu substituto. O governo, interessado em manter a instituição sob o controle de um senador de sua confiança, começou a buscar nomes e quer contar com o apoio do próprio Sarney.
"Não basta o presidente sair para sanar a crise do Senado, mas também não é possível resolver a crise com ele na presidência", disse à Reuters o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), constante defensor da saída de Sarney da presidência.
Uma crise de governabilidade geraria dificuldades à aprovação de projetos, caso do esperado marco regulatório da camada pré-sal de petróleo.
"O que nós torcemos é que este momento passe, que as coisas sejam esclarecidas para que possamos trabalhar. Isso é o que nós desejamos", disse o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) nesta segunda-feira após a reunião de coordenação de governo.
Há ainda outras duas preocupações envolvidas: garantir o fundamental apoio do PMDB na CPI da Petrobras e construir uma parceria estratégica com o partido em torno da pré-candidata petista Dilma Rousseff. As relações entre PT e PMDB ficaram abaladas durante o atual escândalo.
Somente um aliado pode garantir a governabilidade que o Executivo deseja, sobretudo no Senado, onde essa maioria é frágil.
Segundo uma fonte palaciana, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, caberia dentro da fórmula considerada ideal à sucessão: é do PMDB, tem boas relações com a cúpula do partido, dialoga bem com a oposição e vai ter de se desincompatibilizar do ministério em abril para disputar as eleições no ano que vem.
"É melhor disputar uma eleição como presidente do Senado do que como ex-ministro", relatou a fonte sob condição do anonimato.
Assessores de Sarney afirmam que o ex-presidente da República está firme no cargo, mas, segundo pessoas próximas, ele vem sofrendo pressões crescentes.
Na semana passada, Roseana, filha do senador --governadora do Maranhão e ex-líder do governo no Congresso--, conversou com Lula por telefone e disse que seu pai cogita a saída. Duas fontes ligadas a Sarney e uma do Executivo confirmaram a conversa.
Sarney é acusado de envolvimento em irregularidades na administração do Senado; de empregar pessoas ligadas à família por meio de ato secreto e de desviar recursos da Petrobras por meio da Fundação José Sarney.
"A partir desta semana é que teremos os desdobramentos, às vezes que conversei com o presidente Sarney achei que ele estava com a decisão de enfrentar", afirmou Múcio.
Novas Eleições
Pelas regras, no caso de renúncia, novas eleições internas têm de ser convocadas no prazo de cinco dias úteis.
Já em um afastamento temporário por meio de licença assumiria o oposicionista Marconi Perillo (PSDB-GO), primeiro vice-presidente. Foi ele quem, numa manobra regimental e aproveitando a ausência de Sarney no plenário, autorizou a criação da CPI da Petrobras.
Para um aliado, o ex-presidente da República está preocupado com sua biografia e deseja uma saída honrosa. A hipótese, porém, fica mais difícil a cada dia que passa.
Se a renúncia se confirmar, um acordo para a sucessão passa pelo crivo do próprio Sarney e de um entendimento mínimo entre PMDB e PT, em lados opostos na eleição da Casa realizada em fevereiro, mas que devem se unir para evitar uma vitória da oposição.
"A tentativa de preservar o Sarney pode causar mais prejuízos do que sua saída", afirmou o senador Renato Casagrande (PSB-ES).
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