Peso político
Partido é essencial para manter a governabilidade
A revolta do PMDB tira o sono do governo federal porque o partido é essencial para manter a governabilidade. "O cálculo é simples. Se o PMDB é maioria, o governo fará de tudo para não romper. O movimento da democracia é este: mais votos, mais força", diz Octaciano Nogueira, cientista político da Universidade de Brasília.
Desde que começou a movimentação do bloco de partidos insatisfeitos, o governo Dilma já sofreu duas derrotas na Câmara Federal. Os deputados criaram uma comissão para acompanhar denúncias de que funcionários da Petrobras recebiam propina na Holanda. Também chamaram dez ministros para prestar esclarecimentos sobre assuntos espinhosos de suas pastas além da presidente da Petrobras, Graça Foster, para esclarecer a denúncia sobre a estatal.
"Como é um partido grande, o PMDB tem maior influência que os outros. Por isso, pode fazer exigências e jogar com as votações dentro da Câmara", diz Nogueira. Para ele, romper com o maior partido da base vai ser ruim para o andamento do governo. "Não se governa sem o partido majoritário, que é quem dá as cartas", diz ele.
A rebelião do PMDB na Câmara dos Deputados que reuniu outros sete partidos da base aliada teve como mote inicial a distribuição de cargos no primeiro escalão do governo federal. Mas o pano de fundo é a nova estratégia eleitoral do PT, que desde 2012 vem fortalecendo candidatos petistas nos estados que reúnem 60% do eleitorado brasileiro. Isso ameaça enfraquecer o PMDB em seu "espaço político" os municípios, os estados e o Congresso.
"Em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná [seis maiores colégios eleitorais do país], o PT tratou de consolidar possibilidades de eleição, tanto nos governos estaduais como em cidades maiores. Se isso se concretizar, o PMDB é o principal prejudicado", avalia o filósofo Marcos Nobre, professor da Unicamp.
Para ele, esse plano hegemônico de poder é mal visto pelos peemedebistas. Segundo Nobre, a preocupação do PMDB é definhar, caso o PT ganhe mais força no cenário regional o que tiraria o principal espaço político dos peemedebistas: as cidades e os estados. Além disso, a estratégia petista ainda pode enfraquecer o PMDB no Congresso. Isso porque candidatos fortes para os governos estaduais costumam "puxar" bancadas expressivas no Congresso; e a tendência petista seria aumentar sua presença no Parlamento.
A situação é ainda mais preocupante para os peemedebistas porque há semelhanças no eleitorado do PMDB e do PT. "De 2006 em diante, os dois partidos têm como alvo um eleitor muito parecido. O PT começou a desfalcar o público cativo do PMDB, aquele que não tem tantas marcas ideológicas, mas sociais. Os peemedebistas viram que o PT tem candidato a presidente e que começou a crescer nas lideranças regionais, reduto anteriormente dominado pelo PMDB", diz Rudá Ricci, cientista social.
Porém, a capilaridade do PMDB que tem o maior número de prefeitos e vereadores do país, além da maior bancada no Senado e o segundo maior número de deputados federais, perdendo apenas para o PT pode levar os dois partidos a selar a paz. "Não se governa sem o partido majoritário; é essa sigla que dá as cartas. Para manter essa força aliada, os governos se vergam à maioria", afirma Octaciano Nogueira, cientista político da Universidade de Brasília. Nogueira avalia que o conflito não deverá ter consequências drásticas. "A manutenção de um acordo é positiva para ambos."
"Um sabe que depende do outro", diz Rudá Ricci. "Haverá bravata e chantagem, mas a situação é delicada para ambos. O PMDB não tem força para lançar um candidato nacional [à Presidência] e quer estar no governo. E o PT precisa de apoio para assegurar votações no Congresso."
Ao longo dos anos
Em geral, o PMDB, por ser um partido grande, sempre teve divisões internas. Mas, desde a aliança com o PT durante o governo Lula, o partido apresentava poucas divergências em relação à situação nacional.
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