Em seu discurso de despedida do cargo de presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, o deputado Nelson Justus (DEM) enfrentou uma mescla de vaias e aplausos. Durante os cerca de 30 minutos em que usou a tribuna do plenário, Justus afirmou que deixa a presidência da Casa com o sentimento de dever cumprido, por entregar a Valdir Rossoni (PSDB) uma Assembleia "transparente, moderna e conectada com os anseios da população". O parlamentar ainda criticou o que chamou de "má imprensa", sem citar o nome de veículos de comunicação, em virtude de denúncias que atingiram a Assembleia em sua gestão.
Parlamentares e convidados presentes na solenidade de posse dos deputados entenderam se tratar de uma crítica à Gazeta do Povo e à RPC TV, que publicaram no ano passado a série de reportagens Diários Secretos. As matérias revelaram um esquema que, segundo o Ministério Público, desviou ao menos R$ 100 milhões dos cofres do Legislativo por meio da contratação de servidores fantasmas e "laranjas". Justus inclusive foi denunciado pelo MP à Justiça por improbidade administrativa devido ao escândalo. O Ministério Público alega que ele, mesmo não tendo se beneficiado com o dinheiro desviado, teve responsabilidade por ser presidente da Casa.
No discurso, o ex-presidente da Casa considerou as denúncias que atingiram a Assembleia, sem especificar quais, foram "manifestações covardes e sensacionalismo". Durante toda a sua fala, o ex-presidente da Casa procurou desqualificar a série de denúncias.
"O povo nos colocou neste Parlamento através do voto. Ninguém chegou aqui por nomeação, sorteio, herança ou qualquer indicação", afirmou. "Mas não são todos que valorizam a vontade popular. Assistimos perplexos após as eleições algumas figuras menos inteligentes atacar diretamente o poder do voto, porque alguns dos eleitos não seriam do agrado desses comentaristas."
Em seguida, Justus disse que alguns desses críticos "deveriam reduzir seus bigodes para combinar com o ditador mais hediondo da humanidade [Adolf Hitler]". A declaração, segundo deputados próximos ao ex-presidente da Casa, seria ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná, José Lucio Glomb, que foi um dos principais críticos às irregularidades da Assembleia.
Na sequência, Justus recebeu as primeiras vaias ao afirmar que ele e os outros 53 parlamentares "são os primeiros a passar pelo rigoroso crivo da Lei da Ficha Limpa". Ressaltando que todos foram aprovados pela legislação eleitoral, o deputado do DEM argumentou ainda que a Justiça não condenou nenhum integrante da Mesa Diretora chefiada por ele. "Infelizmente, há aqueles [na imprensa] que mentem e omitem com o objetivo de atingir objetivos nada nobres", disse. "Não é possível admitir que o papel do presidente da Casa seria ler todos os diários oficiais para conferir o trabalho dos demais departamentos." Segundo as denúncias da Gazeta do Povo e da RPC TV, as contratações dos fantasmas que permitiram o desvio do dinheiro público eram escondidas da sociedade por meio da ocultação de diários oficiais da Assembleia.
Justus foi novamente vaiado enquanto elencava "avanços" implantados por ele na presidência, como o recadastramento dos servidores, a criação do Portal da Transparência e da TV Sinal e a instalação do painel eletrônico das votações. Após o deputado Caíto Quintana (PMDB), que presidia temporariamente a sessão, pedir respeito por parte dos convidados, Justus foi aplaudido demoradamente.
Ao fim da sessão, questionado se deixava a presidência da Assembleia com a popularidade baixa, Justus refutou essa hipótese e afirmou que recebeu mais votos no ano passado do que na eleição de 2006. O que não é verdade, entretanto. Em 2006 ele fez 44.430 votos e, em 2010, 43.035. "São os mesmos adversários de plantão. Isso não me ofende, até porque sou, acima de tudo, um democrata. São quase 50 mil votos contra uma meia-dúzia", defendeu-se. Em relação a sua atuação parlamentar de agora em diante, o ex-presidente da Casa disse que será vigilante e participará intensamente das comissões. Ele, porém, não confirmou se pretende disputar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), como se cogita.
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