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São Paulo - Vinte e cinco anos após a redemocratização, a liberdade de expressão é um valor que ainda não está bem estabelecido no Brasil. Censura a jornais e blogs, programas partidários que indicam ingerência nas empresas de mídia e restrições ao conteúdo dos programas de rádio e tevê por causa da disputa eleitoral deste ano são algumas das barreiras para o exercício pleno desse direito fundamental.

Para reverter esse quadro – ou evitar que piore –, a sociedade preci­sa estar sempre alerta. Essa foi uma das observações feitas durante o I Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, realizado em São Paulo na semana passada. "O jornal O Estado de S. Paulo está sob censura há mais de 200 dias e isso acaba vi­­rando uma coisa normal, o que é absurdo. O pior é que a ação que originou isso é da família de um senador que é concessionário de tevê. Isso mostra que a liberdade de ex­­pressão não é um valor intocável no Brasil", observou o filósofo Denis Rosenfield, professor da Univer­sidade Federal do Rio Grande do Sul.

Rosenfield faz referência ao empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sar­ney. Fernando entrou na Justiça pa­­ra evitar que o jornal publicasse material da Polícia Federal sobre ele. Ele desistiu da ação em 19 de dezembro passado, mas O Estado de S. Paulo aguarda um posicionamento do Supremo Tri­bunal Federal (STF) sobre a censura – a intenção é fazer com que a cor­te discuta o caso no mé­­­rito, o que evitará situações se­­melhantes no futuro. Não há previsão de quando o julgamento deve ocorrer.

Para o sociólogo Demétrio Mag­noli, da Universidade de São Paulo (USP), é normal que o STF demore para julgar o caso. "Nas democracias, as cortes constitucionais são len­­tas para tomar decisões. Só são rápidas quando estão sob o controle do Executivo." Para ele, a censura imposta a um jornal por causa dos interesses políticos de uma família é uma situação "anômala". Mas ele criticou o fato de o STF ter derrubado todos os artigos da Lei de Imprensa no ano passado. "Sem a sua substituição, foi aberto um caminho para a censura."

Temores

Magnoli e Rosenfield criticaram as diretrizes do programa federal do PT, aprovado no mês passado pelo partido e que deve basear as ações da pré-candidata Dilma Rousseff. O documento endossa as resoluções aprovadas pela 1.ª Conferência Na­cional das Comunicações (Confecom), entre as quais o maior controle social da mídia. Eles também criticaram o Programa Na­­cional de Direitos Humanos (PNDH-3), decretado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro, que prevê a elaboração "de critérios de acompanhamento editorial a fim de criar um ranking nacional de veículos de comunicação".

O futuro da mídia sob um eventual governo de José Serra (PSDB) não chegou a ser debatido. Quando questionado sobre isso, Magnoli brincou: "Quer dizer que ele é candidato? Estou sabendo disso agora", disse na segunda-feira passada, dias antes do tucano confirmar sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto. Em outra mesa de debate, Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Co­­municação, disse que é preciso ficar atento sempre. "Não devemos ficar achando que esse tipo de intenção é uma característica partidária. Basta lembrar que alguns pontos do PNDH 3 já estavam presentes no plano anterior", uma referência ao PNDH 2, aprovado em 2002, na gestão de Fernando Henrique Cardoso. O documento previa a "fiscalização da programação das emissoras de rádio e televisão, com vistas a assegurar o controle social sobre os meios de comunicação e a penalizar, na forma da lei, as empresas de telecomunicação que veicularem programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos".

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