• Carregando...

Em seu depoimento na sessão conjunto das CPIs do Mensalão e dos Correios, o sócio do empresário Marcos Valério na agência SMP&B Comunicação, o publicitário Cristiano Paz, contou detalhes de sua trajetória profissional e reforçou que não possui conhecimentos nas áreas financeira e administrativa da companhia. Ele defendeu o sócio, acusado de participar do suposto esquema de repasse de recursos para o PT e partidos da base em troca de apoio ao governo, mas chegou a reconhecer que errou ao se afastar das decisões operacionais da agência para se dedicar às áreas de criação e atendimento a contas publicitárias.

- Eu não tinha motivo nenhum para desconfiar de reuniões de Marcos Valério fora da agência e das decisões tomadas por ele em busca de investimentos para a agência. Eu estava, como sempre estive, focado no trabalho criativo e no atendimento aos clientes. Nunca administrei nenhuma empresa de propaganda minha. Talvez isso tenha sido até um erro meu - explicou.

O publicitário citou exemplos de outros profissionais do setor que, segundo ele, confiam a assessores e diretores o controle das contas das empresas para se envolverem apenas com clientes e projetos de campanhas, como Duda Mendonça, Washington Olivetto e Nizan Guanaes.

Cristiano Paz afirmou ainda que desconhecia os projetos políticos do ex-sócio Clésio Andrade (PL), quando este se juntou à agência em 1996 com 50% de participação a convite de Valério, então consultor do mercado financeiro. Em depoimento, o publicitário afirmou que à época a agência enfrentava dificuldades financeiras a ponto de os juros sobre dívidas terem tornado a SMP&B "inoperável". Foi então, segundo Paz, que Clésio e Valério assumiram o controle administrativo da agência.

Clésio integrou a chapa da campanha de reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) como vice-governador em 1998. O nome de Clésio está entre os citados de beneficiários de repasses feitos ao PSDB durante a campanha de Azeredo, segundo Valério.

Cristiano Paz contou o que levou os sócios da empresa SMP&B a assinar o pedido de empréstimo feito ao Banco Rural em benefício do PT.

- Marcos Valério fez uma reunião e colocou a importância de se aproximar e ter um bom relacionamento com o partido.

Valério teria dito que todas as agências tinham a preocupação de estar próximo do governo e que ele queria se aproximar. Foi feito um pedido de empréstimo e Valério, então, consultou os outros sócios.

- Eu assinei em confiança porque achei que deveria assinar - disse.

O relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio quis saber se havia pressão por parte do Banco Rural pelo não pagamento do empréstimo.

- Eu não tinha ligações diretas com esse assunto do banco. As reuniões que eu tinha no banco eram da minha área. Mas eu sei que o banco tinha estas preocupações.

Sobre como foram feitas as negociações, Paz disse que não participou desta etapa, restrita a Valério, aos advogados e aos representantes do banco.

Cristiano Paz negou ainda que tenha conhecimento de negócios ou repasses feitos pela agência a empresas suspeitas de lavagem de dinheiro citadas por Serraglio. Entre elas estão a Guaranhuns Empreendimentos, Link Traiding, Athenas Traiding e RS Empreendimentos que, segundo a investigação dos integrantes da CPI, enviaram ao exterior mais de R$ 8 milhões recebidos de Valério.

- Tomei conhecimento dessa Guaranhuns, que tinha terrenos sem nada e tudo mais, pela imprensa. Fui ao departamento financeiro da agência para saber da associação da empresa com a agência e me disseram que este assunto era relativo ao recurso pago a terceiros da conta de empréstimos ao PT - afirmou.

O empresário, no entanto, reconheceu que assinava "pilhas de cheques" que eram colocados em sua mesa semanalmente e que questionava Valério sobre o objetivo dos cheques.

- Nunca fui participado dos destinos dos recursos desta conta com o PT. Eu lembro que muitas pilhas de cheques chegavam à minha mesa e eu ficava até assustado. Eu assinava em confiança. Valério afirmava que estava tudo certo na área financeira. Mas nestes cheques não tinha nomes de deputados. Eram nominais a empresas ou ao portador, mas não me lembro de ter assinado nenhum cheque com nome de deputado - reafirmou.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]