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Esta foi uma semana pródiga em frases espirituosas e inusitadas - por vezes, agressivas - dos políticos brasileiros. Há muito tempo que nos corredores do Congresso e do Palácio do Planalto não se ouviam tantas declarações inspiradas. O encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, superou tanto as expectativas dos 27 governadores que foram à Granja do Torto, que rendeu afagos e elogios de parte a parte. Ao final da reunião, José Roberto Arruda (DF) falou em nome dos colegas e não escondeu de ninguém que todos ficaram satisfeitos com o que ouviram do ministro da Fazenda:

- A reunião ocorreu em clima cordial, aberto e informal até. Eu diria que o ministro Guido Mantega não é tão duro como parece.

Mantega reagiu com bom humor:

- Não sei se isso me ajuda ou compromete porque ministro da Fazenda tem que ser duro mesmo.

Se na reunião com os governadores Lula não produziu uma "pérola", a proeza foi conseguida ao participar de uma cerimônia no Rio de Janeiro. Em seu discurso, o presidente defendeu o combate à Aids ao dizer que é preciso acabar com a hipocrisia e falar abertamente de sexo em casa, na Igreja e nas escolas:

- Não tem como carimbar na testa do adolescente a hora que ele vai fazer sexo. Sexo é uma coisa que quase todo mundo gosta e é uma necessidade orgânica.

Na mesma cerimônia, o governador do Rio, Sérgio Cabral, estimulou os homens a fazerem vasectomia. Segundo ele, que fez a cirurgia este ano, muitos deixam de procurar hospitais públicos por preconceito.

- Muitos homens não procuram o hospital porque acham que tudo vai mudar, mas eu fiz (vasectomia) e posso garantir que não muda nada - disse o governador.

Dois dias depois, o assunto sexo ainda não tinha saído da cabeça de Lula. No encontro com o presidente americano George Bush, em São Paulo, o presidente brasileiro fez a seguinte declaração ao comentar as dificuldades nas negociações da Rodada de Doha:

- Estamos mais próximos do que nunca de uma conclusão bem sucedida das negociações de Doha. Estamos andando com solidez para encontrarmos o chamado ponto G para fazer o acordo - disse Lula, numa alusão ao G-20, o grupo dos 20 maiores países em desenvolvimento que negociam o fim das barreiras comerciais com os países ricos.

No mesmo dia, o neoparlamentar Clodovil Hernandes não perdeu a pose após participar no Senado de uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Perguntado por um jornalista como se sentia ao fazer parte da cerimônia sendo homossexual, o estilista respondeu de bate-pronto:

- Você também é mulher, mas é que você tem vergonha da mulher que você tem e eu não. Ao contrário, é uma honra ter células femininas tão ativas em mim.

Já no Congresso o que não faltou foi arranca rabo. Na reunião da Comissão de Segurança da Câmara, os deputados Raul Jungmann (PPS-PE) e Pompeo de Matos (PDT-RS) trocaram palavras "amáveis" por causa de um requerimento de Jungmann que cria uma subcomissão de controle de armas e munição no país. Pompeo de Matos, que foi a favor da comercialização das armas, acusou Jungmann de não saber perder na campanha do desarmamento e de querer fazer um segundo turno do referendo. Com o dedo em riste, Pompeo chamou Jungmann de traidor:

- O senhor é um traidor! Usa de subterfúgios. É uma raposa em pele de cordeiro! Diz uma coisa aqui e outra para a imprensa. O senhor é acostumado a mentir. Terminou o seu tempo de mentir.

Jungmann reagiu:

- Me respeite. O senhor está aqui para tumultuar. Cale a boca!

Resta agora torcer para que os políticos estejam tão inspirados para o trabalho quanto demonstram estar nas palavras. Desta forma, certamente aumentaria a expectativa por um ano bastante produtivo em Brasília.

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