Duzentas mil mulheres correm o risco de engravidar por uma falha na quantidade de hormônio do anticoncepcionalContracep. O Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo (CVS) decidiu nesta quinta-feira proibir a venda e o uso de três lotes do medicamento, fabricado pela EMS-Sigma Pharma. A Secretaria Estadual de Saúde comunicou o fato à Anvisa.
O contraceptivo injetável, de aplicação trimestral, é distribuído gratuitamente para as mulheres na rede pública em todo o estado de São Paulo.
Análises feitas pelo Instituto Adolfo Lutz, órgão da Secretaria Estadual de Saúde, apontaram que ampolas dos lotes 080501-1, 080496-1 e 087359-1 do produto contêm menor quantidade hormonal do que o previsto. Na prática, isso coloca em risco a eficácia do medicamento na prevenção da gravidez.
- Fazemos uma análise de rotina dos anticoncepcionais que são distribuídos na rede pública de São Paulo. Pegamos amostra dos três lotes que a secretaria colocou à disposição dos municípios. Na análise, constatamos que tinha menos princípio ativo na injeção. Algo em torno de 10% a menos da quantidade de hormônio - explica Tânia Lago, coordenadora do programa de Saúde da Mulher da secretaria.
Tânia sugere que os serviços de saúde que prescreveram injeções desses lotes convoquem as mulheres.
- Quem tomou a injeção há mais de quatro semanas deve fazer um teste de gravidez e usar preservativo nas relações sexuais - orienta Tânia.
Mulheres que receberam o Contracep há menos de quatro semanas devem usar um outro anticoncepcional.
- Os três lotes totalizaram 200 mil doses, desde junho, segundo informações da empresa. Destas 200 mil, o governo comprou 57 mil - diz a coordenadora.
O professor de ginecologia da Faculdade de Medicina do ABC César Eduardo Fernandes diz que a perda da eficácia existe, com a diminuição de hormônio.
- O risco de engravidar aumenta se for a primeira vez que a paciente usou a injeção. É prudente procurar um médico, mesmo quem já faz uso há mais tempo - aconselha.
EMS promete recolher Contracep
A EMS, fabricante do Contracep, informou, por meio de nota, que vai recolher os lotes 080501-1, 080496-1 e 087359-1 do produto. "A empresa está disponibilizando um atendimento específico de SAC para orientação a pacientes usuárias do medicamento", diz nota da EMS. O telefone 0800-7076684 funcionará de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
A empresa não forneceu mais detalhes e informou que "tomará todas as medidas cabíveis para a solução do caso.Pílula de farinha foi escândalo em 1998
Em junho de 1998, três mulheres da região de Mauá, no ABC, descobriram que ficaram grávidas mesmo tomando o contraceptivo Microvlar. A primeira a descobrir foi a dona-de-casa Maria Aparecida Gonçalves, 37 anos. Com a divulgação da história, na época, o laboratório Schering do Brasil (hoje Bayer Schering Pharma) admitiu ter produzido pílulas de placebo (sem princípio ativo) para testes de novas embalagens. A empresa alegou que as pílulas foram encaminhadas para incineração, mas unidades teriam sido furtadas e colocadas no mercado.
O caso ficou conhecido como o escândalo das "pílulas de farinha". Outras consumidoras (pelo menos 30) que engravidaram entraram na Justiça. A empresa chegou a ser interditada para inspeção do Ministério da Saúde.
Nas várias ações abertas na Justiça contra o laboratório, algumas decisões determinaram pagamento de despesas como pré-natal, partos, pensão, acompanhamento médico gratuito, entre outras despesas, mas ainda caberia recurso, por se tratar de primeira instância.
A empresa chegou a recorrer das decisões judiciais.
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