Sete dos 13 suspeitos de ligação com o crime organizado mortos na segunda-feira pela Polícia Civil na região do ABC tiveram velórios e enterros de alto padrão em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, com despesas funerárias de mais de R$ 20 mil. De acordo com o delegado Paul Henry Verduraz, titular do Garra de São Bernardo, os sepultamentos foram bancados pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). O delegado disse também que a facção criminosa ofereceu cestas básicas e "apoio social" aos parentes dos mortos. Apenas três corpos foram levados para cemitérios públicos.
A versão da polícia foi confirmada por funcionários do setor funerário do município. Os corpos de Edson Dantas da Silva, Mário Tavares, Marcelo Alves dos Santos, Wellington de Araújo Carvalho, Evílson Rodrigues de Oliveira, Adriano Wilson da Silva e Gilberto Inácio Ferreira tiveram todas as despesas funerárias pagas à vista (inclusive a compra de um caixão de categoria "Super Luxo", vendido a R$ 1.132,67) e foram enterrados em um único jazigo, comprado na terça-feira por R$ 17 mil no Cemitério Jardim da Colina, particular.
Os sete que tiveram enterros de luxo foram sepultados em um jazigo para oito pessoas. O preço desse jazigo é de R$ 18.610, mas foi concedido um desconto em razão do pagamento à vista, segundo funcionários do cemitério. Com as taxas de velório e sepultamento, que giram em torno de R$ 600 (mais do que o triplo dos encargos para quem opta por um enterro em cemitério público do município), os valores gastos nos sepultamentos dos sete suspeitos ultrapassam a casa dos R$ 20 mil.
O Jardim da Colina é de propriedade particular e, construído em meio a uma grande área verde, serve à classe média e média-alta de São Bernardo. Um jazigo para três pessoas custa pouco mais de R$ 6 mil.
Após contato da reportagem no final da tarde de ontem, por telefone, uma diretora do cemitério particular, identificada apenas como Lídia, disse que o cemitério é "privado" e se recusou a confirmar os valores revelados pelos funcionários. A reportagem acompanhou algumas famílias na espera pela liberação dos corpos e no pagamento das despesas funerárias e constatou que existia um homem negociando em nome das partes envolvidas. Abordado, ele não quis conceder entrevista e disse só que estava "dando um apoio".
Sobre os recursos financeiros da facção criminosa, o delegado Paul Verduraz disse que "eles têm uma receita considerável por mês. Mas não é conveniente divulgar todas as informações (valores pagos pelos membros)". Um sócio da facção criminosa chega a pagar R$ 500 por mês. Durante os velórios no Jardim da Colina, onde o movimento de amigos dos supostos criminosos foi intenso durante toda a tarde, a presença de uma equipe de TV foi rechaçada.
Os promotores Nelson dos Santos Pereira Júnior, de São Bernardo do Campo, e Carlos César de Faria Bernardi, de Diadema, vão acompanhar as investigações sobre a morte dos 13 suspeitos, que ocorrerão em sigilo de Justiça. O delegado seccional de São Bernardo do Campo, Marco Antônio de Paula Santos, disse que nenhum dos mortos era inocente. Todos, segundo ele, tinham antecedentes criminais e estavam ligados à facção criminosa. O delegado negou que os policiais sob seu comando tenham agido sem critério, mas admitiu que alguns suspeitos eram conhecidos só por seus apelidos, mostrando que as investigações foram feitas principalmente por meio de escuta telefônica. Além disso, a polícia contou com informações passadas por inimigos da facção criminosa.
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