O incêndio criminoso de ônibus e carros na Estrada Grajaú-Jacarepaguá foi um fato isolado, na opinião do comando da segurança pública do estado, que não significa situação de terror na cidade. Em declarações à imprensa separadamente nesta quarta-feira, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Ubiratan Ângelo, minimizaram o episódio, que teria sido uma reação de moradores do Morro da Cotia ao assassinato de um universitário que atribuem a policiais.
No início da manhã desta quarta, moradores do morro tentaram novamente fechar a pista sentido Jacarepaguá, colocando uma das carcaças incendiadas na via, mas foram impedidos pela polícia. Cinco homens foram detidos e encaminhados para a 20ª DP (Vila Isabel). Um outro homem, supostamente baleado na mesma situação na qual William morreu, deu entrada na noite de terça no Hospital Salgado Filho, no Méier. O biscateiro Vander Jorge Pontes Ferreira, de 25 anos, foi baleado na barriga. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria municipal de Saúde, o estado de saúde de Vander é estável. O medo de novos ataques mudou rota de ônibus na auto-estrada
Betrame afirmou não acreditar que os incêndios tenham sido resposta de traficantes ao policiamento montado para os Jogos Pan-Americanos. O secretário observou também que as denúncias anônimas sobre envolvimento de policiais na morte do estudante precisam ainda de investigação e confirmação. Beltrame chegou a falar em "neurose da violência" e sugeriu que a acusação contra os policiais poderia ser uma estratégia dos traficantes:
- Não podemos arcar com as conseqüências de poucas pessoas que trabalham no anonimato e que causam toda essa neurose de violência. Temos todo o interesse e a obrigação de descobrir causas e autores do incidente. Pode ser um movimento do tráfico querendo proteger suas ações. Ainda não temos um dado concreto, não podemos, simplesmente, com acusações anônimas, atribuir isso às instituições policiais - ressaltou.
O coronel Ubiratan Ângelo negou que a cidade viva um clima de terror. Apesar de não revelar números, ele afirmou que os índices de segurança de violência estão em queda, acentuada, segundo o comandante, durante o Pan.
- Já sabemos que os carros não foram incendiados, pegaram fogo em conseqüência. Quando a polícia chegou, foi recebida a tiros, mas logo teve o controle da situação. O fato foi isolado. A quanto tempo não se fala na Grajaú-Jacarepaguá? - indagou.
O corpo do universitário William Alves Barros Barbosa, de 26 anos, morto na noite de terça no Morro da Cotia, será enterrado na quinta-feira, às 10h, no Cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá. Estudante de administração, William foi baleado quando jogava bola numa quadra de futebol construída no acesso à favela. Após o estudante ser baleado, moradores desceram o morro e incendiaram dois ônibus e quatro carros também pegaram fogo. Os moradores acusam policiais militares do crime.
O episódio ocorreu um dia após o anúncio do governador Sérgio Cabral sobre a permanência de 2.400 agentes da Força Nacional de Segurança (FNS) no Rio de Janeiro, com o fim do Pan.
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