Wilder: conversa amigável com Cachoeira, mesmo depois da mulher, Andressa Morais, o abandonar para ficar com o bicheiro| Foto: Divino Luiz/Diário da Manhã

"Eu não vou expor você, cara. Fui eu que te pus na suplência, nessa secretaria. Fui eu, você sabe muito bem disso. Então, para que eu vou te expor?"

Carlinhos Cachoeira, em convesa com Wilder Morais (DEM-GO).

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Ao tomar posse na vaga aberta com a cassação do ex-senador Demóstenes Torres, o empresário e secretário de Infraestrutura de Goiás, Wilder Morais (DEM-GO), deverá ter de explicar aos senadores a acusação de que foi indicado para ser suplente de Demóstenes pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo de ontem revelou uma conversa telefônica entre Wilder e Cachoeira, a quem o empresário chamava de "Vossa Excelência". No diálogo, o bicheiro relembra a Wilder o papel que teve na sua ascensão política.

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"Eu não vou expor você, cara. Fui eu que te pus na suplência, nessa secretaria. Fui eu, você sabe muito bem disso. Então, para que eu vou te expor?", afirma Cachoeira, dando a entender que tinha influência sobre Demóstenes e sobre o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Wilder concorda e indica ter gratidão por Cachoeira. "Carlinhos, pensa um cara que nunca teria encontrado um governo, que nunca teria sido b... nenhuma. Você está falando com esse cara."

O telefonema foi realizado em junho do ano passado, no auge de uma crise gerada pelo envolvimento de Cachoeira com a então mulher do suplente, Andressa Morais. Até então, relatos de pessoas próximas indicavam que Wilder evitava entrar em contato com Cachoeira desde que foi abandonado por Andressa.

Além dessa conversa, a Polícia Federal interceptou outros seis telefonemas entre Cachoeira e o empresário. Com essas revelações, um grupo de senadores considera que as explicações do suplente de Demóstenes sobre a sua relação com o bicheiro são "inevitáveis", especialmente à CPMI do Cachoeira.

O senador Randolfe Ro­drigues (PSol-AP), autor da representação que deu início ao processo de cassação de Demóstenes, disse estar claro que Wilder mantém uma relação pessoal com o empresário.

"Ele toma posse sob forte suspeição. São razões que merecem atenção especial da CPI e do Senado. Se eu fosse ele, começava utilizando a tribuna explicando qual o nível das suas relações com o Cachoeira."

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Para o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), as explicações serão "inevitáveis" se ficar comprovado que o suplente de Demóstenes compartilhava da "intimidade" do empresário. "O fato de ter sido indicado para a suplência pelo Cachoeira é uma suspeição evidente. Não acho justo prejulgar, mas os fatos falam mais alto. Na hora que você toma posse, se submete à luz do sol. Se você tiver razão, não derrete."

O líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PR), disse que a indicação de Wilder para a suplência comprova a necessidade de mudanças na legislação eleitoral do país. "Isso só reforça a tese de que temos que mudar as regras para a indicação de suplentes. Deveríamos extinguir a suplência, deixar a vaga aberta até a próxima eleição."

Posse

Como o ato de cassação de Demóstenes foi publicado ontem no Diário Oficial do Senado, o suplente do ex-senador tem o prazo de 60 dias para assumir o mandato. O prazo pode ser prorrogado por mais 30 dias, desde que ele comunique o comando da Casa sobre a sua intenção de assumir.

Wilder ainda não comunicou ao Senado sobre a data em que pretende assumir o mandato. A posse pode ocorrer inclusive no recesso parlamentar, que começa no dia 18 de julho. Se for realizada no recesso, ocorre no gabinete do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Do contrário, o senador é empossado em cerimônia no plenário da Casa.

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