O senador eleito Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) anunciou nesta segunda-feira (31) sua candidatura à presidência do Senado e disse que sua ideia é ser um alternativa para o cargo. Ele vai disputar o cargo contra o atual presidente, José Sarney (PMDB-AP), candidato da base governista que até então se apresentava como único candidato.
"A ideia da candidatura é apresentar alternativas. Diz Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra, ainda mais em um espaço como o parlamento nacional. A Câmara Federal, o Senado da República, este é o espaço da diversidade. (...) O Senado tem que ser uma casa do debate, da diversidade, da pluralidade. E sendo assim, não pode ser espaço de unanimidades e de monólogos", afirmou o novo candidato à presidência.
Rodrigues é o senador eleito mais jovem do país, com 38 anos. Após passar dois mandatos como deputado estadual no Amapá, ele foi o senador mais votado da história do estado - que é justamente aquele pelo qual José Sarney se elegeu nas eleições anteriores.
Segundo o adversário do atual presidente, a ideia não é dar a sua candidatura um ar de contrariedade. "A candidatura apresentada amanhã não é de oposição a ninguém, é uma candidatura pelo Senado. (...) Estamos apresentando um programa para o Senado da República cumprir o papel que entendemos que o Senado tem que cumprir, de acordo com o mandamento constitucional e de acordo com o que se espera de um Senado republicano", disse.
Logo antes de fazer o anúncio, o senador e a líder do PSOL no Senado, Marinor Brito (PA), estavam reunidos com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) já em um dos primeiros encontros para tratar da candidatura com os colegas eleitores. Rodrigues disse que já fez contato por telefone marcando encontros com outros senadores, como Pedro Simon (PMDB-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP).
"Eu nunca entrei numa disputa para não ganhar. Eu estou definido como candidato no dia de hoje e comecei a trabalhar para ganhar a eleição", afirmou.
Cristovam foi esquivo ao comentar a visita e não afirmou se apoia ou não a candidatura. "Esta visita não quer dizer que eu já decidi meu voto, apenas demonstra minha satisfação por o PSOL ter um candidato e fazer que a eleição não tenha apenas uma chapa concorrendo", disse o senador pelo DF.
"Candidatura tardia"
Perguntado sobre o porquê do lançamento da candidatura apenas às vésperas da eleição, o senador explicou que a ideia ainda estava amadurecendo na semana anterior.
"Estávamos amadurecendo esta posição no decorrer da semana. Na sexta-feira (28) decidimos que queríamos apresentar um programa de mudança para o Senado, em virtude especial da dramática crise que o Senado viveu nos últimos quatro anos", declarou.
A líder do partido também se manifestou. "Chegamos à conclusão de que não devemos votar em qualquer candidato do governo, não devemos apenas dizer 'sim, senhor'", afirmou Marinor Brito.
Propostas
Quanto às suas propostas de campanha, ressaltou que se eleito o Senado deve passar por uma "profunda reforma ética", que deve ser resultado de reflexão sobre os últimos quatro anos de atuação da Casa. Um dos reflexos disso seria tornar a TV Senado um canal público para todo o país, para que a população acompanhe o trabalho dos senadores.
Também disse que seu programa vai "restaurar o papel revisor do processo legislativo" que cabe ao Senado. "A Casa não pode ser uma mera receptora de medidas provisórias", ressaltou, apontando também a importância em promover os debates a respeito das reformas política e tributária.
Nada escondido
Questionado se espera que o apoio à sua candidatura seja declarado e aberto no Senado diferentemente do apoio que Sandro Mabel (PR-GO) diz receber na Câmara, Rodrigues afirmou que não vê motivo para o voto escondido.
"Não tem por que ter nada escondido, nem aqui, nem na Câmara. Nós somos representantes do povo brasileiro, o que vem da vontade do povo é que os mandatos sejam transparentes e abertos. Oxalá, e eu tenho certeza disto, o apoio a nossa candidatura será apresentado", declarou.
O senador também disse que, mesmo novato no Congresso, não teme a disputa contra o ex-presidente da República. "Eu venho de uma terra em que a gente aprende que, para subir as cachoeiras, tem que andar pelos igarapés. Não tenho que ter medo, aliás, nenhum senador tem que ter medo aqui. Cada senador é um representante do seu estado federado", afirmou.
Mas também preferiu não tornar a disputa em um embate pessoal. "Eu não quero 'pessoalizar' esse debate, não é nada contra o senador Sarney ou contra o senador Renan [Calheiros] (PMDB-AL) ou contra nenhum senador. É que o Senado tem que refletir que foram nos quatro anos últimos as crises pelas quais o Senado passou", disse o senador.
Deixe sua opinião