Delações-bomba. Volta do ministro-bomba para o Planalto. Guerra dentro do PMDB. Uma das principais reformas ameaçada. E, para fechar, greve em diversos serviços públicos. O presidente Michel Temer vai enfrentar sua “semana de cão”. Talvez a pior de seu mandato de dez meses. Será uma semana que testará o governo, que vai buscar se equilibrar entre a opinião pública e o mundo político. E que, por isso, tem potencial para definir o rumo da gestão Temer daqui para frente.
A semana começa sob a sombra do envio para o Supremo Tribunal Federal (STF) do novo “listão do Janot” – relação de políticos com foro privilegiado citados nas delações da Odebrecht que a Procuradoria-Geral da República (PGR) quer autorização para investigar no âmbito da Operação Lava Jato. Temer não vai estar na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A Constituição determina que presidentes só podem ser investigados por atos relativos ao seu mandato. E as citações a Temer nas delações dos executivos e ex-executivos da Odebrecht são de 2014, anteriores portanto à atual administração federal.
Fim do mundo
Apesar disso, a chamada “delação do fim do mundo” vai provocar um terremoto no Congresso e no Planalto, reabrindo a crise política. Especula-se que Janot vai pedir a abertura de algo entre 30 a 80 inquéritos contra até 200 políticos citados na colaboração premiada da empreiteira. Devem estar na lista ministros, deputados, senadores, governadores e ex-governadores.
O governo Temer pode ser severamente abalado. Pelo menos sete ministros foram citados nas delações: Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), Leonardo Picciani (Esporte), Bruno Araújo (Cidades) e Marcos Pereira (Indústria, Comércio Exterior e Serviços).
Temer já procurou proteger o governo da pressão para demitir ministros citados – o que provocaria a necessidade de promover uma reforma ministerial, com a consequente necessidade de administrar a disputa de poder pelas vagas abertas. Em janeiro, o presidente disse que não vai afastar quem aparecer nas delações. Isso só vai ocorrer quando a PGR denunciar o ministro ao STF – que só ocorre após a conclusão dos inquéritos (que ainda nem estão abertos). E, finalmente, a demissão definitiva só viria quando e se o Supremo acatar a denúncia da Procuradoria e transformá-lo em réu.
Volta de Padilha
Em tese, a regra de Temer preserva o governo. Mas tudo vai depender da reação da opinião pública. O presidente já voltou atrás em várias ocasiões após sentir que poderia inflamar as multidões e reaquecer o movimento “Fora, Temer”.
O primeiro teste é a volta do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ao Planalto nesta segunda-feira (13). Padilha estava afastado da Esplanada desde o fim de fevereiro após fazer uma cirurgia de próstata.
Enquanto o ministro esteve licenciado, o advogado José Yunes, amigo e ex-assessor de Temer, acusou Padilha de tê-lo usado como “mula involuntária” para receber um pacote suspeito do doleiro Lúcio Funaro – apontado pela Lava Jato como operador do PMDB e do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A suspeita é que o pacote conteria dinheiro da Odebrecht destinado à campanha eleitoral de candidatos do PMDB em 2014 – pagamento acertado num jantar no Palácio do Jaburu no qual Padilha e o próprio Temer estavam presentes.
Efeitos no Congresso
O listão do Janot e as delações da Odebrecht também prometem dar dor de cabeça a Temer no Congresso, num momento em que o presidente quer pressa para aprovar suas reformas. Alguns dos principais líderes e aliados de Temer podem ser alvo dos pedidos de inquérito da PGR. Um dos riscos para o Planalto é de que, na defensiva, eles esqueceriam da agenda do governo e se voltariam à autoproteção.
A articulação para anistiar o caixa 2 eleitoral e assim tentar livrar os políticos de serem investigados pela Lava Jato, que voltou a ganhar força entre deputados e senadores, é o tipo de movimento de autopreservação que ameaça causar desgaste direto a Temer. O presidente será cobrado a vetar a proposta e terá de se manifestar. Se disser que não vetará, corre o risco de levar o povo às ruas. Caso decida pelo veto, desagrada aos parlamentares e pode minar sua base aliada.
Guerra interna do PMDB
Aliás, a situação da base aliada não é dos melhores para Temer. Na verdade, é a pior desde que assumiu a Presidência em maio do ano passado. Um dos principais focos de insatisfação está justamente dentro do PMDB, partido de Temer.
O PMDB do Senado entrou em guerra com o PMDB da Câmara na disputa por poder de influência. Um grupo de deputados publicou na semana passada uma carta em que pede para que todos os dirigentes do partido citados na Lava Jato deixem a direção da sigla. O pedido afeta principalmente o presidente nacional do partido, Romero Jucá (RR), que é líder do governo no Senado.
O senador Renan Calheiros (AL), que também é investigado pela Lava Jato, acusou o grupo de deputados de serem representantes no Congresso dos interesses de Eduardo Cunha. E piorou a situação para Temer ao dizer que Cunha, mesmo preso, mantém influência no governo. Temer ainda não conseguiu apagar o incêndio dentro do PMDB, embora tenha assumido pessoalmente as conversas para apaziguar os ânimos peemedebistas.
Reforma da Previdência e greve
O presidente também assumiu pessoalmente a tarefa de dissipar as resistências da base em relação à reforma da Previdência – um dos pilares do governo Temer. A proposta do Planalto, altamente impopular, desagradou os aliados. Parlamentares falam claramente que o governo hoje não tem voto para aprová-la. Pedem mudanças. É a primeira pauta de Temer que enfrenta forte oposição no Congresso – e que pode criar fissuras na base de sustentação do governo.
A impopularidade da reforma da Previdência também ameaça catalisar manifestações de rua contra Temer. Uma greve geral foi convocada para esta quarta-feira (15). Na pauta, a rejeição das mudanças nas aposentadorias e também a reforma trabalhista. Com certeza o “Fora, Temer” será entoado.
A adesão será principalmente de servidores públicos. Isso poderia fazer com que o movimento não fosse tão sentido pela população. Mas em algumas cidades – como Curitiba – motoristas e cobradores dos ônibus do transporte público prometem cruzar os braços, afetando a todos e chamando a atenção para a insatisfação com o governo Temer.
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