O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), chegou pouco depois do meio-dia deste sábado à residência oficial da Câmara na capital federal. Com dois carros de seguranças escoltando o seu, Severino entrou no jardim da residência e só desceu do carro depois que os portões foram fechados, para evitar a proximidade dos jornalistas.
O advogado José Eduardo Alckmin, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, chegou no início da tarde à casa do presidente da Câmara. Na chegada, Alckmin disse que ainda não havia assumido o caso, mas que havia conversado por telefone com Severino, na sexta-feira, quando Cavalcanti ainda estava em Nova York. O advogado disse acreditar que há possibilidade de fraude no documento que teria sido assinado por Severino, prorrogando as concessões de Buani por três anos.- Há indício de montagem de texto e a assinatura não é semelhante a do presidente. O indício é de que há algo de fraudulente, de uma armação para levar a essa situação _ disse José Eduardo Alckmin.-Ele falou também que há contradições, de valores e datas, nos depoimento e entrevista do empresário Sebastião Buani.
ColetivaA expectativa é que Severino dê uma entrevista coletiva no domingo à tarde, para explicar a acusação de que teria recebido propina do empresário Sebastião Buani para renovar irregularmente o contrato de exploração de um restaurante na Câmara.
Severino Cavalcanti estava em Nova York, onde participou de encontro de presidentes de parlamentos na ONU, e chegou a São Paulo às 9h15m deste sábado, num vôo da American Air Lines. Depois, seguiu para Brasília.
A viagem aos Estados Unidos terminou de forma melancólica. Pressionado pelo agravamento da crise política, voltou um dia mais cedo e admitindo a possibilidade de se afastar do cargo. Antes de embarcar, na noite de sexta-feira, repetiu que não renunciará. Mas uma licença já é uma hipótese.
- Licença? Quando chegar no Brasil, informarei. Irei conversar com meus auxiliares em Brasília - afirmou, ainda nos Estados Unidos.
A pressão pelo afastamento de Severino é enorme e os partidos de oposição já ameaçam se rebelar e até boicotar votações presididas por ele. O presidente da Câmara disse a amigos que não tomará nenhuma decisão antes da reunião da Mesa da Câmara, terça-feira. A aposta entre alguns políticos e assessores que o acompanhavam é de que ele pedirá licença do cargo.
Aos aliados políticos, assessores e familiares que permaneceram em Brasília, Severino sustentou, por telefone, que não renunciará ao cargo nem pedirá licença. Apesar dos apelos de aliados para que pelo menos se afastasse do cargo, para cuidar da defesa do mandato, Severino reagiu de forma enfática à proposta.
- Vou morrer lutando. Vou enfrentar essas acusações e provar que sou inocente - disse.
Abertura de processoNa terça-feira, a oposição promete apresentar no Conselho de Ética da Câmara uma representação pedindo abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra Severino. O presidente do conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), informou que o pedido poderá ser apreciado antes dos 18 sugeridos pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. Ele explicou que basta que esta seja a vontade da maioria do plenário do conselho.
- O Conselho de Ética pode decidir, em votação, colocar este caso na frente dos demais - disse.
A intenção de Izar é distribuir os processos para que tramitem simultaneamente. Nesse caso, sem furar a fila, a agilidade dependerá da disposição do relator de convocar as testemunhas de defesa que forem apresentadas por Severino. Izar citou como exemplo o processo de José Dirceu, cuja oitiva de testemunhas será concluída esta semana pelo relator, deputado Julio Delgado (PPS-MG). Depois que o processo por quebra de decoro chega ao conselho, o acusado não se livra da cassação dos direitos políticos mesmo que peça licença ou renuncie ao mandato de deputado.
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