BRASÍLIA e SÃO PAULO - Depois de dois meses evitando se declarar candidato a presidente, o prefeito de São Paulo, José Serra, anunciou publicamente segunda-feira, pela primeira vez, que está à disposição do PSDB para concorrer à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Serra, no entanto, condicionou sua participação à não realização de prévias. O anúncio, feito na véspera do dia marcado pela cúpula tucana para a escolha, provocou um revés nas articulações do PSDB. Posição oposta à do governador Geraldo Alckmin, também pré-candidato, que reafirmou que só desiste se assim for decidido pelo partido após consulta às bases.
O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniram com Serra na noite de segunda-feira em um hotel na zona sul de São Paulo. Após a reunião, Aécio foi quem mais falou com os repórteres, mesmo assim não revelou o conteúdo da conversa.
- Nesta terça-feira o presidente do PSDB vai dar todas as informações. Tasso Jereissati vai falar em nome de todos nós - disse Aécio.
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, não quis sequer responder se a decisão do PSDB já está tomada e se será anunciada nesta terça-feira, como havia sido prometido na semana passada.
No fim da tarde de segunda-feira, alegando que a decisão não é pessoal, "como muita gente vinha pensando", Serra transferiu a responsabilidade sobre a escolha para o comando do partido. A resistência do prefeito até então encontrava explicações na promessa que fizera durante a campanha eleitoral de se manter na prefeitura paulistana até o fim do mandato, no fim de 2008.
O prefeito disse que tomou a decisão também por ter sido convencido por dirigentes tucanos sobre suas chances de vencer o presidente Lula na eleição de outubro.
- Vou me apresentar para a direção do PSDB em razão do fato de que as pesquisas há muitos meses apontam o meu nome como o mais forte para disputar com o presidente Lula este ano - disse, no início da noite, na sede da prefeitura.
Partidários de Serra, no entanto, estão tentando convencê-lo de que teria maioria dos mais de 200 votos do Diretório Nacional se aceitasse a disputa. Nas conversas com Tasso Jeressati, presidente do partido, Fernando Henrique e Aécio Neves, o prefeito argumentou que tal disputa seria altamente nociva para o partido, que já iria fragilizado para a campanha. Disse o mesmo ao próprio Alckmin, na quinta-feira à noite. Mas depois vieram os apelos para que aceite a competição.
Ao tomar conhecimento da entrevista de Serra, o governador confirmou, por meio de sua assessoria, que não vai "arredar o pé" da disputa.
- Não tem essa coisa de aclamação como deseja o prefeito Serra. Unção só o Papa pode dar. Com essa declaração, o prefeito Serra devolveu a bola para a Santíssima Trindade (o presidente nacional do partido, Tasso Jereissati, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves), que agora vai ter que determinar parâmetros para definir como será a escolha do candidato. O governador Alckmin aceita essa consulta prévia, que pode ser a reunião do Diretório Nacional ampliada, com os governadores, deputados, senadores, etc, mas aclamação de um candidato pelo triunvirato não vai ser possível - disse um assessor do governador.
Os partidários de Alckmin continuam exibindo autoconfiança. Dizem que o governador teria o apoio de cinco governadores, 19 diretórios estaduais, 38 deputados federais e outros tantos estaduais, que lhe dariam maioria no Diretório. Diante da situação criada, é possível, dizem fontes do partido, que nesta terça não seja anunciado um nome, como prometido, mas o procedimento a ser adotado para sua escolha.
Confiante de que será o candidato indicado pelo partido, Alckmin disse não fazer questão de disputar reeleição, caso seja o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, um mandato de quatro anos é suficiente, desde que se "trabalhe para valer".
De acordo com pesquisa feita pelo Centro de Pesquisa Motivacional (CPM Research), encomendada pela ONG Ágora do Eleitor, para 70% dos paulistanos Alckmin e Serra não devem deixar os cargos que ocupam para disputar outros.
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