Eduardo Cunha: seis perguntas que precisam ser respondidas pelo presidente da Câmara Federal.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Pressionado por denúncias de corrupção, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), tem pressa em iniciar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Desde que o Ministério Público da Suíça confirmou oficialmente que ele tem contas secretas naquele país, o impeachment de Dilma é a saída mais conveniente para Cunha despistar seus opositores e se manter na presidência da Câmara. Ainda não se sabe se nesta terça-feira (13) ele irá se manifestar sobre o pedido de impeachment feito pelo advogado Hélio Bicudo e pelo jurista Miguel Reale Jr.

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Cunha tem adotado com desenvoltura o discurso moralista anticorrupção, mas ainda não esclareceu questionamentos sobre sua conduta pública desde que assumiu a presidência da empresa telefônica do Rio (Telerj), nos anos 90, por indicação de Paulo César Farias, eminência parda do governo Fernando Collor, cuja conduta ajudou a derrubar o governo que apoiava e levou ao poder. Rápido para se escalar como “capitão” do time que joga pelo impeachment de Dilma Rousseff, Eduardo Cunha deve respostas às seguintes perguntas.

Vai acatar o pedido de impeachment da presidente Dilma feito pelo advogado Hélio Bicudo e pelo jurista Miguel Reale Jr.?

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Eduardo Cunha já declarou que tende a rejeitar o pedido. Aliados dele afirmam que essa recusa seria parte de uma estratégia mais ampla para colocar o processo de impeachment em andamento na Câmara dos Deputados. Após a recusa de Cunha, ele receberia um pedido de reconsideração a ser analisado pelo plenário, onde precisaria de maioria simples (metade dos presentes mais um) para ser aprovado. Em caso de aprovação, seria iniciada uma investigação com prazo de 90 dias, período em que a Dilma seria afastada da presidência. Após essa investigação, o plenário do Congresso decidiria se afasta definitivamente Dilma, o que precisaria ser aprovado por dois terços dos parlamentares.

Tem contas secretas na Suíça?

No depoimento que prestou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, o presidente da Câmara garantiu aos parlamentares que não tem contas bancárias no exterior. Depois que o Ministério Público da Suíça confirmou oficialmente à Procuradoria Geral da República que ele tem contas no banco Julius Bauer, Eduardo Cunha tem se recusado a responder questionamentos dos repórteres sobre se é ou não o titular das contas indicadas pelo banco. O presidente da Câmara tem se limitado a afirmar que reitera o que foi dito no depoimento feito na CPI.

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É dono de empresas offshore que movimentaram essas contas?

Documentos do Ministério Público da Suíça revelam que pelo menos três empresas offshore fizeram depósitos nas contas atribuídas a Eduardo Cunha a à esposa dele: Triumph SP, Orion SP e Netherton. Quatro contas registraram depósitos de R$ 31,2 milhões e saídas de R$ 15,8 milhões em dólares, francos suíços e euros. O MP suíço constatou depósito de 1,3 milhão de francos suíços na conta da Orion SP, feito por outra empresa off-shore, do empresário João Augusto Henriques, três meses depois que a Petrobras fechou negócio de aluguel de sondas para explorar petróleo na costa da África. Contas bancárias offshore são abertas em paraísos fiscais, geralmente com o intuito de pagar-se menos impostos e omitir patrimônio.

Se as contas não são de Cunha, de quem são os milhões que estão depositados em seu nome e de sua esposa?

O Ministério Público bloqueou uma das contas que supostamente são de Eduardo Cunha, com 146,3 mil francos suíços em 17 de abril deste ano, um mês depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) abrir inquérito para investigar suspeitas de participação dele nos esquemas de corrupção na Petrobras. O MP da Suíça chegou a detalhar que um dos cartões de crédito em nome da esposa de Cunha, a jornalista Claudia Cruz, foi usado para pagar aulas de tênis na prestigiada academia de Nick Bollettieri, que fica na Flórida (EUA). No total, teriam passado por essas contas mais de R$ 30 milhões.

Pretende usar o impeachment como cortina de fumaça para as denúncias de corrupção que pesam contra ele?

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O colunista político Ricardo Noblat publicou na segunda-feira (12) e os principais veículos de comunicação repercutiram a informação de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai denunciar Eduardo Cunha ao Supremo Tribunal Federal e pedir a prisão preventiva dele. Com a possibilidade de ser afastado do cargo, Cunha pode acelerar o processo de impeachment da presidente Dilma numa tentativa de permanecer na presidência da Câmara dos Deputados. Ele já declarou que não vai se afastar temporariamente nem renunciar. Segundo Noblat, a oposição, com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) à frente, mantém sua aliança com Cunha para concretizar o propósito de derrubar Dilma.

Pagou propina a políticos do PSDB quando era presidente da Telerj nos anos 90?

O presidente da Câmara dos Deputados insinuou que teria segredos a revelar sobre sua relação com políticos do PSDB quando presidia a Telerj. Semana passada, respondendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que afirmou em seu livro mais recente ter recusado indicação de parlamentares para que Cunha ocupasse cargo na diretoria da Petrobras, o presidente da Câmara deixou claro que não digeriu bem a afirmação de FHC. O ex-presidente afirmou que negou o pedido porque o parlamentar “tinha trapalhadas”. “Fernando Henrique não precisa de escada em mim para poder promover o livro dele. Mas eu, por questão de educação, não vou remeter a fatos pretéritos da época em que eu estava na Telerj”.