Brasília (Folhapress) Marcelo Sereno, ex-assessor do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, disse ontem em depoimento à CPI dos Bingos que se reuniu com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza no Palácio do Planalto para tratar de campanhas eleitorais.
Os encontros, segundo Sereno, ocorreram "no fim de 2003 e início de 2004" quando ele era chefe da assessoria especial do então ministro.
"Duas ou três vezes, ele (Marcos Valério) foi me procurar no Palácio do Planalto e eu conversei sobre campanha eleitoral [do Rio de Janeiro). Ele queria que a empresa de marketing dele ganhasse mais fácil (conta de campanhas)", afirmou Sereno.
"O senhor tratava de campanha no Palácio do Planalto, na hora de trabalho, onde era pago com dinheiro público?", questionou o senador Leonel Pavan (PSDB-SC). Sereno disse que estava arrependido. "Eu me arrependo e isso foi uma das razões de eu ter deixado o cargo", disse.
Ainda conforme o depoimento do ex-dirigente do PT, a partir da negociação no Palácio do Planalto, Valério conseguiu ser contratado para a campanha do candidato a prefeito de Petrópolis (RJ) pelo PT, Paulo Mustrangi, que foi derrotado.
Não ficou claro no depoimento se o então ministro e hoje deputado José Dirceu (PT-SP) sabia que Sereno, um de seus assessores mais próximos, discutia em horário de serviço interesses do PT nas campanhas eleitorais para prefeitos no estado do Rio.
No fim do depoimento, a reportagem procurou Sereno, mas ele se negou a falar. "Falei tudo no depoimento", afirmou retirando-se da sala.
Marcos Valério é acusado de ser operador do suposto mensalão e admite que fez empréstimos de cerca de R$ 55 milhões para alimentar o caixa 2 de campanhas eleitorais do PT, a pedido do ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Valério diz que Dirceu sabia da operação. Dirceu nega.
Na CPI ontem, o ex-assessor e homem de confiança de Dirceu afirmou que não discutiu empréstimos quando esteve na Casa Civil.
Sereno trabalhou como secretário-executivo, em 2002, para a então governadora do Rio de Janeiro Benedita da Silva (PT). Ele deixou o cargo para participar da equipe de transição de Lula. No início de 2003, assumiu a chefia de gabinete da Casa Civil e, depois, passou a trabalhar como assessor especial.
Aos senadores, Sereno disse que seu trabalho na Casa Civil consistia em "encaminhar as indicações (feitas para cargos públicos) de partidos aliados" aos diretores de empresas públicas. Ele não deu nomes.
Em maio de 2004, Sereno deixou o ministério, após a primeira crise do governo, quando foi divulgada em fevereiro um fita de vídeo onde o ex-assessor parlamentar da Casa Civil Waldomiro Diniz aparece pedindo propina ao empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Sereno disse ontem que deixou o cargo e assumiu a Secretaria de Comunicação do PT nacional porque também queria se "dedicar a campanhas eleitorais" e que sua saída nada teve a ver com o caso Waldomiro.
O presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais (PFL-PB), afirmou que Sereno não falou a verdade. Já para o relator da CPI, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), "o depoente ficou o tempo todo dizendo que não sabia. Eu acho que ele sabia muito e veio aqui protegido por um habeas-corpus".
Acusado de manipular o fundo de pensão Nucleos (dos empregados das estatais de energia nuclear) e de usar a entidade para fazer caixa para campanhas, além de interferir a favor de bancos no Refer (fundo dos ferroviários), Sereno negou tudo.