Imagine que você receba cerca de R$ 6 mil por mês de salário e que é empregado no mesmo local há mais de um ano. Inclua na conta que seus parentes próximos têm o mesmo contratante. Será que você não conseguiria dizer cinco serviços que prestou durante o tempo em que foi contratado?
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Um servidor da Assembleia Legislativa do Paraná, em depoimento ao Ministério Público, declarou que não era capaz, de pronto, de dizer qual o trabalho que prestou no período em que esteve lotado na presidência do Legislativo. As informações fazem parte de uma ação criminal proposta contra o ex-presidente da Assembleia Nelson Justus (DEM) e mais 31 pessoas. A investigação da promotoria aponta que uma rede de funcionários foi montada no gabinete da presidência, durante os anos de 2007 e 2010, para desviar dinheiro público. O depoimento veio a público na noite desta segunda-feira (16), no telejornal ParanáTV, da RPC.
O caso suspeito do funcionário Antonio Wilson Camargo foi mostrado pela Gazeta do Povo e pela RPC em 2010, durante a série Diários Secretos. A reportagem revelou que ele cuidava, junto com os filhos Antônio Wilson Camargo Júnior e Jairo Alexandre Camargo, de uma loja de molduras em Curitiba. Além disso, Junior disse, sem saber que estava sendo gravado, que administrava uma loja de locação de brinquedos infantis e que o trabalho tomava todo o tempo dele. Quando a reportagem procurou a família, Jairo informou que era funcionário da Assembleia e que ia aos bairros, ver quem precisava de “óculos, cadeira de rodas”.
O pai e os dois filhos receberam pela soma de 37 meses de trabalho R$ 242 mil em salários. Contudo, quando foram prestar depoimento no Ministério Público, que passou a investigar uma rede de parentes instalada no gabinete de Justus, eles não souberam dizer o que faziam para a Assembleia. “Gostaria de me omitir. Porque, se você quiser numa outra oportunidade eu vou trazer pra você (...) assim de memória eu vou lembrar o que, sabe, não tem, hoje... nesse horário aqui é meio complicado”, respondeu Antonio Wilson Camargo, quando os promotores pediram que citasse concretamente que serviços prestou. Tampouco soube dizer nomes de lideranças comunitárias que teria auxiliado. Em depoimento, outros funcionários também não souberam precisar quais serviços prestavam.
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