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O ex-presidente José Sarney fez neste domingo ao Fantástico um desmentido histórico após quase 20 anos. Em agosto de 1986 a imprensa anunciava a descoberta de um buraco na Serra do Cachimbo, no sul do Pará, que estaria sendo escavado para a realização de testes nucleares. Procurado para falar sobre o assunto, o presidente da República à época, José Sarney, afirmou:

- Por esta mesa, nunca passou qualquer documento deste tipo.

O então ministro-chefe do Gabinete Militar, general Rubem Bayma Denys, também negou.

Mas neste domingo, ao abrir a série de reportagens "Dossiê Brasília", sobre Segredos do poder do Fantástico, o ex-presidente José Sarney contou ao repórter Geneton Moraes Neto que mentiu para evitar problemas diplomáticos com a Argentina.

Sarney confirmou que o local, de fato, seria usado para testar "uma bomba atômica". Na época, no entanto, o Planalto afirmou que o buraco seria usado "meramente" como depósito de lixo atômico.

Sarney contou que foi informado da existência do campo de provas na Serra do Cachimbo pelo Conselho de Segurança Nacional. Segundo ele, o objetivo do programa era inserir o Brasil no clube nuclear.

- Tive uma reação de surpresa. Ao mesmo tempo, tive a preocupação de que o fato não se tornasse público, porque a notícia prejudicaria, sim, nossa aproximação com a Argentina - contou Sarney.

Sarney revelou ainda que Brasil e Argentina viviam um momento de aproximação e a existência do campo de provas revelaria que o Brasil está de fato na corrida nuclear:

- Os argentinos também participavam, mas tanto eles como o Brasil negavam - declarou o ex-presidente.

O projeto atômico era uma herança dos militares e segundo Sarney, havia um projeto para que o ex-presidente general Figueiredo tivesse anunciado isso durante seu governo.

- Eu determinei ao secretário do Conselho de Segurança que imediatamente ele lacrasse aquele buraco e ao mesmo tempo anunciasse que aquilo era destinado a recolher lixo nuclear- afirmou Sarney.

O Brasil acabou assinando um acordo com a Argentina para uso pacífico da energia nuclear. Segundo Sarney, por esse acordo de cooperação, o governo brasileiro chegou à conclusão de que a Argentina estava dez anos à frente do Brasil em termos de pesquisa nuclear.

O presidente também contou ter vivido momentos dramáticos, em setembro de 1988, quando caças da Força Aérea Brasileira se preparam para abater um Boeing com 97 passageiros que um seqüestrador queria jogar sobre o Palácio do Planalto. Depois de matar o co-piloto com um tiro, o seqüestrador ordenou que o Boeing que partira de Rondônia em direção ao Rio de Janeiro sobrevoasse Brasília, mas o ataque acabou sendo controlado.

- A área militar se preparou para se fosse o caso abater o avião. Ficou aquele momento de absoluto pânico e os seguranças pediram para que eu me retirasse do Palácio, mas eu disse, não a função do presidente é ficar aqui. E fiquei.

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