O cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Testa, avalia que o primeiro mês de Michel Temer vai “razoavelmente bem”, apesar do pouco tempo de governo e da ausência de uma transição. O principal desafio é retomar o crescimento do país. Ao mesmo tempo, Testa acredita ser difícil que Dilma Rousseff reverta o impeachment no Senado e, se conseguir, dificilmente terá governabilidade. Confira a entrevista:
Qual é a sua avaliação do primeiro mês do governo Temer?
O Temer conseguiu montar uma equipe econômica muito boa e uma equipe política com boa capacidade de articulação. Houve alguns problemas com a saída do [ex-ministro do Planejamento Romero] Jucá e do [ex-ministro da Transparência] Fabiano Silveira [ambos foram flagrados em gravações tentando interferir na Lava Jato]. E provavelmente o Temer vai ter mais problemas com outros ministros por causa da Lava Lato. Mas eu não creio que isso vai ser um problema grande para o Temer, a não ser que ele próprio esteja envolvido – o que parece pouco provável. Mas o primeiro mês é um mês que nós temos que relevar porque não houve transição. Mesmo que ele tenha se preparado, teria dificuldades. Mas eu acho que ele está indo razoavelmente bem. Não está produzindo os resultados que todo mundo queria, até porque é muito difícil negociar com o Congresso. E aí tem uma crise muito forte que é o comando da Câmara, que pode ferir a governabilidade. E ele terá de fazer um esforço para superar isso. Mas conseguiu aprovar tudo o que precisou até agora no Congresso: a desvinculação das receitas da União e a meta fiscal. As questões mais difíceis serão discutidas mais para frente. Ele deve deixar para depois das eleições municipais, se vencer o processo de impeachment.
E qual é a tendência sobre o impeachment?
A tendência é que o impeachment seja referendado pelo Senado. Tudo caminha para que Dilma não volte. Apesar de muitos senadores ameaçarem mudar de voto, o que eles querem são cargos. Eles estão chantageando o governo. Mas já se sabe que a volta de Dilma é inviável. Se ela retornar, não terá governabilidade no Congresso. Esse é um dos pontos para quem é favorável ao Temer.
Quais sãos os principais desafios daqui para frente?
O Temer tem pouco tempo de promover a retomada da atividade econômica, para baixar a inflação, gerar empregos. Esse é um desafio grande. Mas o governo dele tem mais competência política para fazer isso do que o governo anterior.
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Leia a matéria completaA disputa por cargos pode atrapalhar a governabilidade se ele virar presidente definitivo após o impeachment?
O Temer é por natureza político. A composição de seu Ministério tem uma maioria de representantes do Congresso e ele contemplou diversas facções de vários partidos. Agora está começando a pressão pela nomeação de cargos do 2.º e 3.º escalões. Pelo que eu fiquei sabendo, a Secretaria de Governo delegou para os governadores negociarem com as bancadas nomes de consenso para indicações. Ele transferiu a disputa política para os estados. É muito inteligente isso. Mas vamos ver se resolve. Além disso, depois da vitória no impeachment, acho que ele vai fazer outra mudança na composição ministerial, para fazer ajustes. E essa configuração vai durar até as eleições municipais. Porque, depois das eleições, com um novo grupo no comando dos grandes municípios brasileiros, começa o jogo pelas eleições presidenciais e para o Congresso.
Temer tem uma avaliação ruim perante a população. Que fatores podem reverter isso?
Ele tem de enfrentar inflação, diminuir o desemprego, fazer a economia funcionar. As pessoas têm de estar com crédito, com condições de consumir. Se ele conseguir isso, seguramente terá uma aceitação boa. Ele também tem de desaparelhar o Estado. Uma das grandes diferenças em relação a Dilma é que o Temer está exigindo a indicação de quadros técnicos para as estatais. Se ele conseguir isso, será uma vitória. E um terceiro ponto é o combate à corrupção. Ele já ganhou muitos pontos ao não interferir na Lava Jato. Se ele mantiver sua palavra, vai cair nas graças da população, que já não suporta mais tanta corrupção.
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