A premiação
Os jornalistas Katia Brembatti, Karlos Kohlbach, James Alberti e Gabriel Tabatcheik são finalistas do Prêmio Esso de Reportagem 2010, com a série Diários Secretos, publicada a partir de março. Produção conjunta da Gazeta do Povo e da RPC TV, a série de reportagens desvendou um esquema de corrupção e contratação de funcionários fantasmas e "laranjas" na Assembleia do Paraná. O trabalho foi escolhido entre as três melhores reportagens de todo o país.
Essa é a primeira vez que uma produção paranaense concorre ao principal prêmio do jornalismo nacional. O resultado da premiação será divulgado no próximo dia 18 de novembro.
Inicialmente, a série foi selecionada entre as melhores reportagens publicadas no Sul do Brasil, no período de agosto de 2009 a agosto deste ano. Em um segundo momento, uma comissão julgadora escolheu apenas três entre as principais matérias de todas as regiões do país para concorrer ao Prêmio Esso de Reportagem 2010.
Além dos Diários Secretos, disputam a premiação o trabalho "Prova vaza e MEC decide cancelar Enem", publicado no jornal O Estado de S. Paulo, e "Dossiê traz dados sigilosos da Receita contra tucanos", da Folha de S.Paulo.
Dois anos de trabalho
A série Diários Secretos é um conjunto de reportagens resultante de um trabalho feito pela Gazeta do Povo e pela RPC TV que durou quase dois anos. Nesse período, os quatro jornalistas consultaram mais de 700 diários oficiais da Assembleia publicados entre 1998 e 31 de março de 2009 para desvendar o que aconteceu no Legislativo do Paraná nos últimos dez anos.
Os arquivos foram obtidos por meio de uma fonte da Assembleia, após a direção da Casa ter negado, por várias vezes, o acesso dos jornalistas aos documentos, que mostram como o Legislativo administra o seu orçamento de R$ 319 milhões em 2009.
O acesso aos diários oficiais permitiu descobrir um esquema que, segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público Estadual (MP), desviou pelo menos R$ 100 milhões dos cofres públicos. Tudo por meio da contratação de servidores fantasmas e laranjas fato que era escondido da sociedade por meio das dificuldades criadas para se ter acesso aos documentos, daí o nome Diários Secretos da série. A reportagem ainda descobriu que a Assembleia editou 2.178 atos secretos, que nunca tinham vindo a público até a divulgação das reportagens.
A série da Gazeta e da RPC TV resultou na prisão do ex-diretor-geral da Casa Abib Miguel, o Bibinho, que dirigiu a Assembleia por mais de 20 anos. Com ele, que é acusado de ser o mentor do esquema de desvio de dinheiro no Legislativo estadual, também foram presos servidores e pessoas ligadas às irregularidades. Além disso, pela primeira vez na história, a Casa foi alvo de um mandado de busca e apreensão, que foi cumprido pelo Gaeco, em maio.
As irregularidades reveladas nas reportagens levaram ainda os deputados estaduais a aprovar o projeto da Lei da Transparência, que cria normas para facilitar o controle do poder público paranaense pela sociedade. Elaborada pelo movimento "O Paraná que Queremos", a proposta prevê a publicação dos atos de todos os órgãos públicos paranaenses no Diário Oficial do Estado e em portais da transparência na internet. A lei deve ser sancionada pelo governador Orlando Pessuti (PMDB) na próxima terça-feira.
"A indicação da Gazeta do Povo e da RPC TV para disputar a final do Prêmio Esso de Reportagem com a série Diários Secretos é uma vitória da imprensa paranaense", comemora o diretor da Redação da Gazeta do Povo, Nelson Souza Filho. "É o reconhecimento do talento da equipe de repórteres, que apurou durante meses as irregularidades na Assembleia, resultando num dos trabalhos jornalísticos mais importantes já produzidos no estado."
Promotores e auditores do MP estão concentrando esforços na análise de documentos apreendidos na Assembleia para embasar eventuais futuras denúncias à Justiça. Desde março, foram abertas cerca de 30 investigações uma delas apura o gabinete da presidência, sob a responsabilidade do deputado Nelson Justus.
Em uma das frentes de trabalho, os auditores estão analisando os contracheques e as fichas funcionais e financeiras de todos os atuais e ex-servidores da Casa, com a intenção de identificar novos grupos de funcionários fantasmas. A tendência é que esse trabalho seja concluído até o fim do ano.
A investigação sobre a Assembleia, no entanto, está longe do fim. Os promotores acreditam que, durante todo o ano que vem, a promotoria de Proteção ao Patrimônio Público trabalhará quase que exclusivamente em cima dos Diários Secretos. O volume de informações dentro da promotoria é tão grande que o caso deve ser tratado como prioridade durante 2011.
A Polícia Federal também investiga o caso, em relação a possíveis crimes fiscais e tributários e gestão fraudulenta na Assembleia.
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