Reação
Dilma tenta mostrar que denúncias não contaminaram o governo
Para retirar o governo da inércia provocada pela crise que atingiu o ministro Antonio Palocci, a presidente Dilma Rousseff desencadeou ontem uma operação para mostrar que o Planalto "está trabalhando" e não foi contaminado pelas denúncias.
Em reuniões com ministros representantes de todos os partidos da base e líderes do Congresso, Dilma pediu unidade em torno da proposta do governo na votação do Código Florestal e pressa na conclusão do Plano Brasil Sem Miséria. A ideia é apresentar fatos positivos do governo e tentar desviar a atenção de fatos negativos. Enquanto isso, o governo ganha tempo para que Palocci apresente as explicações pedidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que Dilma, segundo interlocutores, disse esperar que sejam claras e suficientes. Ontem o governo comemorou a ausência de fatos novos no noticiário.
Uma das preocupações é que, como Palocci foi um dos "três porquinhos" que comandaram a campanha da candidata petista, há temor de que atingindo Palocci, que enriqueceu em 2010, após a eleição de Dilma, o governo e o seu mandato também possam ser atingidos.
Embora a presidente Dilma continue afirmando que mantém confiança no ministro-chefe da Casa Civil, é fato que "a realidade mudou", como observou um de seus auxiliares. Outro interlocutor, no entanto, observou que a presidente Dilma "não é autista" e que, mesmo não se pautando pela imprensa, está acompanhando atentamente a todas as movimentações que acontecem no campo político em decorrência da crise Palocci. Por isso, a presidente está esperando que as explicações do ministro da Casa Civil sejam logo apresentadas e que a PGR, que a princípio não queria se estender no caso, não peça mais nada e encerre a questão, como fez a Comissão de Ética, ultrapassando assim este turbulento período. Para evitar que as explicações à PGR ou a falta delas façam eco no Congresso, a presidente Dilma quer que os ministros políticos de seu governo mobilizem suas bancadas.
Agência Estado
Na escalada de críticas contra o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, a oposição passou a defender sua saída do governo da presidente Dilma Rousseff. Em manifestações no plenário do Senado, o líder do PSDB, Alvaro Dias (PR), e os senadores Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) e Ana Amélia Lemos (PP-RS) defenderam que o ministro deixe o cargo. Palocci está na berlinda devido ao crescimento de seu patrimônio durante 2006 a 2010 que ele atribui a consultorias prestadas no período.
"O governo está contaminado com a sua presença. Pode-se até dizer que a oposição está indo em socorro ao governo ao pedir sua saída porque esse caso está contaminando a administração federal", disse Alvaro Dias.
Para o tucano, as revelações sobre o faturamento da empresa Projeto (empresa de Palocci), os clientes e a confirmação de cobrança de taxa de sucesso trazem indícios de que o ministro pode ter cometido o crime de tráfico de influência. "É elementar que ele se afaste até o esclarecimento cabal de todas as denúncias. Se absolvido, ele retorna, se condenado paga o que a Justiça decidir."
O líder tucano destacou que a oposição vai aditar a representação feita contra o ministro na Procuradoria-Geral da República e que busca assinaturas para instalar uma CPI mista sobre o episódio. Hoje, lideranças de PSDB, DEM, PPS e PSol farão uma reunião para definir a estratégia para os próximos dias.
Dissidente do PMDB, o senador Jarbas Vasconcellos também falou sobre o tema em plenário. Ele lembrou o caso da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa e afirmou que o ministro está desperdiçando sua "segunda chance". Jarbas cobrou que Palocci abra suas contas.
"O ministro da Casa Civil não pode mais se esconder detrás de uma cortina de ferro, da cláusula de confidencialidade exigida pelos clientes para os quais ele prestou consultoria. Esse segredo não é do interesse público e, portanto, mantê-lo é incompatível com a permanência de Palocci na Casa Civil", afirmou o peemedebista.
Ana Amélia citou a necessidade de transparência sobre os negócios do ministro. Lembrou que sob a presidência de Itamar Franco o então chefe da Casa Civil Henrique Hargreaves foi afastado do cargo quando estava sob suspeição, tendo retornado após ter provado sua inocência. "Depois do esclarecimento, Hargreaves voltou muito mais fortalecido. Agora, da mesma forma, se poderia esperar que a presidente Dilma preste a esta Casa os esclarecimentos deste caso para não pairar nenhuma dúvida".
Governadores
Depois de três horas de reunião com o presidente do PT, Rui Falcão, governadores petistas saíram ontem em defesa de Palocci, que a oposição quer levar ao Congresso para explicar a origem de seu patrimônio. Para o governador da Bahia, Jaques Wagner, o Congresso é uma casa política, e não o local apropriado para investigações. "A gente sabe o que é o Congresso, com todo o respeito. O Congresso pega cada tema para fazer luta política. Se querem esclarecimento, o melhor caminho é o do Ministério Público Federal."
Wagner lembrou que tanto o apartamento de Palocci, comprado em 2010 por R$ 6,6 milhões, como o seu escritório adquirido no ano anterior por R$ 882 mil estão registrados no nome do ministro.
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