Presidência
Terceira opção nunca superou 20% dos votos
A polarização entre PT e PSDB ao longo das últimas cinco eleições presidenciais foi acentuada pela falta de consistência dos demais adversários. Todos os terceiros colocados foram de partidos diferentes e não conseguiram superar a barreira de 20% dos votos válidos no primeiro turno.
Em 1994, Enéas Carneiro (Prona) ficou com a posição, com 7,38% dos votos. Em 1998, foi a vez de Ciro Gomes (PPS), com 10,97%. Em 2002, Anthony Garotinho (PSB) fez 17,86% e, em 2006, Heloisa Helena (PSol), 6,85%.
A desafiante à polarização PT-PSDB com melhor desempenho foi Marina Silva (PV), que chegou a 19,33% dos votos na disputa de 2010. No ano passado, ela se filiou ao PSB para ser candidata a vice-presidente na chapa do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Combativo
Um dos principais ideólogos do PSDB, o cientista político Bolívar Lamounier diz que a consolidação do PSB como terceira via depende da dupla adotar um discurso combativo em relação aos petistas. "Se eles de fato pretendem e eu acho que pretendem desempenhar um papel relevante na eleição, terão que assumir uma posição oposicionista nítida", diz Lamounier.
Para ele, outros partidos acabaram abrindo mão desse papel. "Num rápido apanhado, sabemos que o PMDB é uma federação de máquinas eleitorais e clientelistas estaduais. Não se propõe ser um partido programático. No PFL [atual DEM], o Marco Maciel e o Jorge Bornhausen tinham tal propósito, o Antonio Carlos Magalhães não tinha, e o mandonismo dele impedia o partido de escolher um rumo. O PPS tinha e tem caráter programático, mas não tem volume."
Doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, Fábio Wanderley Reis cita que a lacuna foi gerada pela falta de uma nova liderança popular. "A gente tem um prenúncio disso com a Marina Silva. Ela tem uma imagem de consistência ética, um certo ideário, além de uma história de vida de apelo popular."
Reis afirma que a polarização entre petistas e tucanos também teve aspectos positivos para a democracia brasileira, que tem hoje 32 legendas em funcionamento. "O fato de que tivemos a disputa centrada nesses dois partidos é positivo porque gerou uma certa simplificação do nosso sistema partidário", avalia o professor.
Quando Lula chegou ao segundo turno contra Fernando Collor, em 1989, o PSDB não teve dúvidas de subir no palanque do PT. Mesmo derrotada, a aliança entre petistas e tucanos avançou para o início dos anos 1990. Foi então que o namoro quase virou casamento.
O quase ficou perdido na história em 1994, quando tucanos e petistas estabeleceram a polarização política que dita os rumos da disputa presidencial brasileira há 20 anos. Nascidos na esquerda, ambos os partidos sofreram um processo de metamorfose ideológica em busca de novos parceiros. A estratégia colaborou para que nenhuma outra legenda se tornasse competitiva nas últimas cinco eleições para o Palácio do Planalto.
Visão paranaense
Personagens históricos das duas siglas, quatro paranaenses têm visões complementares sobre os fatores que consolidaram o cenário atual. Ex-deputado federal (1978-1990), ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência (2002) e coordenador político da campanha de Fernando Henrique Cardoso em 1994, Euclides Scalco esteve no centro das primeiras decisões do PSDB, partido que ajudou a fundar, em 1988. "Não teve divergência nenhuma quando apoiamos o Lula contra o Collor", lembra.
Atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo fez parte da primeira leva de petistas eleitos pelo Paraná para a Câmara dos Deputados, em 1990. "Nós éramos aliados, sim. Estivemos lado a lado em muitas votações, na Comissão de Orçamento e na CPI que derrubou o Collor."
A situação começou a mudar quando Itamar Franco (PMDB) assumiu o Planalto, em dezembro de 1992. Com o lema "Brasil, união de todos", Itamar chamou diversos partidos para compor o governo entre eles, PT e PSDB. Os tucanos aderiram, mas os petistas não.
A gestão Itamar começou mal das pernas. A inflação registrada em 1993 chegou a 2.700% ao ano, a mais alta da história do país. "Havia até uma conversa na época de que os tucanos propuseram apoiar o Lula em 1994, mas depois recuaram", diz Paulo Bernardo.
Para Scalco, o fator preponderante para a cisão foi a recusa dos petistas em apoiar o Plano Real, que também completa duas décadas em 2014. "Aí não teve mais volta", lembra o tucano. "Pai" do real, Fernando Henrique fez mais que o dobro dos votos de Lula e venceu no primeiro turno em 1994.
Participante da famosa reunião no Colégio Sion, em São Paulo, que marcou a fundação do PT, em 1980, o deputado federal Dr. Rosinha (PT) aponta outro problema. "Foi o PSDB que decidiu se unir com a direita conservadora fazendo aliança com o PFL [atual DEM]", diz o parlamentar. Segunda maior bancada da Câmara na época, os pefelistas indicaram Marco Maciel para vice-presidente de FHC.
Scalco não concorda que o PSDB tenha sofrido uma guinada à direita. "O PT sim tem atitudes cada vez mais liberais na economia", diz o ex-ministro, que também faz uma análise dura sobre a trajetória tucana. "Quando chegamos ao poder, em 1994, o partido ainda não estava consolidado. Nosso problema sempre foi ter muito mais cacique do que índio; não termos construído uma base de militância sólida."
Do lado petista, Paulo Bernardo e Rosinha admitem as mudanças ideológicas do PT, que apontam justamente para o rumo da social-democracia, corrente ideológica de esquerda que admite o capitalismo. "A petezada vai me execrar por isso, mas o que eu acho é que quem de fato promoveu uma agenda social-democrata no Brasil foi o PT", diz Bernardo, numa referência à corrente ideológica que está na origem do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). "E digo mais: acho que deveríamos assumir isso para não corrermos o risco de não nos conectarmos com o aumento do bem-estar das famílias, do aumento da classe média, do consumo da população pobre."
A cautela faz sentido. No manifesto de fundação do PT, há críticas à corrente social-democrata. Nos primórdios, o partido defendia o socialismo, com objeções ao modelo implantado em países como a União Soviética. "Acho que o PT se transformou em um partido social-democrata, mas não é isso que eu nem a maioria dos militantes gostaria que tivesse acontecido", afirma o ministro.
Sem reaproximação
Apesar dessa aproximação ideológica do PT com o PSDB, os tucanos não veem chances de a duas siglas caminharem juntas novamente. "Nossa polarização é irreversível", garante o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). Segundo ele, o modelo de gestão dos petistas não permite uma reaproximação: "O PT adotou o modelo promíscuo de balcão de negócios e, desse jeito, não tem conversa".
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