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Fernando Lugo: deposição da presidência do Paraguai despertou diversos posicionamentos governamentais | Mario Valdez/Reuters
Fernando Lugo: deposição da presidência do Paraguai despertou diversos posicionamentos governamentais| Foto: Mario Valdez/Reuters

História

Média de mandatos de presidentes do Paraguai é de 1 ano e 7 meses

O Paraguai tem uma história política conturbada. Nos últimos 112 anos passaram pela presidência 43 ocupantes, contando o atual Federico Franco, que era vice de Fernando Lugo.

Se retirado o período da ditadura de Alfredo Stroessner (1954/1989), a média dos mandatos de presidentes paraguaios é de um ano e sete meses. Os eleitos saíram prematuramente após golpes, impeachment, doenças e outras interrupções. "As chances de que um presidente termine seu mandato no Paraguai são pequenas, pois o golpe político é tradição por lá e a população se acostumou com os mandatos interrompidos. Olhando dessa forma, Lugo, que quase terminou seu mandato, apesar de sua fragilidade no governo, até ficou bastante", comenta Marcelo Coutinho, professor de Relações Internacionais da UFRJ e Iuperj. Mesmo com o presidente Lugo tendo sido retirado do governo em 48 horas, o país não saiu em peso às ruas em defesa de seu presidente.

A falta de uma forte mobilização popular deve ser entendida dentro da cultura política paraguaia, com uma população que passou por três décadas de ditadura. "Pela primeira vez, um governo de alternância tinha se estabelecido, trazendo uma força para a democracia do país", diz Victória Darling, professora da Unila.

Já o doutor em Direito e Relações Internacionais Eduardo Saldanha diz que não é surpresa para os paraguaios que o presidente Lugo tenha sofrido um forte desgaste em seu governo, pois desde a campanha defendia causas polêmicas. "A conduta de Lugo sempre foi muito duvidosa. No processo eleitoral, defendeu mudanças no contrato de Itaipu de forma irresponsável. E durante seu governo, em diversos momentos agiu da mesma forma."

A deposição de Fernando Lugo da presidência do Paraguai gerou posicionamentos governamentais, alguns defendendo sanções e outros o direito constitucional daquele país. Apesar da grande repercussão, esse não foi o único ato recente ocorrido em países da América do Sul que colocam em questão o amadurecimento da democracia nos países vizinhos.

Na Argentina, a presidente Cristina Kirshner promoveu, em maio, a expropriação da YPF, a maior empresa de energia do país, além de estar em guerra com os principais periódicos argentinos, o Clarin e La Nacion. Presidentes da Venezuela, Equador e Bolívia já decretaram estatizações de empresas de energia e petróleo e Hugo Chávez, da Venezuela, há 12 anos no governo, tem usado mecanismos para ficar mais seis.

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Fragilidade das instituições governamentais, falta de alternância no poder, pouca participação política, ou instabilidade no direito privado podem ser falhas justificadas por serem "democracias jovens", que, após passarem por períodos longos de regime ditatorial, estão construindo estabilidade. Os países latino-americanos têm experiências democráticas variadas, alguns viveram longos períodos de ditadura, outros com regimes mais frágeis e ainda alguns, como Venezuela, com um dito estado democrático, porém na "corda bamba".

Mas o professor de Rela­­ções Internacionais da UFRJ e Iuperj Marcelo Coutinho, coordenador do Laboratório de Estudos da América La­­tina da UFRJ, diz que é necessário distinguir comportamento antidemocráticos de ruptura da ordem democrática. "Um presidente eleito legitimamente retirado do mandato de um dia para o outro é um fato que não ocorre nem em regimes parlamentaristas", diz Coutinho. Ele compara o caso do Paraguai com o Brasil, que passou por um processo de impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, mas com uma tramitação regular, após investigação e muita discussão. "Houve direito de defesa e foi feito um longo processo que foi extraordinário. A democracia do Brasil ganhou com aquele processo", afirma.

A decisão do Congresso paraguaio foi arbitrária na opinião de Victória Darling, doutora em Sociologia e professora de Fundamentos da América Latina na Unila. Ela diz que os motivos não se sustentam e o processo foi muito rápido. "Usaram mecanismos institucionais com a justificativa de salvaguardar a democracia para afetar a própria democracia", diz Victória. A professora entende que, o ato do impeachment pode ter sido legal, mas não legítimo. "Foi um golpe de Estado que não necessitou de um golpe militar, inaugurando uma nova forma de violência política explícita contra a democracia."

Coutinho diz que há uma regra democrática geral para todas as democracias. "Não é possível haver democracia sem o direito a ampla defesa e no caso do Paraguai não houve respeito a este direito. Foi rito sumário", diz.

A constituição paraguaia foi respeitada, na opinião do doutor em Direito e Relações Internacionais Eduardo Saldanha. "O governo paraguaio de forma soberana tomou uma decisão que pode ser discutida quanto aos motivos que levaram ao impeachment. Mas é uma irresponsabilidade avaliar que não houve oferta de ampla defesa porque estamos recebendo informações de fontes, porém nem mesmo diplomatas brasileiros que estão lá podem, de forma concreta, dizer o que ocorreu, pois não temos acesso aos detalhes ao processo", diz Saldanha.

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