O candidato José Serra superou a duras penas a barreira da escolha do vice e terminou a semana com fôlego novo para a largada oficial da campanha. O placar dos votos voltou a mostrar liderança dividia na corrida e exigirá de todos a difícil tarefa de não errar daqui por diante.
O presidenciável do PSDB e sua principal adversária, Dilma Rousseff (PT), estão tecnicamente empatados segundo o Datafolha desta sexta-feira, uma mudança de cenário em relação ao Ibope da semana passada, que dava a petista pela primeira vez na liderança com vantagem de 5 pontos percentuais.
O Datafolha mostrou o tucano com 39 por cento após sua superexposição nos comerciais de TV do PSDB e de aliados. A rival levou 38 por cento.
"No dia 5, quando tudo começa legalmente, teremos duas forças políticas similares e com uma diferença brutal em termos de preparo e de experiência entre os candidatos. Vamos apostar na biografia", disse à Reuters o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA).
A campanha tucana chega à esta etapa da eleição tendo zerado com o Democratas o cronômetro de um desgaste que quase lhe custou o apoio efetivo do principal aliado. Este e ao menos outros quatro episódios expuseram uma silhueta errática da campanha nos últimos meses.
"É hora de botar a cabeça no lugar. Qualquer erro agora pode ser fatal", comentou o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília.
Desde que deixou o governo de São Paulo para se dedicar à sucessão presidencial, Serra perdeu energia com cizânias paroquiais que geraram crises e viu a rival avançar sobre ele.
O tucano tentou sem sucesso evitar a presença do DEM na chapa. Escolhera a combinação pura com o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para trazer o irmão do parlamentar, Osmar (PDT-PR), a seu palanque. O erro - o mais recente de cinco - foi remediado não pelo mau passo, mas por um empurrãozinho inesperado do pedetista, que preferiu na última hora ir de Dilma, tirando o próprio parente do altar.
O novo vice, deputado de primeiro mandato e com a bandeira do Ficha Limpa amarrada no braço, deu conta de suspender o litígio partidário com o Democratas.
Não se sabe se Indio da Costa cumprirá a anunciada missão de atrair o eleitorado jovem e se trará, de fato, o voto do Rio de Janeiro, terreno hoje favorável à petista. E nem se convence o eleitor sobre suas condições de substituir o presidente em caso de necessidade. Seja como for, sua nomeação assegurou estabilidade emocional à coligação.
A origem de tamanho desacerto vem lá de trás e tem nome: Aécio Neves. O erro inicial da campanha foi ter superestimado a presença do mineiro na chapa, sem ser capaz de evitar por vários meses a noção de que tê-lo na vice era vital para vencer as eleições.
Forte no segundo maior colégio eleitoral do Brasil, o último não de Aécio soou como derrota. Fez isso ao voltar das férias de três semanas no exterior em maio quando a sucessão ficava mais aguerrida. Coincidência ou não, Dilma Rousseff crescia no Estado naquele período.
A demora em ocupar a vice se transformou no assunto central. "Agora posso me dedicar a discutir propostas para o Brasil", admitia aliviado o próprio Serra ao anunciar seu companheiro de chapa.
Poder de Lula
Lá atrás, outro passo em falso. A campanha subestimou por muito tempo o poder de transferência de voto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua candidata.
A alta popularidade do presidente inflou a ex-ministra e puxou o terceiro erro da campanha oposicionista. Serra optou por um jogo confuso, já que as sondagens apontam por um desejo de continuidade do eleitor nas áreas econômica e social. Disse que Lula pairava "acima do bem e do mal"; depois passou a acusá-lo de aparelhar a República.
"Desvalorizar a capacidade de transferência foi um erro. Agora temos que olhar para a frente e apostar no nosso grande trunfo que é o próprio candidato. Ele precisa de mais contato direto com o povo, investir menos no economês", argumentou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), que desferiu duras críticas ao PSDB no processo de escolha do vice.
"Temos que perguntar ao eleitor: você vai ao médico porque ele é bom ou porque alguém indica? Temos que convencer que é melhor acreditar na pessoa do que no avalista."
Até pouco tempo, o tucano recebia a positiva avaliação de que dirigia uma nau sem muitos reparos. Era a petista quem tropeçava no noticiário nacional.
Na ocasião, o PSDB conferia à campanha seu quarto desacerto. Articulou de forma torta as alianças: atropelou o DEM; investiu sem sucesso sobre o PP e perdeu para a adversária na reta final os 52 segundos do nanico PSC na propaganda eleitoral gratuita.
O PTB Roberto Jefferson, que vazou no twitter a escolha do senador Alvaro Dias sem que a decisão fosse costurada internamente, hoje briga em público com a liderança democrata, alimentando a sensação de desajuste doméstico.
"Vamos ter mais objetividade na nossa mobilização política", prometeu o presidente e coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PE).
Não há um versado em política que não repita o corolário "tem mais chances quem peca menos". A campanha tucana cometeu ao menos cinco falhas até aqui. Não pode se dar ao luxo de completar o jogo dos sete erros.
Centrão não quer Bolsonaro, mas terá que negociar com ex-presidente por apoio em 2026
“Por enquanto, eu sou candidato”, diz Bolsonaro ao descartar Tarcísio para presidente
Ucrânia aceita proposta dos EUA de 30 dias de trégua na guerra. Ajuda militar é retomada
Frei Gilson: fenômeno das redes sociais virou alvo da esquerda; ouça o podcast