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Depois da divulgação de gravações de conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Civil do Distrito Federal, mostrando o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), ex-governador do DF, acertando partilha de R$ 2,2 milhões em dinheiro com um dos presos pela Operação Aquarela, senadores defendem uma investigação severa do caso.

A operação investiga o desvio de R$ 50 milhões do Banco de Brasília (BRB).

Para o líder do PSB e titular do Conselho de Ética, senador Renato Casagrande (ES), o Senado não tem como deixar de apurar a nova denúncia:

- Não dá para o Senado se fingir de morto. Temos de tomar as medidas necessárias. É mais uma paulada na cabeça da Casa. O senador Roriz terá de se explicar, e a Corregedoria Senado terá de buscar informações junto à polícia para saber da dimensão do caso.

O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), embarcou neste sábado para o Uruguai mas, por intermédio de sua assessoria, informou que, na volta ao Brasil, deverá tomar providências para apurar a denúncia.

O líder do Democratas, Agripino Maia (RN) também considera indispensável que o Senado investigue as denúncias:

- Se for verdade, o Senado não pode ficar sem investigar.

Segundo reportagens das revistas 'Época' e 'Veja', que chegam às bancas este final de semana, Roriz combina com Tarcísio Franklin de Moura, que presidiu o banco estatal entre 1999 e 2006, como receber parte da quantia no escritório do empresário Nenê Constantino, dono da Gol, da maior frota de ônibus do país e de uma empresa que presta serviços para o governo do DF.

Constantino confirma versão de Roriz

Ò senador Roriz negou que esteja envolvido nas denúncias apuradas pela operação Aquarela. Por meio de sua assessoria de imprensa, ele explicou que pegou um empréstimo de R$ 300 mil com Nenê Constantino, para o pagamento de uma bezerra.

Roriz teria documentos que comprovam a transação, como nota fiscal da venda do animal e nota promissória. O empresário, que havia declarado desconhecer o cheque de R$ 2,2 milhões, divulgou nota no fim da tarde deste sábado endossando a versão de Roriz.

Constantino diz que recebeu este valor na venda de uma fazenda e usou o dinheiro para emprestar R$ 300 mil a Roriz. O empresário afirma ainda que o senador retornou R$ 1,9 milhão, ficando apenas com o valor do empréstimo.

Conversa gravada

Os diálogos da Polícia Civil, no entanto, sugerem que R$ 2,2 milhões teriam sido sacados da conta de Constantino e que seriam entregues na casa do senador. Ao saber que o dinheiro iria em um carro, Roriz afirma que é preciso encontrar outra solução. Ele é informado que uma parte do dinheiro, R$ 200 mil, deveria ser depositada e o restante, R$ 2 milhões, seria dividido. ( leia no blog do Noblat). Outra conversa entre Tarcísio e Roriz, gravada no dia 13 de março, mostra que a solução encontrada foi levar o dinheiro para o escritório de Constantino, em Brasília, e ali fazer a partilha.

Pela reportagem de "Época", relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, mostra que, no mesmo dia, Constantino sacou R$ 2,2 milhões no BRB. A conversa entre Moura e Roriz motivou, semana passada, um pedido de investigação do senador enviado à Procuradoria-Geral da República.

À revista 'Veja', Roriz alegou que no dia 12 de março se encontrou casualmente com Constantino e comentou que estava sem dinheiro para pagar uma bezerra que comprara por R$ 300 mil. Constantino teria dito então que, casualmente, tinha no bolso um cheque de 2,2 milhões de reais e que Roriz poderia levá-lo, descontá-lo no BRB, pegar os R$ 300 mil e devolver o restante.

Tarcísio Franklim de Moura foi preso durante a Operação Aquarela, mas acabou solto após três dias juntamente com os demais investigados da Operação.

Confira a transcrição do diálogo da polícia:

— Senador, posso sugerir um negócio? Por que a gente não leva para o escritório do Nenê? — pergunta Tarcísio Franklin de Moura.

— Era para ser isso mesmo — responde Joquim Roriz.

— E de lá sai cada um com o seu — afirma Moura.

— É isso mesmo. Lá não tem dúvida nenhuma — diz Roriz.

Depois de falar com Roriz, Moura ligou para um homem a quem tratou por "chefe".

— E aquela minha parte? — pergunta o "chefe".

— Vai tudo no bolo — afirmou Moura.

Segundo Valério Neves, assessor de Roriz, o "chefe" seria Benjamin Roriz, primo do senador e ex-secretário de seu governo, quando esteve à frente do Distrito Federal.Assine O Globo e receba todo o conteúdo do jornal na sua casa

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