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FHC e Lula distribuem panfletos a operários em 1978: à época, o tucano concorria ao Senado com o apoio do então líder sindical | Arquivo
FHC e Lula distribuem panfletos a operários em 1978: à época, o tucano concorria ao Senado com o apoio do então líder sindical| Foto: Arquivo

Presidência

Terceira opção nunca superou 20% dos votos

A polarização entre PT e PSDB ao longo das últimas cinco eleições presidenciais foi acentuada pela falta de consistência dos demais adversários. Todos os terceiros colocados foram de partidos diferentes e não conseguiram superar a barreira de 20% dos votos válidos no primeiro turno.

Em 1994, Enéas Carneiro (Prona) ficou com a posição, com 7,38% dos votos. Em 1998, foi a vez de Ciro Gomes (PPS), com 10,97%. Em 2002, Anthony Garotinho (PSB) fez 17,86% e, em 2006, Heloisa Helena (PSol), 6,85%.

A desafiante à polarização PT-PSDB com melhor desempenho foi Marina Silva (PV), que chegou a 19,33% dos votos na disputa de 2010. No ano passado, ela se filiou ao PSB para ser candidata a vice-presidente na chapa do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Combativo

Um dos principais ideólogos do PSDB, o cientista político Bolívar Lamounier diz que a consolidação do PSB como terceira via depende da dupla adotar um discurso combativo em relação aos petistas. "Se eles de fato pretendem – e eu acho que pretendem – desempenhar um papel relevante na eleição, terão que assumir uma posição oposicionista nítida", diz Lamounier.

Para ele, outros partidos acabaram abrindo mão desse papel. "Num rápido apanhado, sabemos que o PMDB é uma federação de máquinas eleitorais e clientelistas estaduais. Não se propõe ser um partido programático. No PFL [atual DEM], o Marco Maciel e o Jorge Bornhausen tinham tal propósito, o Antonio Carlos Magalhães não tinha, e o mandonismo dele impedia o partido de escolher um rumo. O PPS tinha e tem caráter programático, mas não tem volume."

Doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, Fábio Wanderley Reis cita que a lacuna foi gerada pela falta de uma nova liderança popular. "A gente tem um prenúncio disso com a Marina Silva. Ela tem uma imagem de consistência ética, um certo ideário, além de uma história de vida de apelo popular."

Reis afirma que a polarização entre petistas e tucanos também teve aspectos positivos para a democracia brasileira, que tem hoje 32 legendas em funcionamento. "O fato de que tivemos a disputa centrada nesses dois partidos é positivo porque gerou uma certa simplificação do nosso sistema partidário", avalia o professor.

  • Aliança de esquerda: no 2º turno de 1989, o tucano Mário Covas apoiou Lula, que também recebeu a adesão de Leonel Brizola

Quando Lula chegou ao segundo turno contra Fernando Collor, em 1989, o PSDB não teve dúvidas de subir no palanque do PT. Mesmo derrotada, a aliança entre petistas e tucanos avançou para o início dos anos 1990. Foi então que o namoro quase virou casamento.

O quase ficou perdido na história em 1994, quando tucanos e petistas estabeleceram a polarização política que dita os rumos da disputa presidencial brasileira há 20 anos. Nascidos na esquerda, ambos os partidos sofreram um processo de metamorfose ideológica em busca de novos parceiros. A estratégia colaborou para que nenhuma outra legenda se tornasse competitiva nas últimas cinco eleições para o Palácio do Planalto.

Visão paranaense

Personagens históricos das duas siglas, quatro paranaenses têm visões complementares sobre os fatores que consolidaram o cenário atual. Ex-deputado federal (1978-1990), ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência (2002) e coordenador político da campanha de Fernando Henrique Cardoso em 1994, Euclides Scalco esteve no centro das primeiras decisões do PSDB, partido que ajudou a fundar, em 1988. "Não teve divergência nenhuma quando apoiamos o Lula contra o Collor", lembra.

Atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo fez parte da primeira leva de petistas eleitos pelo Paraná para a Câmara dos Deputados, em 1990. "Nós éramos aliados, sim. Estivemos lado a lado em muitas votações, na Comissão de Orçamento e na CPI que derrubou o Collor."

A situação começou a mudar quando Itamar Franco (PMDB) assumiu o Planalto, em dezembro de 1992. Com o lema "Brasil, união de todos", Itamar chamou diversos partidos para compor o governo – entre eles, PT e PSDB. Os tucanos aderiram, mas os petistas não.

A gestão Itamar começou mal das pernas. A inflação registrada em 1993 chegou a 2.700% ao ano, a mais alta da história do país. "Havia até uma conversa na época de que os tucanos propuseram apoiar o Lula em 1994, mas depois recuaram", diz Paulo Bernardo.

Para Scalco, o fator preponderante para a cisão foi a recusa dos petistas em apoiar o Plano Real, que também completa duas décadas em 2014. "Aí não teve mais volta", lembra o tucano. "Pai" do real, Fernando Henrique fez mais que o dobro dos votos de Lula e venceu no primeiro turno em 1994.

Participante da famosa reunião no Colégio Sion, em São Paulo, que marcou a fundação do PT, em 1980, o deputado federal Dr. Rosinha (PT) aponta outro problema. "Foi o PSDB que decidiu se unir com a direita conservadora fazendo aliança com o PFL [atual DEM]", diz o parlamentar. Segunda maior bancada da Câmara na época, os pefelistas indicaram Marco Maciel para vice-presidente de FHC.

Scalco não concorda que o PSDB tenha sofrido uma guinada à direita. "O PT sim tem atitudes cada vez mais liberais na economia", diz o ex-ministro, que também faz uma análise dura sobre a trajetória tucana. "Quando chegamos ao poder, em 1994, o partido ainda não estava consolidado. Nosso problema sempre foi ter muito mais cacique do que índio; não termos construído uma base de militância sólida."

Do lado petista, Paulo Bernardo e Rosinha admitem as mudanças ideológicas do PT, que apontam justamente para o rumo da social-democracia, corrente ideológica de esquerda que admite o capitalismo. "A ‘petezada’ vai me execrar por isso, mas o que eu acho é que quem de fato promoveu uma agenda social-democrata no Brasil foi o PT", diz Bernardo, numa referência à corrente ideológica que está na origem do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). "E digo mais: acho que deveríamos assumir isso para não corrermos o risco de não nos conectarmos com o aumento do bem-estar das famílias, do aumento da classe média, do consumo da população pobre."

A cautela faz sentido. No manifesto de fundação do PT, há críticas à corrente social-democrata. Nos primórdios, o partido defendia o socialismo, com objeções ao modelo implantado em países como a União Soviética. "Acho que o PT se transformou em um partido social-democrata, mas não é isso que eu nem a maioria dos militantes gostaria que tivesse acontecido", afirma o ministro.

Sem reaproximação

Apesar dessa aproximação ideológica do PT com o PSDB, os tucanos não veem chances de a duas siglas caminharem juntas novamente. "Nossa polarização é irreversível", garante o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). Segundo ele, o modelo de gestão dos petistas não permite uma reaproximação: "O PT adotou o modelo promíscuo de balcão de negócios e, desse jeito, não tem conversa".

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