Entrevista
"Esperamos os empréstimos para normalizar o caixa"
Jozélia Nogueira, secretária estadual da Fazenda
O estado enfrenta problemas de caixa, com falta de pagamento a fornecedores. Qual a gravidade do problema?
Não é tão sério assim como está sendo colocado. Todo o ano, no final do exercício, acontece isso. E agora vivemos um ano atípico. Estávamos esperando que os empréstimos saíssem e, durante esse período, eles não saíram. Tivemos de tocar obras e investimentos com o dinheiro que tínhamos. Como atrasou demais a saída dos empréstimos, estamos devendo. Tiramos o dinheiro do custeio para investir. Agora os empréstimos vão virar reembolso. Estamos segurando um pouco o caixa também por conta do 13.º salário.
Houve uma análise dos contratos com os fornecedores?
Paramos para fazer essa análise. Como nós assumimos com tudo isso acontecendo, com os investimentos sendo realizados e os empréstimos que não saíram, tínhamos de ver o que estava acontecendo para levar esses números para o governador. Terminamos o estudo nesta semana. O Paraná não tinha recursos disponíveis para tantos investimentos como fez e, se os empréstimos tivessem saído antes, isso estaria estaria equacionado. Precisamos do dinheiro dos empréstimos para garantir um equilíbrio nas contas. Isso vai ocorrer porque temos arrecadado bem, temos ações para cobrar IPVA e ICMS.
Antes de a senhora assumir a secretaria, não existia esse diagnóstico?
Existia, mas era algo diferente do que fizemos. Fizemos algo mais aprofundado. Todo mundo esperava que autorizassem os empréstimos e isso nos causou problemas.
Os recursos dos empréstimos vão dar a folga que o governo espera?
Tiramos dinheiro do custeio para investir. Agora esperamos os empréstimos para normalizar isso. Hoje [ontem] estive aqui na Secretaria de Tesouro Nacional [em Brasília] e os empréstimos estão caminhando rapidamente.
Pressionado pelo pagamento do 13.º salário do funcionalismo R$ 1,2 bilhão, valor 12% superior ao de 2012 e pelo atraso na liberação de empréstimos que garantiriam até R$ 3,5 bilhões para o caixa estadual, o governo do Paraná deixou de pagar regularmente fornecedores para fazer um pente-fino nos contratos de obras e serviços. Isso levou à interrupção de uma série de atividades públicas.
Apesar da paralisação, a secretária estadual da Fazenda, Jozélia Nogueira, assegurou o pagamento do 13.º. Segundo ela, o pente-fino foi necessário para garantir o salário extra. "O pagamento está garantido. Até para isso que estamos pisando no freio", disse a secretária.
Regularização
Os atrasos nos pagamentos a fornecedores chegaram a deixar viaturas da Polícia Militar sem combustível e unidades da PM sem telefone. Em nota divulgada ontem, o governo diz ter regularizado as dívidas com os fornecedores de combustível e telefonia. Um cronograma de pagamento de outros fornecedores também já teria sido estabelecido.
Medidas pontuais de redução de gastos têm sido adotadas desde o início do governo Beto Richa (PSDB). Nos últimos meses, porém, a situação ficou mais delicada. Com a concessão de reajuste para várias categorias de servidores, o Paraná fechou o segundo quadrimestre gastando 48,69% da receita corrente líquida com pagamento de pessoal valor próximo ao limite de 49% que, quando atingido, impede o estado de receber dinheiro de convênios com a União.
Pressionado, o Palácio Iguaçu cortou gastos, extinguiu cargos comissionados, e tem buscado ampliar as fontes de financiamento, enquanto aguarda o fim da novela dos empréstimos em Brasília. Até o uso de dinheiro sob guarda do Judiciário os chamados depósitos judiciais entrou no bolo para turbinar a arrecadação do governo.
Troca de comando
Em outubro, o governador mudou o comando da Secretaria da Fazenda para tentar garantir mais agilidade na pasta. O ex-secretário Luiz Carlos Hauly (PSDB) voltou para a Câmara Federal e Jozélia, servidora de carreira, assumiu a pasta.
Ela determinou uma análise minuciosa dos contratos em andamento em cada secretaria. O pente-fino serviu para mostrar a realidade do caixa do Executivo ao governador Beto Richa. Ao mesmo tempo, porém, teria atrasado o pagamento de fornecedores e desagradado setores do governo.
"A posição adotada pela nova secretária [Jozélia] é a seguinte: primeiro quero levantar todos os dados, todas as informações e, enquanto isso, não haverá pagamento. Foi a estratégia que ela adotou", disse o secretário-chefe da Casa Civil, Reinhold Stephanes. Segundo ele, pode ter havido "excesso de rigor" na análise dos contratos. "Acabou segurando coisas, o que gerou um estresse. Mas acho que, dentro de 15 a 20 dias, a situação estará normalizada."
Problemas
Confira algumas consequências da falta de dinheiro do governo paranaense:
PM sem telefone e gasolina
Linhas de telefone fixo da PM e da Secretaria da Segurança foram cortadas, em Curitiba, por falta de pagamento. A situação prejudica o atendimento de ocorrências policiais. A secretaria afirma que a situação foi normalizada ontem. No começo do mês, viaturas que atendem Curitiba e região deixaram de circular por falta de combustível. O conserto de carros da polícia quebrados também não está sendo feito na capital porque as oficinas credenciadas não estão sendo pagas.
Agentes sem bolsa
Candidatos a agentes penitenciários do Paraná não receberam a bolsa-auxílio de R$ 1 mil, que deveria ser paga pelo governo do estado durante o curso. Candidatos ao cargo de auditor fiscal também relataram o mesmo problema
Presos sem comida
A falta de pagamento por parte do governo ameaça a alimentação de 18 mil detentos no Paraná. Ao todo, seis empresas fornecem a comida. Algumas delas estão sem receber desde agosto e outras desde setembro.
Obras atrasadas
Obras públicas estão sendo paralisadas ou tocadas em ritmo mais lento. Em Maringá, construtoras de 13 obras alegam que o repasse do dinheiro pelo governo estadual está atrasado desde a metade do ano. Entre os trabalhos afetados está a construção da nova unidade do Instituto Médico Legal (IML) e as obras de duplicação da PR-323, entre Maringá e Paiçandu. Também está atrasada a construção do futuro centro cirúrgico do Hospital Universitário de Maringá.
Locatário problema
O governo enfrenta problemas no pagamento de aluguel de diversos imóveis. Uma das sedes do Instituto de Identificação em Ponta Grossa foi desativada porque o proprietário, que não recebia o aluguel, moveu uma ação de despejo contra o estado. Donos de imóveis que servem de sede para a Polícia Civil, em Curitiba, também sofreram com o mesmo problema.
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