Entrevista
"O principal é a capacidade de gestão"
Eduardo Sciarra, futuro secretário da Casa Civil do Paraná
O sr. tem bom trânsito em Brasília. Uma das tarefas à frente da Casa Civil será melhorar o relacionamento do Executivo paranaense com o governo federal?
Esse é um dos pontos. Mas a tarefa da Casa Civil é muito maior do que essa. Temos que fazer a gestão dos programas, a integração das secretarias, o relacionamento com a Assembleia Legislativa. Mas claro que o trânsito em Brasília pode ser importante.
Qual será a sua primeira missão no cargo de chefe da Casa Civil?
Fazer com que os secretários trabalhem de maneira integrada para garantir que o governo seja ainda melhor do que o primeiro.
No primeiro governo, segundo o ex-secretário da Casa Civil Reinhold Stephanes, as metas de gestão dos secretários foram pouco cobradas. Isso mudará?
Temos um bom quadro de secretários. Vamos garantir que as metas sejam atualizadas e cumpridas. Mas de uma maneira colaborativa.
Muitos dos secretários anunciados hoje (ontem) pelo governador Beto Richa não atuarão em sua área de formação. Isso pode ser um problema?
São todos gestores públicos experimentados. O principal é a capacidade de gestão de cada um deles.
Houve quem dissesse que o governador Beto Richa teria optado por seu nome para a Casa Civil depois de uma conversa com Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e provável ministro das Cidades. Essa conversa existiu?
Posso assegurar que não ocorreu. Eu seria contra isso.
O secretariado do segundo mandato do governador Beto Richa (PSDB) terá Eduardo Sciarra (PSD) no comando da Casa Civil. O anúncio feito ontem pelo governador revelou o resultado de uma disputa de quase dois meses entre três postulantes ao cargo político mais importante do primeiro escalão estadual. Sciarra, que é deputado federal e foi o coordenador da campanha de Richa à reeleição, teria sido escolhido, entre outros motivos, pelo bom trânsito político que tem em Brasília, o que poderá facilitar a vinda de recursos para o Paraná.
Confira quem assume cada secretaria no novo mandato de Richa
Principal conselheiro político de Richa, Deonilson Roldo, chefe de gabinete do governador acabou sendo mantido no mesmo cargo, depois de muitas especulações de que ele pudesse assumir a Casa Civil. Terceiro nome na disputa, o atual presidente da Assembleia Legislativa e recém-eleito deputado federal, Valdir Rossoni (PSDB), acabou ficando fora do governo e deve assumir o mandato em Brasília a partir de fevereiro.
A chefia da Casa Civil, normalmente já importante em função do comando das ações políticas, a partir de 2015 terá peso ainda maior em função de uma manobra financeira do governo. O Detran, anteriormente ligado à Segurança Pública, agora ficará na Casa Civil, juntamente com todas as taxas que gera para os cofres estaduais. No entanto, segundo Sciarra, a principal missão do cargo continua sendo a de fazer gestões políticas para que o governo funcione bem.
Surpresas
Embora tenha técnicos em sua formação, o primeiro escalão anunciado por Richa chama a atenção pela presença de secretários que ficam distantes de suas áreas normais de atuação. Exemplo é o novo secretário da Educação. Engenheiro elétrico de formação, Fernando Xavier passou a maior parte de sua carreira trabalhando com telefonia: foi presidente da Telepar e da Telefônica, entre outras, além de ter trabalhado com o então ministro das Comunicações Sérgio Motta, em 1995, para definir o modelo de privatização das companhias telefônicas do país, durante o governo FHC.
Mounir Chaowiche foi outra surpresa. Técnico da Caixa Econômica Federal, ele vinha ocupando as pastas de Habitação desde a passagem de Richa pela prefeitura de Curitiba. Agora, porém, foi deslocado para a presidência da Sanepar. Quem assumirá a Cohapar, por sua vez, é o deputado federal Abelardo Lupion (DEM), que nunca trabalhou com habitação, mas tem experiência na área agrícola.
De acordo com o professor de ciência política Luiz Domingos Costa, da Uninter, o "deslocamento" de alguns integrantes do secretariado pode ser explicado pelo fato de que num regime democrático, principalmente quando há muitos partidos, a intenção do governo ao escalar os titulares da pasta é garantir apoios políticos. "Claro que currículo conta, e o ideal seria ter pessoas também com formação técnica na área. Mas o mais importante é ter pessoas com currículo político forte e apoios que garantam sustentação ao Executivo", afirma.