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O seqüestrador que manteve por 56 horas três pessoas reféns em Campinas (a 95 km de São Paulo) disse estar arrependido do crime que cometeu. Em entrevista na tarde desta sexta-feira (27), Gleison Flávio de Salles, de 23 anos, disse que iniciou o seqüestro porque estava sob efeito de cocaína e que "nunca quis colocar a vida das crianças em risco".

Por volta do meio-dia de terça-feira (24), Gleison invadiu a casa de Mara Tomaz de Souza, de 29 anos, fazendo ela e os três filhos, de 4, 6 e 9 anos reféns. O drama da família só terminou na noite de quinta-feira (26), com a prisão do criminoso.

"Estou arrependido. Lamento ter feito o que fiz", disse Gleison, na Delegacia de Investigações Gerais (DIG). "Eu estava dopado", justificou ele, confessando ser dependente de maconha e cocaína. Antes de invadir a casa de Mara, Gleison tentou roubar um videogame de uma loja. Com o dinheiro da venda do aparelho, disse que compraria drogas.

Gleison revelou ainda que em alguns momentos pensou em se matar. Por isso, pediu os extintores de incêndio aos policiais. "Não agüentava mais aquela situação. Ia usar o extintor para me explodir".

Ele explicou que disparou um tiro em direção à janela do quarto em que estava com a família porque considerou "uma indignidade" a polícia ter revelado seu nome. Gleison viu tudo pela televisão assim que a luz foi restabelecida na casa quando a negociação caminhava para rendição dele.

"É uma indignidade com a minha família porque eles não têm nada a ver com que está acontecendo aqui". Logo após o disparo, a polícia entrou na casa e dominou o criminoso.

'Amizade'

"Uma estranha relação de grande amizade" começou a se estreitar entre família e seqüestrador depois das primeiras horas do crime em Campinas, segundo a refém Mara Tomaz de Souza. No começo, revelou a mãe, as condições eram precárias no quarto onde estavam todos: "Ele não deixou que fôssemos ao banheiro. As crianças urinavam em garrafinhas. Mas aos poucos, foi cedendo", contou. E então "a gente falava sobre a família, meus filhos foram ganhando a confiança dele, e eles brincavam", relatou Mara, sem jamais pronunciar o nome do seqüestrador.

Sob o efeito de calmantes, e ainda em estado de choque, Mara falou à imprensa na sede da Sociedade de Medicina de Campinas, no Centro da cidade - a 95 km de São Paulo -, no começo da tarde desta sexta-feira (27).

Mara lembrou momentos em que achou que fosse morrer, mas diz que tem um sentimento de gratidão pelo criminoso, apesar da raiva que sente, porque ele, em nenhum momento maltratou as crianças. "Eu tenho sentimento de revolta. A gente estava no lugar errado, na hora errada. Sinto raiva. Ele poderia ter feito alguma coisa contra meus filhos, mas disse que não queria matá-los", contou.

Constantes, os momentos de tensão se agravavam quando a polícia fazia contato, revelou Mara. Às vezes, sem querer negociar, Gleison mandava que todos ficassem quietos e não respondessem aos policiais.

"Com os negociadores, ele parecia uma pessoa violenta, mas depois se acalmava. Parecia ser uma pessoa boa, não ruim. Ele deu bons conselhos para as crianças. Disse para não seguirem o mesmo caminho (do crime). Contou que não teve oportunidades na vida", lembrou a mãe.

Momentos finais

Mara contou também na entrevista que a cena mais horrível pela qual passou durante as 56 horas de seqüestro em Campinas foi no final, pouco antes de os policiais invadirem a casa.

O criminoso ficou nervoso, deu um tiro, viu que os policiais estavam entrando, agarrou pelo pescoço um dos filhos de Mara, Thiago, se jogou no chão com ele e pediu que a mãe do menino se deitasse sobre eles, fazendo um escudo. "Foi uma cena horrível", disse ela, chorando. "Se ele fosse matar meu filho, mataria nós dois porque eu ia puxar a arma para a a minha cabeça",

De acordo com Mara, o seqüestrador Gleison Flávio de Salles "ficou doido" ao ligar a televisão e ouvir seu nome. Ele deu o tiro em direção à janela do quarto dos filhos, onde eles ficaram a maior parte do tempo que durou o seqüestro.

Por recomendação médica, Mara Tomaz de Souza e os filhos sairão da cidade de Campinas, a 95 km de São Paulo, e ficarão por um tempo na casa de parentes em outra cidade do estado.

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