Depois que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deixou o plenário nesta segunda-feira (3) alguns senadores voltaram a pedir que ele se afaste do cargo. Sarney presidiu a sessão por mais de uma hora, na volta da atividades do Congresso após o fim do recesso parlamentar. Durante o período em que presidiu a sessão, Sarney não passou por constrangimento provocado por outros senadores.
No plenário, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) fez o seu anunciado discurso pedindo novamente a renúncia de Sarney da presidência da Casa. Ele citou o clima de tranquilidade que pairava na sessão até então. Simon chegou a bater boca com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos principais defensores de Sarney.
"Vejo até agora uma grande concórdia, as pessoas falando sobre flores como se as coisas fossem normais. Estamos vivendo momento de muita tensão".
O senador gaúcho lembrou ex-presidentes da Casa que renunciaram, Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho (PMDB-PA) e Renan Calheiros (PMDB-AL), e afirmou que a Casa não soube aproveitar a oportunidade de melhorar seu funcionamento.
Simon afirmou que a renúncia de Sarney, diferente destes, seria boa para sua biografia porque serviria para mudar a Casa. "O presidente Sarney deveria entender que a renúncia dele na Presidência é um grande ato."
"Ele (Sarney) fica dizendo: Eu fico'. Isso não é um ato de grandeza. Ele não vai fazer reforma nenhuma, nem que ele queira. O ambiente não é para isso", disse Simon.
Os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Álvaro Dias (PSDB-PR) também fizeram pronunciamentos defendendo a saída de Sarney da presidência da Casa. Virgílio disse que irá cumprir com seu "papel" até o final e se disse surpreso com o tom "beligerante" de Calheiros. Virgílio é o autor de seis denúncias no Conselho de Ética contra Sarney.
Dias, por sua vez, classificou a situação da Casa como "dramática" e disse que a permanência de Sarney no cargo e sua absolvição total seriam uma "vergonha". Para Dias, os pronunciamentos contra Sarney fazem "ecoar a indignação nacional".
Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) também se solidarizou com Simon e defendeu o afastamento de Sarney. Afirmou ainda que a presidência da Casa deveria analisar a postura de Collor devido a sua postura em direção a Simon.
No início da sessão, o senador Flávio Arns (PT-PR) reafirmou ser posição do PT que o presidente do Senado deve se afastar do comando da Casa. "O PT continua com uma posição pelo afastamento do presidente Sarney para que haja transparência e clareza na investigação e outras medidas necessárias para a construção de um novo Senado."
O posicionamento de Arns foi em resposta ao ministro José Múcio (Relações Institucionais), que disse na semana passada que o afastamento era posição de um ou dois senadores do partido. Eduardo Suplicy (PT-SP) fez questão de corroborar o discurso de Arns, de que o pedido de afastamento é partidário.
Crise
A situação de Sarney, porém, foi agravada durante o recesso de julho pela divulgação de uma sequência de diálogos gravados pela Polícia Federal (PF) com autorização judicial que revelaram uma conversa de seu filho Fernando com sua neta, em que ela pedia uma vaga no Senado para o namorado.
Na sexta-feira (31) uma decisão judicial proibiu o jornal "O Estado de S. Paulo" de publicar reportagens com dados sigilosos da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga Fernando e que deu origem às gravações telefônicas.
Mais cedo, Sarney disse que não foi consultado sobre a decisão dos advogados de seu filho de entrar na Justiça com o pedido de proibir o jornal de realizar as reportagens. "Não fui consultado sobre essa iniciativa, de exclusiva responsabilidade dele e de seus advogados, e por isso é uma distorção de má-fé querer me responsabilizar pelo fato", diz.
Nesta segunda, o presidente da Casa negou receber pressão de Fernando para que deixe o cargo.
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