A onda de ataques desencadeada pelo crime organizado em São Paulo traz para a disputa eleitoral um elemento indesejado pelo governo e pela oposição: a crise da segurança pública.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou fazer uma leitura política em sua primeira declaração sobre a crise, sábado, em Viena, mas de volta ao Brasil corrigiu o discurso e afirmou, na segunda-feira, que seria "mesquinho" tirar proveito eleitoral do episódio.

O ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), candidato da oposição, também foi aconselhado a evitar uma abordagem eleitoral da onda de violência, que em três dias fez mais de 90 mortos, incluindo policiais atacados por uma organização criminosa de São Paulo.

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- Ninguém vai ganhar nada tratando essa crise pelo aspecto político - advertiu, nessa terça-feira, o senador Sergio Guerra (PSDB-PE), coordenador da campanha de Alckmin.

A segurança pública aparece em quarto lugar como prioridade para os eleitores (atrás de emprego, saúde e educação) na pesquisa CNT-Sensus de abril, e em terceiro lugar na pesquisa CNI-Ibope (atrás de emprego e saúde), mas tende a subir rapidamente.

- É muito provável que aumente a importância desse tema no debate presidencial. A tendência do eleitor é não se satisfazer mais com a resposta de que este é um problema dos governos estaduais - disse o sociólogo Marcos Coimbra, diretor do instituto Vox Populi.

A primeira reação no comando das principais campanhas, no entanto, é reconhecer que os dois lados estão fragilizados diante da opinião pública.

- Se o Lula queria passar a campanha sem enfrentar esse debate, perdeu, mas se o Alckmin queria passar como campeão do combate ao crime, também perdeu - comparou um dirigente tucano.

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No Palácio do Planalto, onde auxiliares de Lula trabalharam para que ele corrigisse o primeiro discurso, a preocupação maior é que o tema da violência mobilize o chamado "sentimento conservador" contra o governo petista.

- O plebiscito pela proibição da venda de armas, em outubro, mostrou que a questão da segurança tem um potencial político importante, numa direção contrária à do governo - disse um ministro da coordenação de governo.

De todas as políticas públicas do governo federal, a de segurança é a pior avaliada nas pesquisas de opinião. A mais recente pesquisa sobre o tema, divulgada em abril pelo instituto Sensus, mostra que 79,7 por cento das pessoas acham que o problema vem se agravando, ao contrário do que ocorre com educação e combate à pobreza.

- Segurança pública é a principal lacuna deixada pelo governo federal, na percepção do eleitor menos politizado, maior até do que as questões ligadas à ética, muito expostas nos últimos meses - disse Coimbra.

Embora a segurança pública seja também o ponto fraco da administração de Alckmin no Estado de São Paulo, segundo as pesquisas, houve, na oposição, quem ensaiasse um ataque direto ao presidente.

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- Lula está querendo fazer média ao oferecer as forças federais para ajudar São Paulo. Ele está oferecendo, num momento de crise, o apoio que negou em tempos de normalidade, quando reduziu o repasse de verbas para a segurança - disse o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), que disputa a indicação para vice de Alckmin.

- Se a oposição quiser levar essa discussão para este campo, dará um tiro no pé. Está claro que é muito mais fácil responsabilizar o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin pela má gestão dos presídios, mas esse debate não é saudável, pois o problema lá é muito sério - disse o deputado Renato Casagrande (PSB-ES), aliado de Lula.

Para o diretor do Vox Populi, a crise da segurança pode ter mais impacto sobre o desempenho eleitoral do presidente do que a onda de críticas que Lula recebeu, da oposição e dos chamados formadores de opinião, por seu comportamento na crise do gás com a Bolívia.

- O problema da Bolívia não afetou diretamente a vida das pessoas, dos consumidores brasileiros, mas a questão da segurança pública está realmente ligada ao cotidiano do brasileiro comum - comparou Coimbra.

De acordo com o último levantamento disponível da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Ministério da Justiça), em 2003 foram registradas 6,7 milhões de ocorrências policiais no país, o que corresponde a uma taxa próxima de quatro ocorrências por grupo de cem habitantes. Nas capitais registrou-se um terço (2,2 milhões) dos crimes de todos os tipos.

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- A recuperação do presidente Lula nas pesquisas eleitorais, desde o fim do ano passado, acompanha a percepção, por parte da maioria dos eleitores, de que as coisas vão melhorando em vários setores, mas em relação à segurança elas só vão piorando - concluiu Coimbra.