O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, fez uma dura crítica nesta quinta-feira (11) ao silêncio das Forças Armadas diante do relatório elaborado pelo grupo.Apesar de reconhecer que, hoje, não há "nenhuma indicação de viés antidemocrático" entre militares, ele afirmou que a atitude gera insegurança na sociedade.
"Não tenho nenhuma indicação de que tenha algum tipo de viés antidemocrático ali. Mas o fato concreto é que esse silêncio gera naturalmente insegurança na sociedade. (...) Esse silêncio vai significar que as Forças Armadas não têm convicção de que não fizeram algo certo, e que isso possa ser uma alternativa no futuro", afirmou, em audiência no Senado.
Dallari afirmou ser "inaceitável" os militares não reconhecerem "a responsabilidade institucional que tiveram" e disse ser "esquisito" o silêncio diante do status da comissão -órgão do Estado brasileiro.
"A Comissão Nacional da Verdade não é uma ONG -com todo respeito às ONGs. É um órgão do Estado brasileiro. Se a comissão é um órgão de Estado, como é que outro órgão não se manifesta?", questionou.
Frustração
Ele reconheceu que uma "frustração" da comissão foi não ter avançado na localização de corpos de desaparecidos durante a ditadura militar (1964-1985). Ele voltou a criticar as Forças Armadas ao afirmar que os militares poderiam indicar onde estão restos mortais de desaparecidos na guerrilha do Araguaia.
"As Forças Armadas sabem onde estão os corpos dos desaparecidos [no Araguaia], porque todos que morreram ali morreram numa situação de confronto militar. Quem sabe? Quem fez isso. Não tem milagre."Dallari argumentou que "por mais que tivéssemos insistido", a informação não foi obtida pela comissão.
Orçamento
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade ainda pressionou os congressistas a também cobrarem das Forças Armadas uma mudança de postura. Isso poderia ser feito, segundo ele, diante do papel do Legislativo na definição do orçamento da Defesa.
"O parlamento vota o orçamento deste país. As Forças Armadas têm recebido enorme apoio da sociedade brasileira. O maior investimento hoje no Brasil é o submarino de propulsão nuclear desenvolvido pela Marinha", citou.
Para ele, no entanto, esse gesto de apoio às ações das forças "não está sendo retribuído" pelos militares.
"A todo momento, comandantes militares e ministro vêm [ao Congresso]. (...) O silêncio do Senado, da Câmara, também vai reforçar a ideia de que esse assunto se esgota no relatório. Não quero fomentar crise institucional, (...) mas é importante que haja esse gesto", disse.
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