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Os ataques realizados contra bases policiais paulistas foram atos de terrorismo, praticados por bandidos. Esta é a avaliação de especialistas sobre a onda de atentados que matou 25 pessoas em São Paulo - 23 policiais militares, civis e guardas municipais e dois cidadãos comuns. Cinco criminosos também morreram em confronto. Para o governo de São Paulo, os ataques foram uma reação à transferência de 765 presos, considerados perigosos ou líderes de facções criminosas que atuam no estado.

- A violência foi contra inocentes. Os policiais mortos não tinham vinculação direta com a repressão ou a disciplina imposta a presos. É gravíssimo o que enfrentamos hoje - afirmou José Gregori, presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos.

Para o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública, os ataques mostram que a criminalidade mudou de patamar. Para o antropólogo, a forma como os ataques aconteceram mostram um poder de coordenação, integração e gestão de nível superior.

- Foi um ataque terrorista voltado contra o estado e seus representantes. Isso é extraordinariamente grave. Não estamos mais no campo da criminalidade tradicional, onde criminosos agem aqui e ali de forma escusa. Temos uma ação articulada, organizada. Houve planejamento e foram definidos alvos específicos - disse Eduardo Soares.

Gregori, que foi ministro da Justiça na gestão de Fernando Henrique Cardoso, afirmou que essa nova etapa do crime organizado surgiu há sete anos, com o narcotráfico criando facções que funcionam como corporações, com chefes, subchefes e agentes. Para ele, essa hierarquia, que conta com a conivência de quem está fora da prisão, abriu um capítulo novo da História da criminalidade do país, com uma verdadeira guerra contra o Estado brasileiro.

- As autoridades não podem capitular diante disto - afirmou o ex-ministro.

Especialistas criticam também a falta de articulação entre a polícia civil e militar e a morosidade da Justiça, que deixa uma sensação de impunidade. Eles avaliam que São Paulo deveria ter pelo menos 200 policiais especializados em fazer escuta de facções criminosas, monitorando os presos.

São Paulo, que abriga cerca de 140 mil presos em mais de 40 presídios, precisaria de pelo menos 200 policiais civis especializados no monitoramento de criminosos presos, especialmente dos líderes das facções criminosas, avalia o ex-secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, o coronel reformado da Polícia Militar José Vicente da Silva.

Para ele, a inexistência de um serviço eficiente de inteligência nos presídios, a falta de ações coordenadas e permanentes das polícias civil e militar com os órgãos da administração penitenciária e leis que facilitam a articulação de criminosos presos são as principais deficiências dos sistemas de segurança pública no país. Tudo isso, permite ações coordenadas de organizações criminosas como a desencadeada em São Paulo.

As autoridades que estavam fazendo a transferência de 765 presos para o presídio de Presidente Venceslau, a 609 quilômetros da capital, não poderiam ter sido surpreendidas pelos ataques de facções criminosas, diz o presidente do Instituto Giovanni Falconi de Ciências criminais, Walter Maierovitch, ex-secretário nacional anti-drogas.

- Não podia haver esse tipo de surpresa, feito com métodos terroristas - disse Maierovitch, acrescentando que a ação mostrou como o estado está despreparado para lidar com esse tipo de questão.

O ex-secretário de Segurança Pública Eduardo Muylaert afirmou que a sensação de impunidade, com a morosidade da Justiça, está por trás dos ataques às instituições e das rebeliões nos presídios do estado. Para ele, a crise atual é grave e é preciso mudanças profundas para modificar a atual realidade.

- A crise atual é extremamente grave. É o maior ataque ao estado e ao poder constituído de que se tem notícia - disse Muylaert.

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