Com base no mesmo roteiro adotado para investigar a arrecadação política e partidária do PP e do PT, a força-tarefa da Operação Lava Jato trabalha para ampliar as provas de repasses a políticos do PMDB a partir dos dados de contas e offshores de operadores de propinas. A investida sobre os peemedebistas coincide com a provável chegada ao Palácio do Planalto de Michel Temer, vice-presidente da República e presidente de honra do PMDB.
Em conversas reservadas e apurações sigilosas, autoridades ligadas à Lava Jato indicam que a força-tarefa está próxima de revelar dados e transações capazes de produzir impacto direto no chamado núcleo político, sustentado pelos supostos operadores de propina do PMDB no esquema de corrupção e desvios na Petrobras: Fernando Soares, o Fernando Baiano, e João Henriques.
Com isso, estão na mira o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), o ex-ministro e senador Edison Lobão (MA) e o senador Valdir Raupp (RO).
Para a Lava Jato, o PMDB, a exemplo de PT e PP, empregou uma sistemática para arrecadar propina e lavar dinheiro no exterior com foco em contratos de plataformas, poços de petróleo, negócios com multinacionais estrangeiras, aquisições e vendas de refinarias fora do País, como Pasadena (EUA).
Por meio da análise das mesmas offshores e contas usadas por João Henriques e Fernando Baiano para transferir propina aos então diretores da Petrobras, procuradores da força-tarefa estão no caminho de novas provas do envolvimento e o recebimento de valores por políticos do PMDB.
Navios-sonda
Fernando Baiano e João Henriques teriam pagado propinas em um pacote de quatro contratos de navios-sonda, usados para exploração de petróleo em alto-mar. Os beneficiários na estatal foram dois ex-diretores da área Internacional, Nestor Cerveró e Jorge Zelada, sustentados politicamente nos cargos, segundo a força-tarefa da Lava Jato, pelo PMDB.
“João Henriques teria operado a propina do navio-sonda Titanium Explorer por intermédio de um contrato de agenciamento internacional. Assim, a documentação apreendida corrobora a tese no sentido de que o acusado utilizou de empresas offshores para intermediação de propina em favor do PMDB mediante desvios da diretoria internacional da Petrobras”, diz a Procuradoria em processo contra Zelada e Henriques.
João Henriques é uma figura central nessa apuração. O operador chegou a ser preso no ano passado e denunciado por corrupção. Só nesta ação penal, ele é acusado pelo acerto de US$ 31 milhões em propinas em negócio da Diretoria Internacional da Petrobras, em 2009, então sob comando de Zelada. “Parte desse valor, US$ 10,8 milhões, teria sido repassada para o PMDB”, diz a Procuradoria.
A força-tarefa considera ter elementos para apontar que João Henriques tenha distribuído propina em projetos de gasodutos na bacia de Santos, na compra de Pasadena, na venda Refinaria San Lorenzo, na Argentina, além de outras obras como a reforma do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes), no Rio. A quebra de sigilo de uma de suas empresas mostrou que Henriques recebeu comissões milionárias na maior parte desses projetos.
Frentes
A Lava Jato tem outras duas frentes de investigação que atingem o PMDB: a corrupção revelada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa na Transpetro, subsidiária da estatal, e as investigações do setor elétrico, como as obras de Belo Monte. No caso da Transpetro, o maior risco é para o presidente do Senado, Renan Calheiros, padrinho do ex-presidente Sérgio Machado, que comandou a subsidiária durante os governos Lula e Dilma.
Costa revelou ter entregue R$ 500 mil a Machado, por propina referente ao afretamento de navios. No caso do setor elétrico, o executivo Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, confessou que houve pagamento de propina de cerca de R$ 150 milhões na obra, divididos pela metade entre PMDB e PT. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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