Veterano na política brasileira, o deputado federal Reinhold Stephanes (PSD) pode servir como um canal direto com a cúpula do governo federal para o governo de Beto Richa (PSDB). Na reforma do secretariado de Richa, Stephanes foi nomeado para chefiar a Casa Civil do estado, que agora divide poderes com a recém-criada Secretaria de Governo, chefiada pelo também deputado federal Cézar Silvestri (PPS).
Formado em Economia pela Universidade Federal do Paraná, o novo chefe da Casa Civil tem um currículo invejável: já atuou outras seis vezes como deputado federal pelo Paraná; foi ministro dos governos Collor, FHC e Lula; foi secretário de Agricultura do Paraná e esteve à frente de outros projetos, como na presidência do Instituto Nacional da Previdência Social (Inamps) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de ser um dos criadores Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). "Eu tenho boas relações com basicamente toda a área federal. Muita gente já trabalhou comigo", conta. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, Stephanes falou sobre seus principais projetos e sua trajetória política.
O senhor havia afirmado que não assumiria nenhum cargo no secretariado. Por que mudou de ideia?
O que tinham me perguntado é se eu assumiria a Agricultura ou Planejamento. E eu disse que não havia hipótese porque, naquele momento, não havia nenhuma conversa em relação a qual seria meu papel no estado, o que o governador esperava de mim. E o que ele espera agora eu não conseguiria realizar nem na Agricultura nem no Planejamento. A legislação brasileira nos últimos 20 anos vem se tornando cada vez mais complexa e exigente. Entre decidir pela realização de uma obra e começar essa obra o governo pode entrar num processo de três e ou até quatro anos. Então a preocupação dele era dar mais velocidade aos projetos, programas e atividades prioritárias do governo, que seriam mais ou menos 70 ou 80. Em cada área há questões prioritárias, e o que o governador queria era alguém que tivesse experiência tanto em um nível estadual quanto em um nível federal, que conhecesse todos os aspectos de gestão e tivesse bom relacionamento com a máquina. Isso porque muitas dessas ações dependem de três ou quatro órgãos diferentes, e ainda podem ser vinculadas a ações do governo federal.
O fato de ter menos poder, com a divisão de secretarias, não o incomodou?
Eu não estou perdendo poder. Dentro do que eu me propus a fazer, estou ganhando. Todas as atividades rotineiras saem da minha alçada. Cerimonial do Palácio, por exemplo, é responsabilidade da Casa Civil, mas não é meu foco. Meu foco são os 70 projetos principais. Para isso eu preciso de capacidade de gestão, controle e coordenação. Então eu me envolvo naquilo que o governo quer e não perco tempo. Antes, 80% do que o chefe da Casa Civil fazia lhe tomava o tempo e não lhe deixava tratar de ações mais fundamentais.
Como vai funcionar a divisão dos trabalhos?
Toda a burocracia que envolve pareceres jurídicos e circulação de processos em relação a esses projetos continuarão com a Casa Civil. Todas as ações rotineiras vão para a secretaria de Governo: toda aquela administração palaciana, que vai desde o cerimonial até a residência do governador, compras, recursos humanos, e as relações políticas com a Assembleia. Claro que eu também vou manter relações com a Assembleia, mas serão relações institucionais, unicamente quando se tratar de alguma questão vinculada a esses projetos que são o meu foco.
Quais serão suas primeiras providências?
Eu começo na semana que vem. Segunda e terça-feira, terei reuniões com funcionários da Secretaria de Planejamento. Preciso ver em que situação estão o orçamento e a estratégia de governo. Na próxima semana, também me encontro com o secretário da Fazenda para ver como estão os projetos de financiamento. E também para conhecer a estrutura do que já se faz. Já temos uma sala de situação no palácio, uma coordenação dos contratos de gestão. Então eu preciso ver o que preciso fazer para focar naqueles 70 projetos e atividades, e quem são as pessoas adequadas para compor os vários grupos.
Quais são seus principais projetos?
Na área de saúde tem dois projetos que preocupam: hospitais regionais, que precisam melhorar a eficiência, e a criação de 150 unidades de saúde. Em relação aos portos, temos o porto de Pontal do Sul, que precisa ser mais rápido, e a dragagem [do Porto de Paranaguá], além das ações de médio e longo prazo de reestruturação dos portos.
Alguns empréstimos ao estado estão atualmente emperrados no Senado Federal. O senhor também pretende tomar providências quanto a isso?
Uma das minhas características é que eu tenho boas relações com basicamente toda a área federal. É natural. Afinal, fui quatro vezes ministro de Estado e muita gente trabalhou comigo. Então a gente tem o respeito, a porta aberta. Se eu precisar ligar para um ministro, para o BNDES ou para o Tesouro Nacional, vão atender. Se eu ligar para a presidente, ela vai atender. Eu tenho uma história. Eu respeito muito o [senador Roberto] Requião, trabalhei com ele [Requião barrou no Senado os empréstimos]. Comigo, ele foi um excelente governador. Eu tenho esse reconhecimento, e a recíproca é verdadeira. Esse papel eu vou exercer.
Quais são os seus planos para 2014?
Não tenho nenhum plano agora. Se eu for eficiente e como consequência eu obtiver votos, ótimo. Numa boa hipótese, eu vou ser candidato à reeleição. Fora isso, não há nenhuma hipótese de eu ser candidato a qualquer coisa que não seja deputado federal.
Como o senhor conseguiu trabalhar em governos tão distintos?
Quando eu assumo um cargo, esqueço a parte política política no sentido de projeto pessoal e passo quase a atuar como um profissional. Eu tenho que encarnar a figura de um técnico, e é o que eu vou fazer. As pessoas me perguntam como eu pude ser ministro dos governos Collor, FHC e Lula. Nenhum brasileiro conseguiu ser ministro de três governos seguidos, com ideologias tão diferentes. Quando o Collor me chamou, foi porque eu tinha sido um bom ministro da Previdência lá atrás [durante o governo Geisel]. Nessa hora eu não sou mais nem ministro de um partido nem ministro de um governo; sou um ministro da nação.
O que a sua longa trajetória política lhe ensinou de mais valoroso?
Ela me deu um grande capital de relacionamento. Eu conheço praticamente todas as pessoas que estão no poder maior. Ela também me deu muito conhecimento sobre gestão pública e, além desse conhecimento, o respeito. O Lula, quando me nomeou, sabia que eu não tinha votado nele, que eu era contra o PT. Mas ele tinha respeito pela minha história.
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