Aliados do governador de São Paulo, José Serra, na Câmara, querem rever a reeleição de José Aníbal (SP) à liderança do partido na Casa, que teve o apoio dos deputados próximos ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves.
A crise nascida na Câmara ameaça se estender pelo partido no ano que antecede a eleição presidencial, para a qual os tucanos aparecem bem posicionados de acordo com as pesquisas de opinião. O presidente do PSDB, senador Sergio Guerra (PE), pretende se reunir semana que vem com as duas partes para tentar apaziguar os ânimos.
A crise eclodiu na última quarta-feira, quando o líder do PSDB na Casa, José Aníbal, reelegeu-se com o apoio da maioria dos colegas. O grupo perdedor, no entanto, acusou Aníbal de agir de forma antidemocrática e dar um golpe no estatuto da legenda para viabilizar sua reeleição consecutiva. Foi eleito com 36 votos de uma bancada de 58 deputados.
Secretário de Esportes da Prefeitura de São Paulo e ligado a Serra, Walter Feldman (PSDB) disse que a eleição de Aníbal tem que ser revista e aposta em uma nova votação.
"Vamos manter independência do movimento até que o grupo deles faça revisão", afirmou Feldman, um dos 19 deputados que assinou manifesto contra a recondução de Aníbal à líder do partido.
"Claro que isso é ruim para o PSDB, mas agora é bom que se aprofunde. O que não pode é essa questão ficar mal resolvida", acrescentou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), outro dos 19 dissidentes.
Aníbal rebate e diz que não volta atrás. "Para nós, página virada. Não vou discutir. Dois terços decidem uma posição e eu vou ficar aceitando qualquer tipo de contestação? Eu não", disse o líder.
Feldman (PSDB), que é deputado federal licenciado da Câmara e foi a Brasília para a votação do líder da bancada, compara a mudança do estatuto permitindo a reeleição do líder à possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrer a um novo mandato.
"Depois disso, Lula tem condição de mudar a Constituição para um terceiro mandato", afirmou.
Feldman diz que não recebeu orientação de Serra para a escolha do líder, apenas a recomendação de que ajudasse a manter a unidade da bancada, exatamente o que não foi possível.
"Um racha não é bom para o Serra", afirmou.
Bancada Mineira
Entre os dissidentes, comenta-se de forma privada que Aécio Neves, descontente com a "pacificação" do PSDB em São Paulo, apoiou Aníbal com o objetivo de criar um problema para Serra. Os dois disputam a preferência do partido para concorrer às eleições presidenciais de 2010.
Prova disso, argumentam os dissidentes, é o fato de todos os deputados tucanos mineiros terem votado pela reeleição de Aníbal. Já os parlamentares ligados ao ex-governador Geraldo Alckmin, entusiastas da primeira eleição de Aníbal, desta vez se dividiram.
No mês passado, Serra, em um lance surpreendente, nomeou Alckmin, quase um desafeto político e muito próximo a Aécio, como secretário de Desenvolvimento de seu governo.
"Foi sintomático o comportamento da bancada de Minas", reclamou um dissidente sob a condição do anonimato.
Para Aníbal isso foi apenas "na cabeça deles".
Parlamentar ligado ao governador mineiro e atual secretário-geral do PSDB, o deputado Rodrigo de Castro (MG) nega o envolvimento de Aécio no episódio.
"Nós de Minas tínhamos decidido que votaríamos unidos, mas é uma decisão da bancada, e não uma decisão de Serra ou Aécio", destacou. "Entendemos que o Zé Aníbal é um excelente líder, está fazendo um bom trabalho, e seria bom que ele permanecesse", completou.
Os dissidentes, entretanto, têm uma versão diferente. Segundo um dos integrantes da ala, deputados mineiros participaram de reuniões com o grupo favorável à renovação da liderança, mas depois de receberem telefonemas de Aécio aderiram à candidatura de Aníbal.
Reforçaram ainda o grupo do líder os deputados que querem ter a preferência na indicação para as presidência das comissões temáticas que o PSDB terá direito na Câmara, acusou um dos contrários.
Mesmo assim, Castro disse que nos próximos dias poderá haver uma trégua entre os dois grupos.
"Não teve ainda nenhum diálogo. A gente espera sentar e tentar promover esse entendimento", afirmou.
Entre tucanos, corre a informação de que Aníbal tem a intenção de se candidatar ao governo paulista em 2010. "Ele só pensa no projeto dele, não tem espírito público", disse um parlamentar da legenda.
A intenção esbarra no projeto de Serra, homem forte do partido no Estado, que pensa em lançar seu secretário Aloysio Nunes Ferreira (Casa Civil) para o cargo. Alckmin também trabalha para se candidatar.
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