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Ministro Cezar Peluso, presidente do STF: recursos relacionados ao Ficha Limpa  são  prioridade para o primeiro semestre | Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Ministro Cezar Peluso, presidente do STF: recursos relacionados ao Ficha Limpa são prioridade para o primeiro semestre| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Voto decisivo

Novo ministro deverá ser indicado por Dilma em fevereiro

O 11º ministro do STF deve ser indicado pela presidente Dilma Rousseff em fevereiro, quando poderá ser sabatinado pelo Senado. O favorito para a vaga é o atual ministro da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Lucena Adams. Ele teria sido escolhido graças a um consenso entre o ex-presidente Lula e Dilma.

Adams será decisivo para o futuro da Ficha Limpa. Como advogado-geral, ele já se posicionou favorável à aplicação da lei nas eleições de 2010. Agora, no entanto, o voto dele deve desempatar o caso.

No ano passado, o plenário do STF julgou a validade da Ficha Limpa em dois processos. No primeiro, houve empate em cinco a cinco na ação movida pelo candidato a governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PSC), considerado inelegível porque renunciou à vaga de senador para fugir da cassação em 2007. Após o empate, ele renunciou à candidatura e a ação foi extinta.

Depois, aconteceu um novo empate em cinco a cinco na ação movida pelo candidato a senador pelo Pará, Jader Barbalho (PMDB). A corte decidiu seguir a sentença do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e barrar a candidatura do peemedebista. Como não houve maioria, porém, a sentença não serve como jurisprudência para outros casos – há outros 15 recursos extraordinários contra a Ficha Limpa aguardando julgamento no Supremo.

Temas difíceis

Seis processos complexos são prioridades no Supremo em 2011:

Ficha Limpa

Pelo menos 15 processos referentes à validade da lei da Ficha Limpa esperam julgamento no Supremo. No ano passado, o STF realizou dois julgamentos sobre a aplicação das regras na eleição de 2010. Ambos acabaram empatados em cinco votos a cinco. A decisão final, que possivelmente servirá de jurisprudência para outros casos, deve ficar nas mãos do ministro escolhido para substituir Eros Grau, aposentando em agosto.

Battisti

Após determinar que a decisão sobre a extradição do ex-terrorista italiano Cesare Battisti caberia ao então presidente Lula, o STF volta a analisar a questão. Os ministros vão avaliar se a decisão de Lula de não extraditar o italiano se encaixa nos termos do tratado bilateral de extradição entre Brasil e Itália. O presidente do Supremo, Cezar Peluso, declarou que, se os ministros entenderem que o embasamento não está coerente com acordo, Battisti será extraditado.

Parto de anencéfalos

Uma ação movida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde defende a descriminalização da antecipação do parto em caso de gravidez de feto anencéfalo (sem cérebro). A entidade diz que a regra atual ofende a dignidade humana da mãe, por ela ser obrigada a gestar um feto que não sobreviverá depois do parto. O caso mobiliza setores religiosos e a comunidade científica. O processo, de 2004, tem como relator o ministro Marco Aurélio Mello.

Poder de investigação do MP

Um habeas corpus da defesa de Sérgio Gomes da Silva (conhecido como o Sombra) questiona o poder de investigação do Ministério Público (MP). Silva é acusado de ser o mandante do assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel. O voto do relator, Marco Aurélio Mello, defende que o MP não tem poder de investigação. A votação está empatada em um a um e foi suspensa, em 2007, por um pedido de vista do atual presidente Cezar Peluso.

Quilombolas

Uma ação movida pelo DEM em 2003 contesta um decreto que regulamenta a propriedade de terra dos descendentes de escravos que viviam em quilombos no Brasil, os quilombolas. A decisão atingirá 3 mil comunidades quilombolas espalhadas pelo Brasil. O relator da matéria é o ministro Cezar Peluso.

Cotas

Duas ações questionam a constitucionalidade da reserva de vagas em universidades públicas a partir de critérios raciais. Uma delas é movida pelo DEM contra a Universidade de Brasília (UnB). A outra é movida por um estudante que se sentiu prejudicado pelo sistema de cotas adotado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Polêmicas pendentes de 2010 vão marcar a volta ao trabalho do Supremo Tribunal Federal (STF), em fevereiro. Na pauta "requentada", estão as decisões finais sobre a extradição do italiano Cesare Battisti e a validade da lei da Ficha Limpa. Outro problema que permanece, mesmo com a virada de ano e a troca de governo, é o preenchimento da vaga aberta com a aposentadoria de Eros Grau, em agosto.

O atual recesso, no entanto, tem servido para esfriar os conflitos entre os ministros. No último semestre, a corte rachou em duas votações seguidas sobre os limites da Ficha Limpa. A decisão de que a norma seria válida para as eleições de 2010 foi paliativa e seguiu a sentença da instância imediatamente inferior, no caso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"É inegável que o STF não está em um bom momento", avalia o ex-presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil e membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Marcelo Lavenère. "Assistimos entristecidos ao nível da discussão sobre a Ficha Limpa, algo excessivamente apaixonado. A sociedade espera por mais gestos de conciliação."

Ao final das sessões de 2010, o presidente da corte, Cezar Peluso, declarou que os julgamentos dos recursos extraordinários relacionados à Ficha Limpa terão prioridade neste semestre. Ele lembrou que os ministros decidiram apenas sobre "uma alínea de um artigo da lei", referindo-se ao caso do candidato ao Senado Jader Barbalho (PMDB-PA), considerado inelegível por ter renunciado ao mandato para escapar da cassação. Na época, Peluso também citou como prioridade o julgamento da ação direta de incons­­titucionalidade (ADI) que trata da ocupação de terras por remanescentes dos quilombolas.

No início da semana que passou, durante entrevista coletiva no Rio de Janeiro, Peluso acrescentou à lista o caso Battisti e previu um desfecho no próximo mês, provavelmente em "uma única sessão". O pedido da Itália para a extradição do ex-terrorista foi negado pelo ex-presidente Lula no último dia de seu mandato. Peluso afirmou que o STF dará a palavra final sobre o tema com base na análise das razões apresentadas por Lula para permitir que o Battisti continuasse no país, dentro dos termos do tratado bilateral sobre extradições entre Brasil e Itália (leia mais sobre o caso Battisti nas páginas 20 e 21).

Antes, um acórdão do STF determinou que caberia ao presidente decidir sobre o caso, a partir das regras do tratado. Ele negou que o tribunal tenha se omitido de responsabilidade e que há chance de a decisão de Lula ser revertida. "Se o STF decidir que [a negação da extradição] não está nos termos do tratado, ele vai ter de ser extraditado."

União homossexual

Outro caso previsto para fevereiro é o julgamento de uma arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) que trata da legalidade da união civil entre homossexuais. O relator do processo, Carlos Ayres Britto, declarou nesta semana que está terminando seu voto. A ação foi proposta em 2008 pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e solicita ao STF a extensão dos direitos jurídicos das uniões estáveis às uniões homoafetivas para funcionários públicos civis do estado.

"É uma decisão importantíssima para a unificação das decisões da Justiça", diz o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bisse­­xuais,Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis. A entidade integra o processo como "amiga da corte" da procuradoria do Rio de Janeiro. Várias instâncias judiciais inferiores já validaram a união homoafetiva, o que permite, entre outras coisas, direito à herança e pensão.

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