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Governo perde maioria absoluta e terá de barganhar por apoio
O governo de Beto Richa (PSDB) começou a semana com uma base de 48 deputados estaduais. No entanto, o cenário mudou.
A pressão dos professores, da população em geral, afetada pela greve, e o noticiário amplamente desfavorável levaram a base a encolher. Na sessão da última terça-feira, já houve 13 defecções. O governo aprovou o requerimento de comissão geral por 34 a 19. Isso foi antes da ocupação do plenário.
Ontem, sem qualquer votação importante em pauta, já que o requerimento de comissão geral e os projetos do "pacotaço" só voltam à ordem do dia hoje, houve mais uma deserção. O deputado Palozi, do PSC, afirmou que, do jeito que as coisas estão, "não tem condições" de votar a favor do governo.
A margem de manobra do governo encolheu visivelmente. Para aprovar o pacote, precisa de 27 votos, no mínimo. com 33, tem apenas seis deputados a mais do que o necessário. A partir de agora, cada um que faltar, que mudar de lado, fará falta.
E, sabendo disso, é de se imaginar que o poder de barganha aumente rapidamente. Sob o risco de mais baixas na base, o governo poderá ter de ceder cada vez mais. E a vitória no plenário, caso venha, poderá ter alto custo político para Richa.
Com o plenário tomado por servidores desde a tarde da última terça-feira, a Assembleia Legislativa do Paraná realizou a sessão de ontem no restaurante da Casa, de forma improvisada. Os deputados da base aliada reapresentaram requerimento para transformar hoje o plenário em comissão geral e aprovar, na base do "tratoraço", os dois projetos do governo com medidas impopulares ao funcionalismo.
O principal argumento é que, se as propostas não forem aprovadas o quanto antes, a folha de fevereiro do funcionalismo estará em risco. Diante da recusa do Executivo em retirar os projetos, não há sinais de que os servidores deixarão a Assembleia por vontade própria, mesmo com uma decisão judicial para que eles desocupem a Casa.
Fortemente cercado por policiais da tropa de choque, o prédio administrativo, onde fica o restaurante de uso exclusivo dos deputados, só pôde ser acessado por profissionais da imprensa, para acompanhar a sessão que começou por volta das 15 horas. Mais cedo, no gabinete da presidência, a sessão interrompida com a invasão do plenário no dia anterior foi formalmente encerrada. Com isso, a comissão geral aprovada por 34 votos a 19 perdeu efeito, pois só valia para a votação das propostas na terça-feira.
Um dos únicos a fazer uso do microfone, o líder do governo, Luiz Claudio Romanelli (PMDB), repetiu por quase vinte minutos o discurso que havia feito no plenário, sob vaias, antes de os manifestantes invadirem a Casa. "Não somos uma ilha, o momento é grave no país inteiro. As medidas são duras, e temos de fazer o que é necessário."
Num pedido incisivo, o líder do PSDB, Francisco Bührer, solicitou a Romanelli que ele esclarecesse em definitivo os projetos do Executivo à imprensa e à população, porque os deputados sofrem uma pressão muito grande. "É preciso ficar claro que focinho de porco não é tomada", cobrou o tucano, sendo aplaudido por alguns colegas.
"Nenhum servidor vai perder R$ 1 com essas propostas. Quem disser o contrário estará faltando com a verdade", disse o líder do governo.
Na sessão convocada para hoje, novamente no restaurante da Assembleia, os deputados analisarão primeiro o requerimento de comissão geral. Se ele for aprovado, as propostas do governo serão discutidas em até quatro votações em sequência.
Boicote
Sem painel eletrônico e o mínimo de estrutura para abrigar 54 deputados, assessores, taquígrafos e jornalistas, o restaurante do Legislativo foi adaptado com cadeiras e poltronas e um cercadinho para a imprensa. Os parlamentares foram chamados nominalmente e iam respondendo "presente".
Por discordarem da forma como a situação está sendo conduzida, oito deputados os seis de oposição, mais Nelson Luersen (PDT) e Palozi (PSC) boicotaram a sessão. "A realização de sessão plenária em local que não seja o plenário, sem a participação popular, aumenta o impasse e potencializa a tensão entre o governo e trabalhadores. [O cenário] é resultado da falta de diálogo e intransigência do governo Beto Richa e da base aliada", afirmaram os ausentes, por meio de nota.
Richa evita a imprensa e despacha no Chapéu Pensador
Diego Antonelli e Rogério Galindo
Desde terça-feira o governador Beto Richa (PSDB) e assessores próximos despacham no Chapéu Pensador, sede da Copel no Bigorrilho, em Curitiba. Seguranças da portaria negaram que Richa estivesse lá. No entanto, a reportagem confirmou a presença do governador. Ele optou pelo Chapéu ao invés de utilizar o Palácio Iguaçu, no Centro Cívico região que está tomada pela manifestação dos professores da rede estadual.
Richa ressuscita, assim, o gabinete alternativo e improvisado que foi criado pelo ex-governador Jaime Lerner.
Lerner usava o Chapéu Pensador, uma construção de madeira e vidro cercada de verde, para despachar e reunir o secretariado durante os oito anos que esteve à frente do governo do Paraná.
Entrevista
O chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra (PSD), foi ao ParanáTV 1.ª Edição, da RPC, ontem. Sciarra negou que Richa esteja fugindo de aparecer em público durante os momentos de tensão.
Segundo o secretário, o governo "não se negou ao diálogo". Prova disso, segundo ele, seria o fato de que alguns pontos foram retirados do projeto, como o fim dos quinquênios. O secretário disse que, com isso, o governo "demorará mais" para recuperar o caixa.
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