Dois milhões de reais. Essa era a quantia final que um suposto emissário do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), teria oferecido ao jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, em troca de "uma ajuda" ao governador. O site G1 teve acesso ao depoimento prestado por Sombra aos agentes da Polícia Federal no qual ele detalha o "pacote de serviços" que teria sido encomendado por Arruda.
No depoimento prestado nesta quinta-feira (4), o jornalista conta que foi procurado no começo de janeiro pelo deputado distrital Geraldo Naves (DEM), com o recado de Arruda: "O governador quer saber se você pode ajudá-lo pois ele tem certeza que o Durval fez tudo isso a mando do velho." Sombra explica no depoimento que "velho" seria o termo utilizado por Naves para identificar o ex-governador Joaquim Roriz.
O jornalista é uma das principais peças do quebra-cabeça da Operação Caixa de Pandora, que desmantelou o esquema de corrupção no Distrito Federal em novembro de 2009. Teria sido ele o responsável por convencer o ex-secretário de Relações Institucionais e pivô do escândalo, Durval Barbosa, a delatar o esquema à polícia.
O mensalão do DEM de Brasília envolve o suposto pagamento de propina ao governador José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), ao vice-governador, Paulo Octávio (DEM), deputados distritais, empresários e integrantes do governo.
Segundo o depoimento de Sombra à PF, Naves teria dito ao jornalista que o governador queria que ele prestasse serviço "de forma a atrapalhar a investigação da Operação Caixa de Pandora, arranjar fitas que tivessem Valério Neves, ex-chefe de gabinete da Casa Civil do ex-governador Joaquim Roriz (PSC), recebendo dinheiro de Durval Barbosa, e fitas do próprio Roriz".
O emissário de Arruda, ainda segundo o depoimento de Sombra, também queria "conseguir documentos da investigação da PF que pudessem ajudar na defesa de Arruda no inquérito que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e fitas que ainda não tivessem sido divulgadas sobre o caso e que, em tese, estariam na posse de Durval ou do próprio Sombra".
R$ 2 milhões e bilhete de Arruda
No encontro, ocorrido na casa do próprio jornalista, Naves teria dito que, "para a operação, havia R$ 2 milhões disponíveis". Segundo Sombra, o valor teria subido para R$ 3 milhões e depois firmado em R$ 1 milhão.
Sombra disse aos agentes da PF que "questionou se Naves falava em nome do próprio governador e pediu provas disso". Para mostrar que negociava em nome de Arruda, no dia seguinte, Naves teria apresentado um bilhete escrito supostamente pelo governador. "Naves afirmou que Arruda era autor do mesmo", disse Sombra no depoimento. Informação que foi confirmada pelo deputado.
Outros interlocutores
As negociações com Naves teriam começado no dia 6 de janeiro. Por não ter intimidade com o deputado distrital, Sombra relata que acabou trocando de interlocutor para tratar com Arruda. "O interlocutor foi trocado, em comum acordo, pelo secretário de Comunicação do GDF, Wellington Moraes, com os mesmos objetivos trazidos por Naves", disse à PF o jornalista. Com a entrada de Moraes na negociação, Sombra diz ter passado a falar diretamente com Arruda a partir do celular do secretário de Comunicação.
Dias depois, no entanto, Sombra conta no depoimento que foi procurado pelo conselheiro do Metrô do Distrito Federal, Antonio Bento Silva, "levando a entender que mais uma vez o interlocutor teria sido trocado".
Carta
Bento teria apresentado pela primeira vez a versão da carta que Sombra assinaria para dizer que os vídeos do mensalão do DEM de Brasília teriam sido editados de modo a prejudicar Arruda. As negociações com Sombra chegaram ao fim nesta quinta-feira (4), quando Bento foi preso em flagrante ao entregar a primeira parcela do dinheiro que teria sido oferecida pelo governador a Sombra.
Sobrinho de Arruda
Em seu depoimento à PF, Antonio Bento da Silva afirma que a negociação do suposto suborno foi feita com Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário particular de Arruda. Antonio Bento diz que se encontrou nos últimos 15 dias por cerca de seis vezes com Rodrigo e negociou o pagamento de R$ 1 milhão a Sombra em cinco parcelas de R$ 200 mil.
No depoimento, ele afirma que não chegou a tratar com Arruda e que Rodrigo foi sempre o intermediário e falaria em nome do governador. Antonio Bento diz ter recebido os R$ 200 mil com os quais foi preso nas imediações de uma churrascaria. O dinheiro foi entregue, segundo o depoimento, por um emissário de Rodrigo. Antes da entrega, ainda na quarta, Antonio Bento disse ter estado com o sobrinho do governador na residência oficial do GDF, em Águas Claras.
Bento diz ter intermediado junto a Sombra para que este desse um depoimento à PF afirmando que as denúncias sobre o mensalão do DEM eram "criadas" por Durval Barbosa.
Outro lado
A assessoria do governo do Distrito Federal afirma que os depoimentos reforçam a suspeita de "armação". É negado que o governador tenha mandado qualquer emissário até Sombra para negociar um possível suborno. A defesa do governador afirma que a data que aparece nos vídeos não confere com a denúncia de tentativa de suborno.
A assessoria disse ser possível que Antonio Bento tenha tido alguns encontros com o sobrinho de Arruda. Isso, no entanto, seria normal porque Rodrigo Arantes é responsável por atender as pessoas que procuram o governador. Segundo o GDF, Antonio Bento procurou Rodrigo para que este intermediasse um encontro de Sombra com Arruda. O pedido teria sido negado.
O deputado distrital Geraldo Naves disse ao G1 que "nega veemente" ter feito qualquer proposta de suborno a Sombra. "Nunca fui portador de qualquer proposta deste tipo".
O secretário de comunicação do DF, Wellington Moraes, também negou ao G1 ter participado de qualquer negociação sobre o tema.
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