Apesar da resistência do PT e de aliados, a maioria entre os 21 membros que vão integrar a comissão especial do impeachment no Senado está disposta a referendar o nome do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) para o posto-chave do grupo, o de relator, responsável pela elaboração do parecer sobre a admissibilidade ou não do processo de destituição da presidente da República, Dilma Rousseff (PT).
Na tarde desta segunda-feira (25), os 21 titulares já indicados na semana passada pelos blocos partidários serão formalmente eleitos pelo plenário do Senado. A escolha do presidente e do relator do grupo será feita na manhã desta terça-feira (26). O nome do senador Raimundo Lira (PMDB-PB) para a presidência do grupo já é consenso entre oposição e aliados, mas não há acordo para a relatoria.
A oposição quer Anastasia na função, mas aliados sustentam que a vaga deveria ser ocupada por alguém com melhor trânsito entre as duas tropas – ou seja, alguém que não estivesse militando nem contra e nem a favor do impeachment. Anastasia tem uma ligação próxima com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), um dos principais nomes da oposição.
Anastasia foi o sucessor de Aécio no governo de Minas Gerais, entre 2010 e 2014. Quando Aécio se candidatou à presidência da República, na disputa de 2014, foi Anastasia quem formatou o primeiro plano de governo do correligionário para a corrida ao Planalto. Já opositores ao governo Dilma alegam que Anastasia tem um perfil moderado e, formado em Direito, não teria dificuldade para produzir um relatório “técnico”.
Raimundo Lira confirmou que pretende endossar o nome de Anastasia. Aliados da presidente Dilma até podem apresentar outro nome para a relatoria, mas dificilmente conseguirão vitória. Pelos cálculos da oposição, apenas cinco dos 21 titulares do grupo são contra a admissibilidade do impeachment.
Derrota semelhante
Se confirmado o nome de Anastasia, será a primeira derrota dos aliados desde a chegada do tema no Senado, já que o tucano certamente assinará um parecer favorável ao processo de impeachment. Situação semelhante ocorreu na Câmara dos Deputados, onde o comando da comissão do impeachment – presidência e relatoria – ficou nas mãos de dois aliados do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos principais adversários da presidente Dilma.
À frente do grupo, o deputado federal Rogério Rosso (PSD-DF) conduziu os trabalhos no mesmo ritmo adotado por Cunha no plenário. Por pertencer ao PSD, partido que desembarcou da base aliada só na reta final da análise do impeachment na Casa –, Rosso tem bom trânsito nos dois grupos – contra e pró-impeachment. Mas, sua ligação com Cunha é conhecida. Nos bastidores, comenta-se que Rosso, parlamentar de primeiro mandato, teria ganho o apoio de Cunha para ser o próximo presidente da Câmara dos Deputados. Rosso votou a favor do impeachment tanto na comissão interna quanto no plenário.
Dentro da comissão do impeachment da Câmara dos Deputados, o PSDB de Aécio atuou de forma discreta, mas importante, através do deputado federal Carlos Sampaio (SP). O tucano foi lançado ao cargo de primeiro vice-presidente da comissão do impeachment, um posto criado no afogadilho, às vésperas da instalação dos trabalhos. Sempre ao lado de Rosso durante as reuniões, Sampaio é assessor jurídico do PSDB nacional e atuou como uma espécie de braço-direito do presidente do grupo.
Escolhido relator do grupo na Câmara dos Deputados, o deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO) também é aliado de Cunha. Ao longo dos debates, Arantes evitou entrar em polêmicas. Mas, após apresentar seu parecer, favorável à admissibilidade, subiu o tom contra o Planalto. Quando o texto chegou para análise do plenário da Casa, Arantes já integrava a militância pró-impeachment, fazendo uma defesa veemente do seu relatório.
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Na presidência, Raimundo Lira
Considerado um perfil “equilibrado”, Raimundo Lira (PMDB-PB) deve ser eleito presidente da comissão do impeachment no Senado nesta terça-feira (26) por unanimidade. Lira já havia dito que era a favor da admissibilidade do processo de impedimento contra a presidente Dilma. Mas o peemedebista mudou o discurso depois que foi indicado para a principal cadeira da comissão do impeachment. Agora, Lira declara que está na lista de indecisos, na tentativa de mostrar “isenção de magistrado” na condução dos trabalhos.
A escolha de um nome do PMDB é considerada natural entre os senadores, já que o partido possui a maior bancada da Casa. Na Câmara dos Deputados, o PMDB estava no auge de sua crise interna quando começou a se discutir a formação da comissão do impeachment. O líder da bancada, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), aliado da presidente Dilma, não teve força para indicar um nome, dando espaço para Rogério Rosso (PSD-DF).
Embora Lira pertença ao grupo majoritário do PMDB, que desembarcou da base do governo Dilma, petistas acreditam que o senador fará um “trabalho sério”. Economista e cotado para ser candidato a governador da Paraíba nas eleições de 2018, Lira até então se concentrava na cobrança por obras ligadas à transposição do Rio São Francisco, uma das prioridades do governo Dilma.
À imprensa, Lira confirmou que chamará a defesa da presidente Dilma para ser ouvida nesta semana. No rito até então discutido, o espaço para a defesa não estava previsto, mas Lira afirma que não pode “abrir mão” disso.
Os trabalhos da comissão do impeachment devem culminar com a votação do parecer no próximo dia 9 de maio – recomendando ou não a admissibilidade do pedido de impeachment. Independente do resultado da votação dentro do grupo, o parecer segue logo na sequência para deliberação do plenário da Casa.
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