• Carregando...
"O PSDB tem de lidar com esse eleitor moderno da classe média, porque o discurso assistencialista já está consolidado nas mãos do PT." Mário Sérgio Lepre, professor de Ciência Política da PUCPR |
"O PSDB tem de lidar com esse eleitor moderno da classe média, porque o discurso assistencialista já está consolidado nas mãos do PT." Mário Sérgio Lepre, professor de Ciência Política da PUCPR| Foto:

Claramente rachado internamente, sem um discurso sólido e sem um projeto alternativo de país capaz de atrair o eleitorado. A situação em que o PSDB nacional chega à sua convenção nacional hoje é desanimadora e preocupante, na visão de especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Para eles, os tucanos precisam deixar de se enfrentar como se fossem adversários e definir de maneira clara seu território de atuação. Eleitores para esse reerguimento do partido não são o maior problema, afirmam. Afinal, quase 44 milhões de pessoas votaram no tucano José Serra, e não em Dilma Rousseff (PT), no segundo turno da eleição do ano passado.

Na avaliação do cientista político Antônio Octávio Cintra, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o maior erro do PSDB desde que se tornou oposição foi esconder os feitos da gestão de Fernando Henrique Cardoso à frente da Presidência da República, entre 1995 e 2002. Ele afirma que, ao ignorar medidas importantes tomadas por FHC, a legenda esqueceu com o que concordava e com o que discordava em relação ao governo petista.

"É impressionante que até hoje o partido foi incapaz, por exemplo, de mostrar o que significou a privatização da [mineradora] Vale em termos de aumento de empregos e tributos e do próprio tamanho da empresa", afirma ele. "Quando houve uma proposta de plebiscito pela reestatização da companhia, em 2007, um deputado petista, José Guimarães (CE), disse em seu relatório que a Vale era algo intocável. Mas do PSDB não se ouviu isso."

O cientista político Mário Sérgio Lepre, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) faz a mesma análise. Para ele, a falta de homogeneidade do PSDB faz com que as disputas internas prevaleçam sobre a articulação para o partido se colocar como uma proposta alternativa ao PT. "Qual o discurso do PSDB, onde ele está inserido? O debate hoje é para dizer quem é o cacique do partido, e não para estabelecer uma proposta de país", critica. "Com exceção de alguns, os tucanos não sabem fazer oposição. Tanto que as principais dificuldades do governo federal surgem de dentro da base aliada, que, de tão grande, é difícil de administrar."

Saída

Lepre ressalta que o resultado da última eleição presidencial mostra que há sim uma parcela significativa do eleitorado que discorda do modelo de país implantado pelo PT. Segundo ele, trata-se de uma classe média que é contra o inchaço e a burocracia do Estado e não suporta mais pagar tantos impostos. "Estranha­­­mente, o PSDB não consegue representar esse eleitor que votou nele, não consegue atuar para esse eleitor insatisfeito", argumenta. "O papel da oposição é captar essa identidade que existe, mas que, até agora, só o FHC captou. Conforme ele escreveu em um recente artigo, o PSDB tem de lidar com esse eleitor moderno da classe média, porque o discurso assistencialista já está consolidado nas mãos do PT."

"As últimas campanhas presidenciais do PSDB foram pífias, de dar vergonha pela falta de convicção. Hoje, o partido se mostra confuso, sem argumentos", completa Cintra. "O PSDB precisa fazer um reexame profundo e passar a mostrar o que defende e quais são suas diferenças em relação ao PT. Mantendo-se no caminho atual, uma vitória em 2014 é praticamente impossível."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]