Brasília (AG) A votação de requerimentos semelhantes em diferentes CPIs provocou discussões na comissão que investiga denúncia de corrupção nos Correios. O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), reconheceu na quinta-feira, dia de votações de requerimentos, que há sobreposição dos trabalhos das comissões e que há equívocos que precisam ser superados com o realinhamento dos trabalhos. É exatamente para colocar ordem na Casa que os presidentes e os relatores das CPIs foram chamados para uma reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na próxima terça-feira. Calheiros quer tentar agilizar os procedimentos e antecipar a conclusão dos trabalhos.
"A CPI dos Correios tem um foco claro que são os Correios e a movimentação financeira do senhor Marcos Valério, focada nas origens. E nós estamos vendo requerimentos sendo aprovados em outras CPIs que estão ligados às origens", disse o presidente da CPI dos Correios.
Delcídio acredita que a comissão dos Correios deve investigar a origem dos recursos do empresário Marcos Valério, que poderiam ter abastecido o suposto esquema de mesadas a parlamentares, enquanto a CPI do Mensalão deve apurar o destino desses recursos. Segundo ele, a "desordem" pode atrapalhar as investigações. "Acho que algumas pessoas têm, efetivamente, interesse em que transformemos tudo em uma grande desordem. E aí ninguém vai ser punido."
O senador se refere à decisão da CPI dos Bingos de aprovar a convocação do doleiro Antônio Claramunt, o Toninho da Barcelona, ouvido por um grupo de membros da CPI dos Correios em viagem a São Paulo e também convocado para depor na CPI. A data será marcada em reunião conjunta com os presidentes das demais CPIs que também vão ouvir o doleiro e do secretário de Segurança de São Paulo, Saulo Queiroz. Toninho diz ter feito troca de dólares para integrantes do PT.
A CPI do Mensalão decidiu que vai ouvir o empresário José Carlos Batista, da Guaranhuns Empreendimentos, na próxima terça-feira, dia 30, decisão anunciada no mesmo dia em que a CPI dos Correios aprovou a convocação de representantes da empresa e da corretora Bônus-Banval, usadas, segundo Marcos Valério, para repassar parte dos recursos destinados ao PT. "A concorrência exacerbada entre as CPIs vai trazer ainda alguns dissabores ao governo. Hoje (quinta-feira), por exemplo, nós vimos que uma CPI até inspecionava, até ficava fazendo investigação na outra, para ver o que é que estava sendo levantado, o que é que ia ser votado na outra", critica o senador Ney Suassuna (PMDB-PB).
Os parlamentares da CPI do Mensalão aprovaram também os requerimentos de convocação do ex-presidente do PT José Genoíno e do deputado Pedro Corrêa (PP-PE). As datas dos depoimentos não foram marcadas. A CPI decidiu ainda quebrar o sigilo de Genoíno. Já a CPI dos Correios marcou para o dia 6 de setembro o depoimento do ex-ministro Luiz Gushiken. Além disso, duas comissões dos Correios e do Mensalão decidiram convocar Daniel Dantas, dono do banco Opportunity, que depõe dia 14 de setembro na CPI que investiga os contratos dos Correios. Controlador da Amazônia Celular e da Telemig Celular, clientes das agências de Marcos Valério, Dantas foi convocado pelas duas comissões porque suas empresas pagaram cerca de R$ 145 milhões às agências de Valério. A CPI do Mensalão quer ouvir na próxima quarta-feira, dia 31, os presidentes dos fundos de pensão, enquanto a CPI dos Correios já pediu a quebra de sigilo das aplicações no Banco Rural e BMG de outros sete fundos de pensão. Para Delcídio, os fundos de pensão devem ser investigados pela CPI dos Correios.
Para o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), Renan Calheiros pode definir o papel de cada comissão. "O procedimento mais indicado é reunir os três presidentes das comissões para delimitar atribuições", diz Serraglio.
Ninguém mais esconde a competição entre as CPIs e as crises de ciúme. "Nós temos que evitar que esta disputa contamine os trabalhos. Nós temos que ter uma visão muito maior do que está em jogo neste momento", avalia o deputado Gustavo Fruet (PSDB/ PR). Mas na opinião do presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), não há propósitos em desordenar os trabalhos.
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