Há nove meses na cadeira de presidente da República, Michel Temer (PMDB) se vê mais pressionado do que nunca. Pesquisa CNT/MDA, divulgada nesta quarta-feira (15) pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), aponta a pior avaliação do governo do peemedebista até aqui. Para especialistas, os números são reflexo das tentativas de blindagem em relação à Operação Lava Jato e do momento ainda ruim da economia.
Segundo o levantamento, a avaliação negativa do governo aumentou nos últimos quatro meses chegando a 44,1% contra 36,7% do final de 2016. Em mesma medida, a avaliação positiva caiu e foi para 10,3%. Em outubro do ano passado, esse índice era de 14,6%.
Presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli afirma que esses números se devem principalmente ao cenário econômico. Segundo ele, a população não está sentindo no bolso a melhora prometida por Temer quando assumiu o poder. “Era grande a esperança de que a situação se revertesse rapidamente, mas isso não ocorreu, o que gera uma decepção grande em relação aos anseios de melhora que a população tinha”, avalia. “É o que Karl Marx dizia: dê estabilidade econômica ao povo e ele dará sustentação ao governo; dê instabilidade econômica ao povo e ele derrubará o governo.”
Crise na segurança e comunicação deficitária
Cientista político e presidente da consultoria Arko Advice, Murillo de Aragão ainda destaca a crise na segurança pública como outro fator para a avaliação majoritariamente negativa do governo Michel Temer (PMDB). Ainda que o presidente não tenha responsabilidade direta na gestão dos presídios onde houve rebeliões e mais de 100 mortes – Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte – nem na greve de policiais militares no Espírito Santo, ele avalia que esses episódios certamente contaminaram a imagem do peemedebista.
“Também vejo certa deficiência na comunicação do governo. Não se trata de erros nem de acertos, mas de uma estratégia de maior intensidade”, argumenta Aragão.
Murillo de Aragão, cientista político e presidente da consultoria Arko Advice, também cita o ambiente econômico ruim para justificar a má avaliação de Temer, mesmo com a inflação de janeiro tendo sido a mais baixa para o mês nos últimos 20 anos. O próprio peemedebista mencionou o dado em evento no Palácio do Planalto no mesmo dia da divulgação da pesquisa.
“Isso tem de ser levado em conta. Nós temos de considerar esses fatos para que outros fatos eventualmente criticáveis não possam superar aqueles que são positivos para o país”, disse o presidente. A favor dele para o próximo levantamento, dizem os especialistas, deve pesar a liberação de saques das contas inativas do FGTS a partir do dia 10 de março.
Lava Jato
Além de a economia seguir patinando, Temer convive com o fantasma da Lava Jato batendo à porta insistentemente. E o peemedebista também não parece se esforçar muito para evitar críticas em relação ao tema. No início do mês, ele anunciou a nomeação de Moreira Franco como ministro da Secretaria Geral da Presidência apenas três dias depois da homologação das delações da Odebrecht. Citado em depoimentos de ex-executivos da empreiteira, o novo ministro garantiu foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelas mãos do presidente.
A própria morte do ministro da Corte Teori Zavascki prejudicou a avaliação de Temer, mesmo ele tendo falecido em um acidente aéreo. Para Murillo de Aragão, o episódio se somou negativamente à extensa lista de idas e vindas do governo em torno da Lava Jato nos últimos meses. “Nomear o Moreira Franco, por exemplo, leva para as manchetes que o Temer tenta atrasar a Lava Jato. Isso acaba dando razão aos números da pesquisa”, concorda Carlos Manhanelli.
Apesar de apoiarem o governo Temer, os grupos MBL (Movimento Brasil Livre) e Vem Pra Rua convocaram manifestações pelo país para o dia 26 de março, em nome do “bom andamento” da Lava Jato. E uma das motivações foi justamente a nomeação de Moreira Franco como ministro.
Ficha técnica
A pesquisa foi realizada entre os dias 8 a 11 de fevereiro. Foram ouvidas 2.002 pessoas, em 138 municípios de 25 unidades federativas, das cinco regiões. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais com 95% de nível de confiança.
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