Mensalão não será desmembrado e Toffoli participará do julgamento
STF decide julgar todos os 38 réus, mesmo aqueles sem foro privilegiado. E o procurador-geral da República não pede a suspeição do ministro que advogou para o PT
Lula diz que tem "mais coisas para fazer"
Folhapress
"Tenho mais coisas para fazer, quem tem de assistir são os advogados." Foi essa a resposta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado na tarde de ontem se iria assistir à sessão de início do julgamento do mensalão, maior escandalo do seu governo e que levou a queda de parte do comando do PT em 2005.
Ontem, o ex-presidente foi homenageado em um evento de entidades ligadas à produção de biodiosel. Após sair do evento, Lula afirmou aos repórteres que não iria acompanhar o julgamento porque "tem trabalho a fazer".
O ex-presidente chegou bem-humorado ao evento e disse que sabia que esperavam que ele chegasse careca e abatido, pois é o que esperam de um paciente com câncer. "Por isso que eu vim bonito", brincou o ex-presidente, que encerrou um tratamento contra um câncer na laringe.
Oposição acusa Maia de censurar mensalão na Câmara
Das agências
A edição de ontem do Jornal da Câmara omitiu o julgamento do mensalão despertando críticas da oposição, que acusa o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), de censura. Na edição de quinta-feira, o jornal ignorou os pronunciamentos de líderes e deputados na sessão do plenário da véspera.
O fato gerou troca de acusações entre Marco Maia e integrantes da oposição. O presidente do PPS e deputado, Roberto Freire (SP), acusou o petista de ser o responsável pela "censura". Maia se defendeu alegando que a ausência das matérias sobre o mensalão ocorreu devido a uma escolha editorial da Secretaria de Comunicação da Casa. Em julho, Maia havia afirmado que não iria permitir no plenário faixas ou outras formas de manifestação a favor ou contra a condenação dos réus. Ele argumenta que o processo não pode ser "contaminado" pelo debate político.
Doutor, o José Dirceu vem para o julgamento?
Não.
Nenhum dia?
Não há motivo para isso.
O diálogo acima ocorreu quando o advogado José Luiz de Oliveira Lima estava a três passos da entrada do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de já esperada, a declaração do defensor do ex-ministro da Casa Civil frustrou o batalhão de jornalistas que acompanhou o primeiro dia do julgamento do mensalão. E não foi só a dele os advogados dos principais réus também anteciparam que nenhum cliente vai comparecer.
Com isso, os holofotes sobraram para os próprios "doutores". Quase todos os principais criminalistas do país estão envolvidos no caso. Personagens reverenciados nos corredores de Brasília, eles são muitas vezes mais famosos que os próprios clientes.
A estrela da primeira sessão foi Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça que instalou a primeira polêmica entre os ministros. Partiu dele a questão de ordem que pediu o desmembramento do caso e atrasou o cronograma inicial de julgamento.
Bastos é advogado do ex-diretor do Banco Rural, José Roberto Salgado, um dos citados no "núcleo financeiro" do mensalão. Até a segunda-feira passada, também era defensor do bicheiro Carlinhos Cachoeira. A "junção" de clientes polêmicos fez com que o advogado fosse disputado palmo a palmo pelos jornalistas. Em uma pausa fora do plenário, quando o pedido de desmembramento já havia sido derrubado, disse que a derrota já era prevista. Mas ressaltou que o calendário estipulado pelo STF "dificilmente" seria cumprido.
Thomaz Bastos permaneceu a maior parte do julgamento ao lado dos colegas na área reservada para os defensores. Destacava-se pela beca sob medida, com bordados nas mangas. Na mesma área estava outro velho conhecido da imprensa Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que fez a defesa do ex-senador Demóstenes Torres, cassado no mês passado devido à sua ligação com Cachoeira.
Kakay é o advogado do publicitário Duda Mendonça, um dos cabeças da campanha que elegeu Lula pela primeira vez, em 2002. Na primeira sessão do mensalão, o advogado chegou a ficar lado a lado com Thomaz Bastos em uma cena curiosa. Ambos devem falar de novo quando começar a defesa dos clientes etapa considerada como a "maratona" do julgamento e que deve levar ao todo 38 horas (uma para cada réu).
Ontem, no entanto, o recordista de declarações pelo menos em entrevistas foi Arnaldo Malheiros Filho. Advogado do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ele disse que o cliente "sempre admitiu" que deu dinheiro a políticos. "Mas foi dinheiro para campanha, não para comprar apoio no Congresso", afirmou.
A tese de que os recursos eram apenas "caixa dois" e não para corrupção é central para o futuro do julgamento. Há também a hipótese de que Delúbio possa acabar levando sozinho a culpa pelo caso, o que beneficiaria os outros dois principais acusados do "núcleo político" do suposto esquema, José Dirceu e o ex-presidente do PT, José Genoíno. Apesar da gravidade, Malheiros disse que o ex-tesoureiro está "tranquilo". "Ele até faz piada sobre o julgamento", contou. A propósito, Delúbio também não tem qualquer plano de aparecer no STF.
Sem Power Point
Outro defensor que se destacou no primeiro dia do julgamento foi Alberto Toron. Ele tentou pedir que o STF revisse a decisão de não permitir que os advogados usassem elementos audiovisuais o popular Power Point na defesa dos réus. Mas o presidente do Supremo, Ayres Britto, impediu que Toron interrompesse o julgamento para defender o uso do Power Point.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”