
Articulador da primeira derrota do governo Dilma Rousseff no Senado, o paranaense Roberto Requião (PMDB) afirmou ontem que trabalhou apenas para proteger a presidente. Na quarta-feira, os senadores rejeitaram, por 36 votos a 31, recondução de Bernardo Figueiredo para a diretoria-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A campanha contra a indicação do Poder Executivo foi liderada pelo paranaense e ganhou a adesão de peemedebistas e membros de outros partidos da base aliada descontentes com o Planalto.
"A Dilma goste ou não, eu sou o anjo da guarda dela", disse Requião. Em 2010, quando era governador do Paraná, ele acusou Figueiredo e o então ministro do Planejamento Paulo Bernardo de proporem, em 2007, o suposto superfaturamento de um ramal da Ferroeste, entre os municípios de Ipiranga e Guarapuava. Na ocasião, Figueiredo era assessor da Casa Civil do governo federal. Atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo processou Requião e foi indenizado pela Justiça em R$ 40 mil por causa da denúncia, que não foi comprovada.
Convencimento
Requião argumentou que o resultado da votação não foi definido por uma "rebelião" dos aliados. "É uma bobagem imaginar que isso tenha sido produto de uma revolta fisiológica. É evidente que alguns fisiológicos devem ter se acrescentado. Mas horrível mesmo é que gente séria tenha votado a favor do Bernardo Figueiredo."
Apesar de a votação ter sido secreta, Requião acredita que a maioria dos votos foi conquistada graças a um trabalho de convencimento feito por ele junto aos colegas. Segundo o paranaense, Figueiredo não é habilitado para o cargo porque está ligado aos interesses da iniciativa privada e que isso entraria em conflito com o papel da agência. "Fiquei insistentemente mostrando isso, que era impossível que o modelador da privatização [das ferrovias] fosse o fiscal dela." Com a recusa do Senado, o governo precisará indicar um novo nome para apreciação.
De acordo com o paranaense, as manifestações de descontentamento entre os senadores peemedebistas estão ligadas ao comportamento da direção da legenda e não à relação com o governo. "No Senado, nunca ouvi falar em rebelião. O pessoal está protestando contra os caciques, que tomam decisões pouco democráticas."
Nesse aspecto, ele diz que concorda com os colegas. "Ninguém discute nada e os parlamentares são levados a votar no cabresto." De acordo com Requião, a solução para o conflito é abrir as discussões internas para que todos "tenham consciência do que estão votando".
Sobre o futuro da relação com o governo, ele não prevê novos embates com as posições do governo. "É uma tomada de consciência, que sinalizou uma mudança de posição. O governo precisa tomar mais atenção com o que manda, porque nós prestaremos atenção."
Requião aproveitou ainda para elogiar a queda na taxa básica de juros (Selic), de 10,5% para 9,75% ao ano, anunciada pelo Banco Central também na quarta-feira. "Estou hoje satisfeitíssimo com a redução da taxa de juros. Só tenho medo que talvez tenha ocorrido tarde demais."
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