Os três principais pré-candidatos à Presidência da República tiveram ontem à noite um encontro longo, porém frio, na capital paulista. Dilma Rousseff, pré-candidata pelo PT, José Serra, do PSDB, e Marina Silva, do PV, passaram ao menos 2h30 no mesmo ambiente, em evento da indústria sucroalcooleira, em que foram convidados a expor, cada um a seu tempo, propostas para o setor, após receberem um caderno de sugestões dos usineiros para desenvolver a produção de etanol no país.

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Os presidenciáveis evitaram se cumprimentar em público - Serra, primeiro a discursar, foi o único a interagir com as adversárias com um beijo de despedida, no rosto. Ele foi embora assim que terminou de falar, sem ouvir Dilma e Marina. Os três tiveram 15 minutos para expor suas ideias. Serra e Dilma falaram quatro minutos além do estipulado. Marina, três. Dilma precisou de duas advertências do apresentador do evento para concluir a fala.

Os pré-candidatos foram acomodados em assentos separados na primeira fila do salão, em uma casa de shows, na zona sul da capital. Dilma sentou entre Antonio Palocci e Aloizio Mercadante pré-candidato do PT ao governo paulista. Serra, ao lado de Xico Graziano, um dos coordenadores da campanha tucana. Marina teve a companhia de seu candidato a vice, o empresário Guilherme Leal. Entre cada grupo, havia um pequeno corredor.

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Dilma, que louvou os feitos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi colocada em pelo menos duas saias-justas. Ao apresentar as reivindicações do setor, o presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul (Orplana), Ismael Perina, reclamou da "insegurança no campo" e do "absurdo conflito" criado pela legislação atual entre agricultura e meio ambiente a respeito da recomposição vegetal de áreas de plantação.

"É intolerável continuarmos a assistir a complacência do poder público com invasões de propriedades rurais produtivas. É um absurdo", disse Perina. Dilma mostrou desconforto e permaneceu de braços cruzados enquanto a plateia aplaudia a colocação. No geral, Dilma e Marina ouviram com atenção a fala dos adversários com cochichos pontuais com os vizinhos de cadeira.

Serra buscou colocar São Paulo como um modelo na produção e uso de etanol e de preservação ambiental. Classificou a proposta paulista de Mudanças Climáticas como "a mais avançada do Hemisfério Sul". Ponderou que há dificuldades de se copiar o modelo paulista pelo Brasil por causa da "megavalorização cambial". De braços cruzados, Dilma fechou o semblante. Para Serra, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) deveria ter uma diretoria especializada em etanol.

ICMS

O tucano defendeu a criação de uma alíquota única de ICMS para os produtos desse setor - solução endossada por Dilma e Marina. Para Serra, a taxa deveria ficar em 12%. "O governo federal precisa se jogar ativamente nessa negociação com os Estados. Tem de haver uma ação política com muito peso", disse. "Creio que o Brasil pode fazer muito mais na área do etanol", afirmou, esclarecendo que a fala não se tratava de "jogo de campanha". O slogan do pré-candidato é "o Brasil pode mais".

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Marina pregou um "resgate histórico, ambiental, cultural e social" do etanol na sociedade brasileira, a partir do envolvimento dos produtores na "agenda do desenvolvimento sustentável". Marina puxou para si méritos do governo Lula, como a redução dos índices de desmatamento. "Houve oposição na época, mas hoje tenho certeza de que estamos todos agradecidos pelo Plano de Combate ao Desmatamento."

Dilma, por sua vez, seguiu na estratégia de tentar colar sua imagem a de Lula. "O governo do presidente Lula, em 2003, deu uma prioridade ao etanol que não se dava nos últimos anos", disse a petista. "O governo Lula, a que pertenci nos últimos sete anos e meio, reuniu qualidades inequívocas que permitem uma política externa adequada para o etanol. É preciso lembrar o imenso esforço do presidente Lula para tornar o etanol brasileiro conhecido no mundo."

A pré-candidata do PT citou frase de Lula em defesa do etanol brasileiro. Em resposta a críticas de que o plantio de cana para produção do combustível estaria tomando áreas para produção de alimentos, Lula recomendou em 2008 aos europeus e norte-americanos que não apontassem o "dedo sujo de óleo e carvão" para o biocombustível brasileiro.