O secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, pediu nesta sexta-feira (29) exoneração do seu cargo, informou o Ministério da Fazenda por meio de nota à imprensa. O secretário-adjunto do órgão, Tarcísio Godoy, permanece interinamente na função até a nomeação de um substituto.

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Kawall, que pertencia à equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando este era presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), informou, em carta, que se desliga por razões "estritamente pessoais". Segundo ele, foi feito um acordo há alguns meses para que permanecesse no cargo somente até o final deste ano.

"É com pesar que tive que tomar esta decisão, exatamente dois anos depois que fui por você convidado para integrar a Diretoria do BNDES. Desde lá, iniciamos intenso convívio profissional, marcado pelo respeito, amizade e sinceridade. Foi neste contexto em que havia já confidenciado a você limitações de ordem familiar que provavelmente me impediriam de prosseguir nesta jornada por um período mais prolongado, o que veio a se confirmar", informou Kawall em sua carta.

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Apesar do bom relacionamento com o ministro da Fazenda, Kawall e Mantega andaram se desentendendo publicamente sobre o corte de gastos no último mês. Originário do mercado financeiro, onde ocupou por dez anos o cargo de economista-chefe do Citibank no Brasil, Kawall defendia o corte de gastos públicos como forma de abrir espaço para investimentos, e manutenção da meta de superávit primário em 4,25% do PIB. Kawall também era crítico do alto nível da carga tributária, que somou 37% do PIB em 2005.

Já o ministro Guido Mantega prega a contenção dos mesmos gastos (interrupção do seu crescimento), mas não necessariamente o seu corte. Segundo o ministro, o governo federal está estudando a elevação do projeto piloto de investimentos (PPI) de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2007, para um 0,50% do PIB nos próximos anos. Como o PPI é abatido no superávit primário, o esforço fiscal para impedir a escalada da dívida pública pode cair no futuro.

De antemão, Kawall nega, em sua carta de despedida, um suposto distanciamento com o ministro Mantega. "Sabemos que esta interpretação é infundada e inverídica, somente podendo prosperar na mente dos que (ainda que legitimamente) fazem oposição ao governo, ou daqueles que implicitamente acreditam que quem está em um cargo público não tem vida pessoal", afirmou.

Em uma metáfora com o futebol, Kawall diz ainda que deixa o "time" no momento em que ele "está ganhando". "É o que acredito. Saio com otimismo quanto ao futuro do país, que tem todas as condições de ingressar em um ciclo de crescimento sustentado com estabilidade econômica. É este o sentido das medidas econômicas que o governo ora discute, como já demonstrado no acordo plurianual de reajuste do salário mínimo, sem dúvida um passo positivo na direção do equilíbrio entre o planejamento econômico e a justiça social, respeitando os limites da responsabilidade fiscal", avaliou ele.

Kawall também reafirmou seu apoio à condução da política econômica do governo federal, em particular a política fiscal e para a dívida pública. Segundo ele, essas políticas devem contribuir para que a classificação de risco do Brasil mantenha-se em bom nível, devendo "inevitavelmente" conduzir o país, no horizonte do próximo governo, ao grau de investimento.

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