Em depoimento à CPI do Mensalão, o proprietário da Guaranhuns Empreendimentos, José Carlos Batista, disse que foi usado pelo PT e o PL e agora tem muito medo de terminar como ex-prefeito de São André Celso Daniel, que foi assassinado em 2002. A Guaranhuns recebeu recursos do empresário Marcos Valério e é suspeita de fazer remessas ao exterior, algumas para as Ilhas Cayman. Valério vinculou as operações financeiras da Guaranhuns ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
- Não sou político, mas sinto-me réu político por ter sido usado pelo PT em coligação com o PL, motivo pelo qual estou com medo de acabar num cárcere infecto em regime de solitária ou pior, acabar como o querido prefeito Celso Daniel, torturado cruelmente e em seguida assassinado - afirmou José Carlos.
O empresário disse estranhar o fato de ter sido o único indiciado até agora pela Polícia Federal. Ele foi indiciado por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e crime contra o sistema financeiro.
- Os senhores hão de concordar comigo que existem pessoas muito mais envolvidas, inclusive muito próximas do poder - disse o empresário.
O deputado Fernando Coruja (PPS-SC) perguntou ao depoente quem são os personagens "mais importantes que estão envolvidos no caso" e por que ele disse que tem medo de morrer, mas Batista recusou-se a citar nomes e não disse quem são os responsáveis pelo seu medo.
Invocando o direito de ficar calado garantido por hábeas-corpus, Batista deixou quase todas as perguntas sem resposta ou com explicações pouco convincentes durante o depoimento. O relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), não escondeu a irritação com as sucessivas negativas do depoente e reclamou, desanimado: 'Eu desisto".
Batista demonstrou muito nervosismo e dificuldade de compreensão das perguntas dos parlamentares, caindo em muitas contradições. No início do depoimento, disse ser o único dono da Guaranhuns, depois admitiu ter sócios estrangeiros que deteriam 99% do capital. Apesar da expressiva participação dos sócios, disse que não os conhece, sabendo apenas que são do Uruguai. O empresário se comprometeu a entregar uma autorização para a CPI investigar a empresa Esfort Trading, de sua propriedade no Uruguai.
Em sua exposição inicial, José Carlos Batista leu um texto afirmando que fechou contrato em novembro de 2002 com o empresário Marcos Valério para intermediar a aquisição de certificados de participação em reflorestamento até o montante de R$ 10 milhões. No entanto, disse que esse valor não foi atingido e se negou a revelar quanto lucrou com essas operações.
O presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), deu então um prazo de 15 dias para que Batista providencie documentos esclarecendo a operação de compra e venda dos títulos de reflorestamento negociados com as agências de Valério.
O empresário disse ainda que decidiu se envolver no financiamento das campanhas eleitorais do PT e do PL porque tinha convicção de que o país estava mudando para melhor e quis dar sua colaboração. O dinheiro obtido seria usado para pagamento da dívida de campanha dos dois partidos. Em outro momento, disse que repassou ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, R$ 4 milhões, repassados pela SMP&B, mas não conseguiu explicar a relação entre o contrato firmado com Valério e o dinheiro repassado ao PL.
Ao responder ao deputado Fernando Coruja, Batista reafirmou que não usou os R$ 4 milhões recebidos da empresa SMPB para pagar os títulos comprados para Marcos Valério. Ele disse, mais uma vez, que o dinheiro foi repassado para o Partido Liberal. O deputado estranhou o grande número de cheques de pequeno valor depositados na conta da Guaranhuns para alcançar uma movimentação tão alta. Batista respondeu apenas que, se os valores forem somados, alcançarão os R$ 4 milhões. Ao final do questionamento, Fernando Coruja afirmou:
- Fica claro que o senhor é um laranja. Sua operação não é de investimento, mas de repasse de recursos, provavelmente ilícitos - disse.
Os deputados José Rocha (PFL-BA) e João Correia (PMDB-AC) analisaram os documentos obtidos com a quebra de sigilo da agência de publicidade SMPB para confrontar com as informações dadas por José Carlos Batista nesta terça-feira. Os parlamentares descobriram que o dinheiro repassado pela SMPB para a Guaranhuns totalizou R$ 6.036.742, no lugar dos R$ 4 milhões admitidos pelo depoente.
Apesar de ter dito no início que sua empresa Guaranhuns só tinha uma conta no Sudameris, o depoente foi obrigado a admitir a existência de outras duas no Bradesco, que receberam depósitos da agência do empresário Marcos Valério. O dono da Guaranhuns também admitiu que a conta conjunta mantida com sua mulher teve movimentação de R$ 9 milhões em 2002.
João Correia afirmou que a CPI está diante de uma falsificação, referindo-se ao depoimento. Batista está munido de um hábeas-corpus preventivo concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por isso não pode ser preso. O deputado Moroni Torgan (PFL-CE) considera a situação "ridícula".
- Há provas da fraude - comentou.
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