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Tentando virar a página da crise no Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), discursou por cerca de uma hora em plenário, nesta segunda-feira (24), sem fazer qualquer menção à situação da Casa.

Os temas do dia para Sarney foram os 55 anos do suicídio de Getúlio Vargas e os 100 anos do falecimento do escritor Euclides da Cunha, autor de "Os Sertões". Provocado pelo senador, Eduardo Suplicy (PT-SP), ao final do discurso, Sarney se recusou a comentar as acusações contra ele.

Usando a tribuna como senador, Sarney destacou a obra de Cunha. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), o presidente do Senado enfatizou a trajetória do escritor, incluindo a trajetória política do autor de "Os Sertões". "Os santos são comemorados pelo dia de sua morte e os grandes escritores também porque entram para a história".

Sarney destacou também o aniversário de morte de Vargas, atendendo a menção feita pelo senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). O presidente do Senado enfatizou que já estava na militância política na época na União Democrática Nacional (UDN), fazendo oposição a Vargas. De acordo com Sarney, o suicídio pegou os adversários de surpresa, deixando-os "comovidos".

Na semana passada, Sarney viu serem arquivadas todas as 11 acusações contra ele no Conselho de Ética. Desde então, não havia feito nenhum pronunciamento em plenário. Após a decisão do conselho, ele disse que o momento era de "retomar a agenda positiva", que inclui a votação de projetos em plenário, as discussões sobre as reformas eleitoral e administrativa do Senado, entre outros pontos.

Em entrevista na sexta-feira (21), o presidente do Senado disse que não pensava em deixar o cargo e que não se sentia culpado de nada. "Não posso deixar [o cargo] porque não me deram nenhuma saída que não de cumprir o meu dever até o fim," disse.

Suplicy

Em aparte no final do discurso desta segunda, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) cobrou de Sarney uma manifestação sobre as acusações e os arquivamentos.

"Senador José Sarney, a situação do Senado Federal não está tranquila, não está resolvida. As pessoas desejam um esclarecimento mais cabal, que as dúvidas sejam esclarecidas. A solução não está bem resolvida. O arquivamento das representações não significou que nós tenhamos resolvidos os problemas do Senado". Suplicy cobrou ainda que Sarney reconheça os erros.

O presidente do Senado irritou-se com a posição do senador petista. Ele destacou que sua intenção era fazer uma homenagem a Euclides da Cunha. "Acho que Vossa Excelência foi indelicado comigo, vossa excelência que é um homem tão educado. (...) Tomado por tamanha visão política Vossa Excelência deixa de respeitar as regras mais comezinhas do dia a dia da Casa". Sarney destacou já ter feito um discurso em plenário há duas semanas falando das acusações e disse que em outro momento poderia dar explicações que Suplicy desejar.

Na saída do plenário, Suplicy disse que pretendia fazer um discurso sobre a crise, mas não conseguiu esperar a saída de Sarney e preferiu falar "olho no olho". Ele adiou para terça-feira (25) o pronunciamento, mas distribuiu uma parte para a impresa. Nessa parte, Suplicy questiona a nomeação de alguns servidores ligados ao presidente do Senado, os negócios do neto de Sarney com crédito consignado e a participação de Sarney na Fundação que leva o seu nome. Outra parte do discurso, segundo o petista, será submetido à bancada em reunião nesta terça-feira.

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