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Homem de confiança do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu na direção do PT, Sílvio Pereira, de 43 anos, tinha 25 anos de partido. Ex-assessor do diretório municipal de Osasco, por muito tempo viveu na sombra de grandes líderes do partido, mas ganhou prestígio. Na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República, foi responsável pelo mapeamento das alianças nos estados. Organizou a infra-estrutura para a festa de posse e, com o PT no poder, tornou-se guardião do mapa de cargos no governo.

Coube a Silvinho, como é chamado, comandar reuniões para desenhar o mapa administrativo da gestão de Lula. Ele deu nó firme em laços já estreitos com Dirceu e dividiu entre os aliados mais de 20 mil cargos de confiança do governo Lula.

Sociólogo formado pela PUC de São Paulo, Sílvio Pereira volta e meia era enquadrado por fazer declarações à imprensa que incomodavam a direção do partido. No início de junho, disse, em conversa com jornalistas, na sede do diretório nacional, que estava incomodado com a postura de "certos ministros" que, segundo ele, falavam uma coisa em público e outra nas reuniões internas.

CoordenadorDesde 1980, quando ingressou no diretório municipal de Osasco, Silvio Pereira é um profissional a serviço da máquina partidária com passagens também pelos diretórios municipal paulistano e regional de São Paulo. Antes de assumir a tarefa de negociar com petistas e aliados a partilha dos cargos federais nos estados, Silvinho foi o coordenador operacional de todas as campanhas presidenciais de Lula.

A sua dedicação ao partido só não era maior do que o folclore criado pelo fato de fazer trocadilhos de ditados e expressões populares. O próprio Silvio Pereira já admitiu que costuma se confundir e fazer muito petista rir por isso, mas diz que virou lugar-comum atribuir-lhe chistes que não foram ditos por ele.

- Sou meio atrapalhado. O pessoal já está acostumado. Mas muitas coisas são atribuídas a mim sem que as tenha dito - disse certa vez.

Durante reunião da qual participava o então presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), Silvinho chegou atrasado e foi logo dizendo: "Desculpe pegar o bode andando". Quando a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) era prefeita de São Paulo, numa reunião de avaliação de sua administração, todos riram enquanto Silvio protestou:

- Mais respeito, o que estou falando é sério...

Todos estavam rindo, porém, de um desenho, feito por um dos presentes, mostrando olhinhos atrás de uma peneira e que fora inspirado numa frase dita por Silvio segundos antes: "Não adianta tapar os olhos com a peneira".

Em conversa com o jornalista Eugênio Bucci, atual presidente da Radiobrás, ele usou a expressão "diabo aquático" em vez de "diabo a quatro".

Essas histórias são amplamente conhecidas no PT, tanto que Lula, numa de suas passagens pelo Rio, num encontro casual com a atriz Marisa Orth, a Magda do "Sai de Baixo", no Hotel Glória, relatou trocadilhos de Silvinho que foram parar nas falas da atriz no programa de televisão.

Essa é uma das faces de alguém que participou das principais disputas internas do PT desde a sua criação. O primeiro embate ocorreu em 1980, quando, aliado ao líder sindical José Ibrahim, formou uma chapa de base que venceu a convenção de Osasco.

- A primeira sede do PT em Osasco foi numa sala que ficava atrás da lanchonete Cebolinha, que pertencia à família do Silvio. Ele passava o dia vendendo cachaça e quibe no balcão do bar e de olho no que acontecia no partido - contou João Paulo Cunha, companheiro daquela época.

Silvio foi um dos signatários do Manifesto dos 113, lançado em 1983, em torno do qual se criou a tendência Articulação, que comanda o partido até hoje. Dez anos depois, em 1993, foi um dos signatários de um outro manifesto, "Hora da verdade", ao lado de Rui Falcão, Arlindo Chinaglia e Valter Pomar, que resultou na criação da tendência conhecida hoje por Articulação de Esquerda.

Dois anos depois, contando com companheiros que tinham assinado o manifesto "Hora da verdade", garantiu os votos que ajudaram a eleger José Dirceu para a presidência do PT. Em 1997 foi eleito pela primeira vez para o diretório nacional e, dois anos depois, assumiu a Secretaria de Organização do PT.

Nessa tarefa, embalado pela obsessão de José Dirceu para modernizar e profissionalizar o PT, Silvinho criou o cadastro único de filiados. Ele também participou, ao lado de Plínio de Arruda Sampaio e do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), da elaboração do estatuto do PT, que foi usado para dobrar os petistas que resistiam a apoiar a reforma da Previdência. Por isso, nada mais natural para Silvio Pereira do que ter jogado duro com os rebeldes que acabaram expulsos do partido.

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